'Vida Real' - Autoramas
por
Leonardo Vinhas
2001
Gabriel Thomaz é um compositor de talento que conhece
bem as mazelas do showbiz. Foi membro do Little Quail And The
Mad Birds, banda que quase estourou na metade da década
passada, mas foi atrapalhada por questões comezinhas
como empresários acomodados, gravadoras preguiçosas
e um nome de batismo bacana porém de difícil memorização.
Ciente dessas falhas, montou o Autoramas junto com a baixista
Simone do Vale (ex-Dash) e o baterista Bacalhau (ex-Planet Hemp)
disposto a não repetir os erros.
O
álbum de estréia, Stress, Depressão
e Síndrome do Pânico, foi lançado no
ano passado e trazia letras amargas em melodias que cruzavam
rock de garagem e Jovem Guarda, com baixos distorcidos e guitarras
limpas. Em agosto desse ano, desovaram a segunda cria, intitulada
Vida Real, onde azeitaram melhor essa receita e cometeram
um discão, gravado em apenas três dias de estúdio.
Qual é o problema, então?
O
problema é que entre as 14 faixas do disco estão
seis regravações, três delas de canções
compostas pelo próprio Gabriel. Assim, Autodestruição
e Carinha Triste, mini-sucessos do disco anterior, aparecem
aqui em versões "ao vivo em estúdio" que nada
acrescentam às originais. O mesmo aconteceu com Aquela,
clássico do Little Quail que emula a gravação
que os Raimundos fizeram para essa mesma canção
(no disco Só no Forévis). Ou seja, "coverizaram"
uma cover!
Não
bastassem essas três, Você Não Soube Me
Amar ganha versão "pop indie". OK, Gabriel é
uma enciclopédia viva de rock brasileiro e provavelmente
ama a Blitz, mas - puxa vida! - já que era para "recuperar"
um sucesso da "niuêive", que fosse Humanos do Tokyo,
ou qualquer similar. Mas "OK, você venceu, batata frita"?
É...
É
isso que deixa um sabor chato ao final de uma audição
completa de Vida Real. Contudo, nada que o sabor romântico
de Copersucar ou a declaração de intenções
de A História da Vida de Cada Um ("eu só
queria conhecer / a história da vida de cada um / e a
minha eu também poder contar"), não apaguem rapidinho.
Afinal, como já foi dito em outras palavras nessa resenha:
a banda se superou nas oito composições próprias
do álbum. E mandou bem em duas pedradas (inéditas)
de outrem: o crossover hardcore/garagem Mais ou Menos
e a frenética Rio - São Paulo.
Se
ainda não ficou claro, que se repita: o disco é
excelente e a banda merece os louros por realizar um disco de
rock'n'roll pesado e com senso pop, à altura de suas
apresentações o vivo. O senão fica por
conta da triste preguiça ilustrada por comôdas
e desnecessárias regravações.
Links
Site Oficial do Autoramas
|