O mundo
é nosso, mano!
Corinthians
- Mundial 2000
por
Juliano Costa
Por 23 vezes o Estado de São
Paulo foi Corinthians. Por quatro vezes (três Campeonatos Brasileiros
e uma Copa do Brasil), o Brasil foi Corinthians. Após 90 anos de
soberania no futebol estadual e nacional, já era hora de expandir
os horizontes. Hora de difundir, divulgar, espalhar o nome do Corinthians
pelos quatro cantos do planeta. Fazer com que um lorde inglês, um
sheik árabe ou um chefe de tribo aborígene soubesse exatamente
o que é o alvinegro do Parque São Jorge.
Dida, Marcelinho, Edílson,
Vampeta, Rincón e cia. fizeram isso. Muito bem comandados por Oswaldo
de Oliveira, o interino que deu certo, esse time de estrelas colocou uma
quarta estrela dourada no escudo do Corinthians, só que um pouco
maior que as outras três, em alusão às conquistas dos
Brasileiros de 90, 98 e 99.
A DECISÃO:
O jogo entre Vasco e Corinthians lembrou
muito a final entre Brasil e Itália, na Copa do Mundo de 94, nos
Estados Unidos. Isso não só pelo placar, 0 a 0, mas principalmente
pelo equilíbrio entre as duas equipes e as poucas chances claras
de gol criadas por elas.
Se a peça lembrava a final
da Copa de 94, o palco e a platéia remetiam à semifinal do
Campeonato Brasileiro de 76, disputada por Fluminense e Corinthians. Essa
partida, realizada sob uma verdadeira tempestade bíblica , ficou
conhecida como o "jogo da invasão" - 70 mil corintianos saíram
de São Paulo em direção ao Rio para apoiar a equipe
-
146.043 pagantes (o maior público
pagante em um jogo do Corinthians na história) viram o empate em
1 a 1, que levou a decisão para os pênaltis, quando o Timão
acabou levando a melhor.
Contra o Vasco, a invasão foi
um pouco menor: "apenas" 25 mil, segundo a organização do
torneio. Mas se 200 mil ingressos fossem destinados aos corintianos, com
certeza seriam todos vendidos. Aliás, se fosse meio milhão
de ingressos, seria bem capaz que esses também fossem todos vendidos
a uma platéia alvinegra. E, em se tratando de Corinthians, não
seria um absurdo pensar que, se houvesse um teatro, ou melhor, um estádio
com capacidade para um milhão de espectadores, este poderia perfeitamente
ser inundado por completo por fiéis corintianos (aqui, um pleonasmo).
Mas se o cenário era propício
a uma apresentação de gala, os atores ficaram devendo. Isso
devido a um tanto pelo nervosismo diante dos holofotes, outro pela atitude
dos diretores Oswaldo de Oliveira e Antônio Lopes de prender mais
seus elencos, impedindo-os de improvisar. Os que mais bem decoraram suas
falas foram os goleiros Dida e Hélton, que,
com defesas importantes, brilharam
como se estivessem em monólogos no Theatro Municipal.
As poucas chances de gol arrancavam
aplausos entusiasmados da platéia - na verdade, eram urros de tensão
mesmo. A primeira chance de gol foi de Luizão, aos 14 minutos do
primeiro ato, ou melhor, do primeiro tempo. Ele recebeu de Edílson,
dominou no peito e chutou. A bola bateu em Paulo Miranda e passou por cima
do gol de Hélton. A resposta vascaína veio quatro minutos
depois, com o próprio Paulo Miranda. O lateral recebeu de Juninho
Pernambucano, avançou pela direita e chutou, mas a bola saiu na
rede pelo lado de fora.
No segundo ato, ou melhor, no segundo
tempo, Ricardinho, lesionado desde a partida contra o Al-Nasser, deu lugar
ao volante Edu. A mudança no elenco serviu para congestionar ainda
mais o meio de campo, embaralhando ações dos protagonistas
de ambos os lados, como Marcelinho e Romário, por exemplo. A melhor
oportunidade de gol foi justamente de Marcelinho, cobrando escanteio. A
bola veio fechada e Hélton teve que se esticar todo para evitar
o gol olímpico.
