Abril Pró
Rock 10 anos - Recife
Cobertura
Especial
por
Tathianna Nunes e Viviane Menezes
Fotos
de Thiago Marinho
TERCEIRO
DIA
E chegou o último dia do festival.
O Domingo (21/04), dia voltado para as grandes atrações internacionais,
com a presença dos ingleses do Charlatans e do norte-americano
Stephen
Malkmus (ex-Pavement). Antes das cinco horas, o pavilhão do
Centro de Convenções, Olinda, já estava movimentado,
confirmando que o bom público do domingo, 6 mil pessoas no total.
As bandas pernambucanas Chá
de Zabumba, Mombojó, G.R. Bonsucesso Samba Clube, fizeram o seu
papel, mostraram que a mistura de ritmos ainda não morreu na música
pernambucana e que o movimento mangue não acabou, e sim que se renova
a cada dia. Porém, é sempre bom lembrar que o som do palco
dois não ajudou muito, as bandas foram prejudicadas por isso. Apesar
de todos esses impasses provocados pela péssima qualidade do som,
as atrações do palco 2 não decepcionaram.
Das bandas do palco dos menos famosos,
certamente o Mombojó foi o destaque. O som é bem rico.
O grupo abriu a última noite do festival, levando uma mistura do
maracatú, samba, bossa nova e punk rock. Esses pernambucanos
mostraram um som cheio de energia, e ainda provaram que são bons
músicos. Inteligentemente, eles juntam a guitarra, o violão
e o cavaquinho mostrando que o cenário musical do Recife está
se renovando. Para os curiosos, Mombojó significa: lugar de fazer
"rock com refrão", psicodelia de baixo e guitarra, contornos de
batida eletrônica. Composto por seis integrantes, o grupo é
responsável por um selo independente chamado Lagartixa. Esse selo
faz produções de shows independentes e demos.
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No palco principal o americano Stephen
Malkmus foi a segunda atração da noite. Quem chegou um
pouco mais cedo pode conferir a banda passando o som e ter uma idéia
de como seria a apresentação. Antes de iniciar o show, Malkums
falava nos bastidores de suas expectativas de tocar em um festival como
o Abril por Rock. "É uma apresentação para um festival,
e honestamente não é o melhor lugar para tocar. O som é
muito alto e tem outras coisas que acabam atrapalhando. Minhas expectativas
são legais, mas não tão altas como se estivesse em
um lugar mais fechado, que seria melhor para nós", disse o ex-vocalista
do Pavement. Deixando os problemas de festivais à parte, Stephen
Malkmus acompanhado de sua nova banda, os Jicks, cativou o público
e fez um show bem engraçado e emocionante. Abrindo com "The Hook",
passando por "Jenny & The Ess-dog", "Discretion Groove", e "Church
On White", do seu trabalho solo lançado em 2001, e "Dynamic", "Oyster",
"Grab It", "Chromatic", "Vague", "Folk Prog", inéditas que farão
parte do seu novo trabalho. É claro que não podiam deixar
de tocar algo do Pavement e "In The Mouth A Desert" foi suficiente
para deixar os fãs da extinta banda felizes. Malkmus adiantou que
deve entrar em estúdio em maio e explicou o motivo de tocar mais
músicas inéditas. Segundo ele "o álbum Stephen Malkums
está velho e nós viemos para tocar músicas novas,
vai ser legal". A simpatia e o jeito despreocupado de tocar marcaram a
apresentação do grupo. O baterista John Moen foi um espetáculo
a parte. Mesmo escondido no finalzinho do palco, Moen proporcionava boas
risadas com suas tentativas hilárias de jogar as baquetas e com
seu jeito desengonçado de tentar pegar novamente, que vale ressaltar,
ele muitas vezes deixava cair no chão. Quando trocou de lugar com
a excelente baixista Joanna Bolme, Moen aproveitou para pular com o baixo,
agora, detalhe, a música já tinha acabado e o palco estava
todo escuro. John Moen conquistou o público pernambucano e até
surgiu a idéia de fundar um fã clube especial para o baterista.
A passagem de Stephen Malkmus por Recife foi memorável, principalmente
onde existem pessoas que curtem rock, mas só tem opções
para ir de forró, pagode, funk e de Robson, o anjo.
Depois dos americanos, Bubuska
fez um mini-show. Algumas composições e covers, "Sabiá",
e outros hits nordestinos, embalaram os presentes em um forró. O
Tamboreton, instrumento que mistura música de violão e bateria
eletrônica, foi o diferencial do show de Bubuska.
