The Man They Love To Hate
por hugo

Sendo, pela ordem de importância, santista, brasileiro e careta-praticante, sinto-me à vontade para dar a minha opinião na polêmica da eleição do craque do século realizada recentemente pela FIFA, e puxar a sardinha do Maradona pro lado dessa brasa (sacou? O Pelé jogou no Santos, cujo símbolo é o peixe ... Entendeu?).

E a minha opinião é a seguinte: foda-se quem é o melhor do século. Queria que essa dúvida fosse o maior problema da humanidade, mas não é isso que importa aqui (na verdade, essa comparação é impossível de ser feita. Já viu algum VT da copa de 70? Naquela época, eles praticavam outro esporte. Parecia futebol - tinha o mesmo número de jogadores, as regras eram semelhantes -, mas era outra coisa).

O que eu acho mais importante, é pensar em como essa discussão foi conduzida. Não se discutiu a competência de cada um dentro de campo, mas outras coisas. Falou-se sobre a vida particular, opiniões e ações de cada um. Tanto que, juntando tudo, pode-se até falar, senão em ideologias, pelo menos em estilos de vida diferentes.

E aí é que está: a forma de ser e agir mais certinha, babaquinha e enquadradinha é que foi exaltada, em comparação com alguém, que, se não pode ser considerada a pessoa mais equilibrada do mundo, pelo menos é quem é, do jeito que é, e foda-se o resto.

Mas é claro que eu não tenho nada contra o Pelé. Muito pelo contrário: a nossa dívida com ele, por ter trazido o Rodolfo Rodríguez (tá, vai: trouxe o Geovanni, também. Hoje eu estou de bom-humor ...) para o gol santista, é eterna. 
Tanto que não vou querer discutir nenhuma atitude dele aqui (e pode crer: há o que se discutir). 

Mas o que eu não entendo, é: por quê o Maradona tem que ser crucificado?

No mundo normal, no mainstream, há poucas pessoas realmente de valor, que fazem diferença. Pessoas que são tão talentosas naquilo que fazem (gênios?), que podem receber uma deferência especial da sociedade: o direito de ser quem realmente são. Isso, em alguns casos, se for algo sem exageros, pode até dar um certo charme, pode até servir para alimentar a lenda, como no caso da cantora Madonna, por exemplo. 
Mas, claro, há um limite: você não pode jogar nada, nenhuma merda na cara de ninguém. 

E isso o Maradona faz muito bem.

O Maradona incomoda. O cara é incoveniente. Ele teima, teima sempre em ir contra a corrente. Desafia autoridades. Dentro do seu mundo, o poder máximo é a FIFA, que ele sempre criticou e desafiou. Tudo bem, são críticas desconexas, por motivos obscuros, e muito provavelmente, mesquinhos e esgoístas; mas quantos devem ter motivações muito mais nobres e se calam?

E é muito difícil derrubá-lo. E quando conseguem, quando ele cai, ainda teima em se levantar. Quantas vezes a sua carreira foi enterrada devido às drogas? E isso impediu que no intervalo de uma delas, ele quase ganhasse uma segunda copa (a de 94) para a Argentina? Drogas podem dar energia, mas não podem dar talento a ninguém.

E nesse quesito (o das drogas), vamos ser francos: é claro que ele só prejudica a si próprio. Ele não é um mau exemplo para ninguém. 
Na verdade, ele é o maior garoto-propaganda anti-drogas que existe atualmente. É só ver a figura ridícula (fisicamente falando) em que ele se transformou, para qualquer um querer se manter bem longe das drogas. 

E, se ainda assim, algum garoto ainda teimar em se drogar para imitá-lo; isso é mais um problema de formação, do que qualquer coisa. É culpa do Maradona, ou dele, dos pais e da educação que recebeu (peço desculpas a quem serviu a carapuça, mas a intenção é polemizar mesmo)?
Um garoto desses, se não fosse as drogas e o Maradona, ia acabar achando uma outra forma de se fuder, com certeza; e outra pessoa a quem culpar. Talvez virasse crente, ou corintiano, sei lá.

O Maradona, é claro, não prima por atitudes inteligentes ou coerentes, mas pelo menos, é independente. Alguém atualmente, prinicipalmente na posição dele, que coloca a própria consciência acima de conveniências (alheias, quero dizer), no mínimo tem que ser respeitado. Quer algo mais absurdo que apoiar Fidel Castro hoje em dia?

Também não vou dizer que ele é um mal necessário, por concordar com quem acha que esse tipo de pensamento é muito próximo de "os fins justificam os meios" ou de "rouba mas faz"; mas vou pedir para deixarem o rapaz em paz e irem cuidar da própria vida.
 

hugo ( hugolt@hotmail.com ), colabora com este zine, e tem três coisas a declarar: que a nomeação do Chulapa para Auxiliar Técnico do Santos, foi uma grande vitória da campanha "Serginho Chulapa, Come Back"; que antes do final do Paulista o Geninho terá caído (e advinhe quem ficará no seu lugar?); e que The Man They Love To Hate é o título de uma música dos Stranglers, bem como de uma biografia deles também.