Com o empate em 0 a 0 nos 90 minutos,
a partida seguiu para a prorrogação. Não era bem um
pedido de bis, mas o prolongamento do espetáculo às vezes
é necessário para uma caracterização mais dramática
a uma epopéia como aquela. Com a entrada de Viola e Donizete nos
lugares de Juninho e Ramón, respectivamente, o Vasco tentava ser
mais ofensivo. A boa atuação dos zagueiros Fábio Luciano
e Adílson, no entanto, anulava todas as iniciativas do ataque cruzmaltino.
E, sem gols, o jogo acabou seguindo
para a decisão por pênaltis, que é quando os canastrões
podem virar heróis e atores consagrados podem cair no ostracismo
do pós-fama. O fato de a decisão ir para os pênaltis
poderia ser tido por alguns críticos como uma “mexicanização”
do dramalhão que já era aquela final. Ledo engano. Um bom
espetáculo é aquele que prende o espectador de todas as formas,
sem se importar se, para isso, terá que usar e abusar de velhos
clichês, como poderiam ser encaradas cobranças de penais.
Nessa hora, o suspense do palco remete
mais aos momentos de tensão de um filme de Hitchcock. A caminhada
do batedor até a bola, a ajeitada com carinho na marca de cal, o
último suspiro antes de tirar a mão da cintura e correr para
a bola, o olhar fixo do goleiro antes de escolher (ou não) um canto
para pular...Tudo contribui para aumentar o suspense e, conseqüentemente,
levar o espectador à inquietação máxima, à
loucura.
O capitão Rincón é
o primeiro: gol; o baixinho Romário toma distância e bate:
gol; Fernando Baiano, estreante em grandes espetáculos, é
o próximo: gol; chega a vez do figurante Alex Oliveira: gol; parte
o competente Luizão: gol; vai então o canastrão Gilberto
e...Dida, o superstar, pega. Falta pouco para o fim da peça. A Fiel
sente isso e se prepara para comemorar. Edu bate: gol; é a hora
de Viola, velho conhecido da platéia corintiana, bater: gol. A última
cobrança é de Marcelinho, o cobrador oficial de pênaltis
do Corinthians. Tudo se encaminha para um final feliz (para os corintianos,
claro). Mas um vilão de nome Hélton rouba a cena. Marcelinho
cobra fraco, não muito no canto, e o goleiro vascaíno defende.
A platéia, ou melhor, a Fiel,
antes empolgada, agora está atônita diante da possibilidade
de um final que não seja o feliz. Bastava o gol de Marcelinho e
o Corinthians seria campeão. Agora, antes da série de cobranças
alternadas, há apenas mais uma chance de o Timão vencer ainda
na primeira série de cobranças: Edmundo, o jogador animal,
tem que perder.
A qualidade técnica de Edmundo
ninguém discute - um craque. Mas como grandes atores também
estão sujeitos a, de repente, escorregar numa casca de banana e
cair no palco, Edmundo errou o pênalti. Bateu forte, para fora, longe,
a metros do gol de Dida. Quase uma cobrança de tiro de meta.
E eis que, quem não estava
afogado em lágrimas com o final do magnífico espetáculo,
ainda pôde testemunhar um ato curioso, desses que dificilmente figuram
numa peça como essa: o herói Dida se levanta e, frio, dá
a mão a Edmundo, para que este erga a cabeça e continue batalhando,
como se um dia ele, Edmundo, pudesse ser a estrela de uma peça cujo
final é feliz para a torcida vascaína. Coisa de tragédia
grega, mas que caiu como uma luva no drama épico corintiano.
TODOS OS JOGOS:
5/1/00 - Corinthians 2 x 0 Raja Casablanca
(MAR) (Luizão e Fábio Luciano)
7/1/00 - Corinthians 2 x 2 Real Madrid
(ESP) (Edílson 2)
10/1/00 - Corinthians 2 x 0 Al-Nasser
(A.S.) (Ricardinho e Rincón)
Final
14/1/00 - Vasco 0 x 0 Corinthians
(Nos pênaltis, Corinthians 4 x 3)
FICHA TÉCNICA DO JOGO DECISIVO
Local: Maracanã, RJ
Data: 14/1/00
Juiz: Dick Jol (Holanda)
VASCO DA GAMA:
Hélton; Paulo Miranda, Odvan,
Mauro Galvão e Gilberto; Amaral, Felipe, (101' A. Oliveira), Juninho
Pernambucano, (95' Viola) e Ramon (110' Donizete); Edmundo e Romário.