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O show mais aplaudido da noite foi,
sem dúvida, o do baiano Tom Zé. Esbanjando simpatia
e simplicidade, levantou o público, criticou os nossos governantes
e fez uma apresentação consistente, baseada no seu novo álbum
"Jogos de Armar". Tecnicamente perfeito, com direito a rimas com a platéia,
instrumentos inusitados, ataques aos EUA, Tom Zé realizou um show
com muita sinceridade. No bis, o baiano tocou "Parque Industrial”, música
pedida incessantemente pela platéia que parecia não acreditar
como aquele homem com mais de 60 anos pudesse fazer um show perfeito e
colocar muito jovem no bolso. Acho que a resposta das 6 mil pessoas que
compareceram nesta noite foi forte demais para o coração
desse velho baiano. Após a apresentação, já
no camarim, o cantor começou a passar mal. Ele reclamava de dores
no peito, suava muito e estava pálido. Era o princípio de
um infarto. O compositor foi encaminhado ao hospital e passa bem. Enquanto
isso, no pavilhão do Centro de Convenções, as pessoas
sem saber o que tinha acabado de acontecer, comentavam como há muito
não viam um espetáculo tão grandioso, cheio de irreverência
e de improvisação.
O Chá de Zabumba mostrou
coragem tocando o seu forró pé-de-serra, para um publico
bem indie, que viu o Stephen Malkmus e aguardava o Charlatans. Mas não
é que deu certo. Todos acabaram dançando o "rala bucho",
uns com algum jeitinho e outros sem o melhor talento para a dança
a dois. Mas a diversão foi garantida. A festa foi resumida, mas
muitos "arrastaram o pé" com "Denise", "Martelo", "Promessa" e "Ajuda
Eu".
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A Mundo Livre foi uma das bandas
mais prejudicadas pelo tempo, tocou apenas 30 minutos, porém Fred
Zero Quatro e companhia souberam dar o seu recado. A banda, que é
cria do APR, tocou para um grande público, o maior do festival diga-se
de passagem. Eles relembraram a música "Bolo de Ameixa", que andava
fora do repertório do grupo há algum tempo, além dos
hits do último álbum, "Por Pouco", como o "Mistério
do Samba". Fred ainda ensaiou umas criticas políticas, que deveriam
ter sido substituídas por mais músicas como "Free World"
e "Meu Esquema" que fizeram falta ao show. A Mundo Livre S/A é uma
das últimas bandas do movimento mangue, e com certeza protagonizam
sempre grandes emoções ao público recifense. Depois
da saída traumática da Abril Music, espera-se agora o mais
novo trabalho da banda que deve sair pela Trama.
Não se escutava com clareza
o som da G.R. Bonsucesso Samba Clube, a sétima banda a se
apresentar. Apesar das dificuldades a banda conseguiu fazer um show razoável.
As influências iniciais do Bonsucesso foram o samba e a bossa-nova,
que davam o tom das letras e músicas da banda. Com o passar do tempo,
estas referências foram mudando, cedendo espaço para o experimentalismo
da música eletrônica, o que imprimiu um aspecto mais agressivo
e dançante às músicas do grupo. E, esse experimentalismo
foi base da apresentação da G.R. Bonsucesso Samba Clube no
festival.
Liderados por Tim Burgess, os "senhores"
do Charlatans protagonizaram outro momento marcante da noite. Com um show
tecnicamente perfeito, os britânicos soltaram logo de cara seu mais
novo hit, "Love is The Key", do sétimo álbum "Wonderland".
O público foi pequeno. Depois do show do Mundo Livre S/A muita gente
já havia partido, mas os fãs dos Charlatans não "arredaram"
o pé e contribuíram para o grande show de encerramento da
décima edição do Abril Pro Rock. As duas mil pessoas,
que ainda estavam no Centro de Convenções, pulavam e cantarolavam
o refrão – "Love Is The Key" – de uma forma harmonicamente e empolgante.
Mesmo tocando em grandes festivais e acostumados com público de
50 mil pessoas, os britânicos estavam preparados para tocar para
um público menor. Em uma entrevista depois da passagem de som, o
guitarrista Mark Collins afirmou:"nós estamos animados em tocar
aqui, 10 anos de carreira e nunca viemos ao Brasil ... não nos importamos
em tocar para 500 mil pessoas, 50 mil, 15 pessoas, grande público,
pequeno, não importa, tocaremos mesmo assim". De "Wonderland" eles
ainda tocaram "A Man Needs To Be Told" e "We Are So Pretty". Mas o que
realmente levantou o público foram sucessos como "The Only One I
Known" e "Impossible". O show não poderia ter sido melhor. E nada
melhor como terminar um festival com o público pedindo "bis" e ser
atendido.
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