A Esperança
Flávia
Dalcin Ballvé
Chega
uma hora em que já não é preciso pensar em mais nada.
Que se disserem assim: vai pra lua, perde o emprego, enfrenta o medo, você
vai e passa por tudo. Porque lá, lá no fundo, naquele fundo
dentro do coração que é tão raso que envolve
tudo, você sabe que está fazendo o certo. Que você faria
qualquer coisa por essa pessoa que você ama. E que você só
não disse ainda "eu te amo mais do que tudo no mundo" por puro cagaço.
Eu acho que todo casal que está
se dando mais ou menos bem tinha que resolver casar. Como faz bem pro namoro
encomendar os convites de casamento! De repente, acontece uma mágica,
e quando você está puta com ele você não pensa
mais "merda, será que a gente vai terminar?", você pensa "como
é que a gente vai resolver isso juntos?". De repente você
vê que sua vida não é mais uma só, mas que você
está completa, que você nunca mais vai ficar sozinha porque
você tem outro "eu" do lado. Você assume de verdade um compromisso,
e como isso faz bem. Não precisa mais pensar nos "serás",
mas sim investir no que há ali.
Casar é assim: é ter
a certeza de que você é mais forte porque está com
a outra pessoa; é saber que vocês são uma dupla imbatível,
tipo tantas outras duplas tão geniais que a gente nem pensa em vê-los
separados, como arroz e feijão ou jeans e camiseta. O meu
amor está do outro lado do oceano agora e estou largando minha vida,
meu país, minha língua, minha família e meus amigos
pra ir casar com ele. E é claro que eu tenho pesadelos a cada vez
que recomeço a contagem regressiva: "agora falta 1 mês pra
eu ir embora de vez do Brasil... 20 dias pra eu nunca mais conviver com
minha mãe, só uma vez por ano...". Mas olha só: eu
não tenho dúvida nenhuma de que é ele. Eu nunca antes
tinha realmente pensado em construir alguma coisa juntos, alguma coisa
que fosse maior do que um plano de cinema à tarde ou uma viagem
de fim de semana. E agora eu me vejo conversando com ele como vamos educar
nossos filhos. Nossos filhos. Eu me vejo já na saída da maternidade,
mostrando pra ele: olha, tá vendo essa pessoa aqui? é eu
e você ao mesmo tempo.
Pra terminar: tem uma música
do Jorge Ben (alguém ainda ouve Jorge Ben? Aliás, alguém
mais chama o Jorge Ben de Jorge Ben, ou só eu?) que fala assim mais
ou menos: pois só ele me entende e me acode, na queda ou na ascenção,
ele é a paz na minha guerra, ele é o meu estado de espírito,
ele é a minha proteção... com ele eu sou um anjo,
com ele eu sou mais eu... com ele eu sou criança, eu sou o amor,
eu sou a paz, eu sou a esperança...
E é isso, principalmente isso,
que faz viver valer a pena.
Flavia
Ballvé, 25 anos, esta esperando caixas de caridade contendo amendoim
Agtal, doce de leite e pao de queijo entregues no seu bunker na França. |