Téc: Antônio Lopes
CORINTHIANS:
Dida; Índio, Adílson,
Fábio Luciano e Kléber; Rincón, Vampeta (91' Gilmar),
Marcelinho e Ricardinho (46' Edu); Edílson (112' Fernando Baiano)
e Luizão
Tec: Oswaldo de Oliveira
Pênaltis 4 x 3
CORINTHIANS: Rincón, F. Baiano,
Luizão e Edu fizeram, Marcelinho errou.
VASCO: Romário e Alex Oliveira
fizeram, Gilberto errou, Viola fez e Edmundo chutou pra fora.
Juliano Costa,
20, é torcedor do Santos
Que
mundial é esse?
Corinthians
- Mundial 2000
por
Olacir Júnior
(Os editores gostariam de oferecer
esse texto ao amigo Rodrigues Ribeiro, que já beijou muito o símbolo
do Timão) :)
Meus amigos, minha amigas. Em primeiro
lugar gostaria de agradecer a oportunidade dada pelos editores Alexandre
e Marcelo para escrever no já conceituado zine S & Y.
Meu passe foi adquirido por empréstimo, com opção
de compra no fim do contrato e veio em uma hora muito boa, já que
estava sem clube e disponível no mercado.
Gostaria de começar aqui neste
espaço, falando sobre o tal título mundial, que o Corinthians
venceu em janeiro deste ano. Exaltado pelos corintianos e execrado pelos
rivais, este torneio ainda é motivo de muita discussão entre
os corintianos e os anti-corintianos (N. do Editor: anti-corintianos. Adj.
Bras. 1. Pessoa mal amada, infeliz. D. p . 2. Pessoa acostumada a ejacular
com o pênis do próximo), que chamam o Mundial de torneio da
fome, copa bandeirantes, torneio de verão, enfim, de tudo menos
de Mundial de Clubes da FIFA.
Vamos então à discussão
sobre o tema, lembrando a você, caro leitor, de minha total e inabalável
imparcialidade profissional, ou como diria Padre Quevedo: Minha função
aqui não é discutir se questionar se esta religião
está certa ou
errada, mas sim mostrar a realidade
dos fatos .
O primeiro argumento levantado pelos
rivais para atacar os corintianos é o de que o Corinthians entrou
como convidado no torneio e arrumaram para o Timão ser campeão.
Pelo que eu saiba, toda a grande competição internacional
tem um único país como sede e, consequentemente, uma equipe
ou seleção sua o representando. É assim na Copa do
Mundo, nas Olimpíadas, na Copa América e assim em diante.
Isto posto, o Corinthians não entrou por ser apenas um convidado
e sim por ser o atual bi-campeão brasileiro. Ou vocês queriam
que o Brasil fosse representado pelo Mallutrom do Paraná.
O segundo, e mais idiota argumento,
foi de que o Mundial não valeu, pois a Globo não transmitiu
(foi daí que surgiu o nome Copa Bandeirantes, já que só
a emissora paulista transmitiu os jogos, e bateu recordes de audiência).
Seguindo esse pensamento, se formos medir a qualidade de um campeonato
pela transmissão ou não da Globo, então os Campeonatos
Italiano, Espanhol, Alemão, Eurocopa, Copa do UEFA são todos
merdas, já que não são transmitidos pela vênus
platinada.
E o terceiro e último
argumento levantado foi o de que, como o Corinthians pode ser campeão
do mundo se não ganhou a Libertadores? Ora! Então se o Brasil
não ganhar a Copa América também não pode ganhar
a Copa do Mundo? Claro que pode, afinal, são competições
totalmente distintas, assim como a Libertadores e o Mundial da FIFA.
Quero também lembrar a todos
que o presidente da FIFA, Joseph Blatter, já confirmou para 2001
a realização do segundo mundial, em julho na Itália.
Então, meus caros, devemos parar de menosprezar o título
corintiano (que venceu com méritos), pois um dia o seu time também
pode estar lá, como o Palmeiras que já está
confirmado para a próxima edição do torneio e talvez
por este motivo já esteja concordando com o título corintiano
e discordando de sãopaulinos e
santistas quanto a credibilidade
do certame. E respondendo a pergunta do título: este é
o único e verdadeiro mundial de
clubes. Patrocinado e reconhecido
pela FIFA.
Olacir Júnior,
23, é estudante de jornalismo na FATEA de Lorena e é apaixonado
e fiel ao seu time e a sua noiva
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