Cassia
Eller ao Vivo
Sesc Taubaté
19/11/99
por
Marcelo Silva Costa
A versão 99 de Cassia, domesticada
pela mídia, domada pela indústria, produzida para vender
(por um vendido), não ataca, não assusta, não impressiona
e não emociona. Pouco lembra aquela Cassia Eller que surgiu balizada
numa versão pessoal de "Por Enquanto" da Legião Urbana.
Além disso, esse primeiro disco
era também uma carta de intenções, ora na versão
para "Rubens" do Premeditando o Breque, ora nas covers bem sacadas e pouco
convencionais. Depois vieram um segundo disco radical e um belíssimo
(e até hoje o melhor) terceiro disco, com canções
as mais variadas possíveis (rocks, sambas, blues) e um instrumental
de qualidade.
Um tributo à Cazuza surgido
entre dois registros ao vivo (muito bons) e aí chegamos no péssimo
disco novo "Com você meu mundo ficaria completo". Produzido
por Nando Reis dos Titãs (ahhhh), "Com você..." é aquele
tipo de música que incomoda justamente por não incomodar.
É tão bem produzidinho
que parece que vai quebrar de tão delicado. O instrumental parece
de brinquedo, não há peso, não há energia.
É tudo calculado. E tudo isso é passado nos mínimos
detalhes para o show. A apresentação em Taubaté sepultou
aquela cantora de voz grave e trouxe a tona algo estranho. Ela ainda mantém
sua persona vigorosa que parece não estar a vontade com a nova roupa
que lhe arranjaram mas mesmo assim o show foi burocrático, chato,
de dar sono.
Foi inteiramente ruim ? Não.
Em pelo menos três momentos houve brilho: Em "Woman the nigger of
the world"de Lennon e Yoko (gritada como deve ser, afinal é uma
letra e tanto), em "Come Together" (novamente Beatles, dessa vez levada
quase que inteira no riff de guitarra), e em "Malandragem" de Cazuza e
Frejat ( a melhor letra que Cazuza escreveu e que, ironicamente, não
gravou).
Esses três momentos esbanjaram
carisma. Mas o fim do show com "Smells like a teen spirit" do Nirvana foi
de rir. Por duas coisas totalmente antagônicas: numa, algumas garotas
levavam as mãos aos ouvidos tentar não ouvir a barulheira
(que estava muito, mas muitos decibeis abaixo da que o próprio Nirvana
protagonizou em São Paulo anos atrás) e isso me pareceu extremamente
engraçado, afinal elas estavam ali para ver alguém que admiravam
(ou pelo menos parecia). Na outra, o próprio pessoal da banda parecia
extremamente desengonçado ao tentar reproduzir clichês e "pular"
e "pogar" no palco. Extremamente ridículo.
Cassia Eller não é mais
Cassia Eller. É só apenas mais uma qualquer entre tantas
qualquer. Quanto tempo ela vai agüentar nessa persona é uma
dúvida. Talvez dependa do quanto $ essa persona render a ela e a
indústria... |