"I
was a punk! Now, I'm Just Stupid!"
Por
Marcelo Costa 20/07/2000
Parece
que está na moda ser punk hoje em dia, certo. Bem, eu
já fui punk, mas isso faz tempo. Lá pelos idos
de 84/85... Eu andava pelos becos de São Paulo trajando
roupas sujas e rasgadas, cabelos sem corte, além de saber
cantar todas as letras dos Sex Pistols. Shows eram festas, Cólera,
Inocentes, Olho Seco, Garotos Podres...
O
tempo foi passando e a ficha caiu. Além de descobrir
que a mudança não necessita ser na parte exterior
(roupas e tal), e sim interior (atitude), também descobri
o The Clash, a maior banda de todos os tempos. Após isso
veio a pós-punk, um movimento multi-estilístico
que renovava o pensamento de outras gerações,
traduzindo-os para nós, sem aquele q de babaca que aquelas
gerações tinham. Oba, encontrei uma razão
para viver. E uma porção de bandas novas! Mas
uma vez punk, sempre punk (apesar da afirmação
correta do título, tirada da genial canção
Awful do Hole, de Courtney Love).
Um
dos dogmas não escritos, do movimento, que sempre admirei
foi o de enxergar todo mundo como gente comum. Não existem
gênios, pessoas do outro mundo e tais, para punks. Existe
gente legal que faz coisa legal, só isso. Partindo desse
pensamento, a Alison de um amigo, ao comentar um texto que fiz
e que versava sobre os meus 13 filmes preferidos da década
de 90, me chamou de pretensioso. Acredito que sua opinião
tenha sido balizada pelo fato de eu ser "apenas" um
fã de cultura pop - obcecado, apaixonado, sonhador e
chato - e não um crítico de arte. Tudo porque
eu disse que tal diretor (a propósito, Peter Weir) havia
"acertado a mão" em tal filme (a propósito,
Trumam Show) como um dia havia acertado em outro (a propósito,
Sociedade dos Poetas Mortos). Eu queria saber em que
ponto ou virgula estampei minha pretensão? Será
que por ser um "gênio" do cinema, ele
não tem o direito de errar, de fazer um filme ruim, "errar
a mão"? Todos os cineastas só fazem obras-primas?
Não.
Mesmo que alguém tenha a formula do sucesso, algo sempre
sai diferente. E isso muitas vezes pode ser bom, como ruim.
O caso é que cineastas, assim como roqueiros, zineiros
e palhaços de circo, são humanos, como eu e você
que lê agora essas linhas. Se Steven Spilberg der um tiro
na cabeça, como fez Kurt Cobain, não vai sobrar
nenhum soldado Ryan para contar a história (aliás,
ô filminho insosso. Deveriam deixar apenas a meia hora
inicial). E se eu fizer a mesma coisa (bala na cabeça),
hehehe, era uma vez. Ou seja, somos todos iguais. A diferença
é que Spilberg faz filmes, Cobain fazia canções
e eu faço uma lasanha que, mamamia. Ou seja, não
existem gênios. Existem, sim, uma porção
de pessoas legais fazendo coisas legais em áreas diferentes.
Nós simplesmente coroamos com nossa preguiça e
falta de coragem a chance de sermos cineastas, músicos
ou palhaços de circo tão bons quanto aqueles que
pagamos para ver num cinema, num circo, ou ouvir num cd.
Lembro
de um cara que dizia que triste são aqueles que precisam
de heróis. Porque o herói é aquele que
faz as coisas pela gente (seja filmes, canções,
palhaçadas ou decisões políticas). A partir
do momento em que damos conta do recado, o gênio/herói
deixa de ser algo mítico para se transformar apenas num
ser humano admirável. Afinal, como dizia Maiakovsky,
"gente foi feita para brilhar". Todos nós.
Por isso tudo que alguém pode "acertar a mão"
em um filme, e errar em outro. É normal. Ele é
humano, merece o benefício da dúvida. E eu, com
o mísero conhecimento que tenho, apenas comento. Você
pode concordar ou não, mas aí já é
outra coisa.
Lembro
de ter lido em algum lugar que Einstein vivia tão enclausurado
em seu laboratório, com a cabeça formulando mil
teorias, que fora dali não sabia fritar um ovo. E você
pode ter certeza, se era realmente assim, nisso eu sou melhor
que Einstein.
Marcelo,
30, assim como Wander Wildner, hoje é um hippie cyber
punk andando com anjos e demônios
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