"Nó", Cia Deborah Colker
por
Gabriela Froes Fotos: Flavio Colker/Divulgação Blog
24/06/2005
A estréia foi em maio - não no Rio de Janeiro, mas em Wolfsburgo, Alemanha, em um festival de dança que durou quase
todo o mês. Não foi sua primeira apresentação incluindo sapatilhas de ponta (já estavam lá em 4x4, de 2002); mas
Deborah Colker inovou - como sempre - em seu mais recente espetáculo Nó, em cartaz no Rio de Janeiro até o fim
de julho, de quinta a domingo, no Teatro João Caetano (ali na Praça Tiradentes). A apresentação é dividida em dois atos,
Nó e Vitrine. Tudo é muito bonito. A marca de Colker é sempre a multiplicidade de cenas e as possíveis
visibilidades em um mesmo momento.
O espetáculo começa em preto e branco, exceto pelo emaranhado de 120 cordas que pendem do teto, amarradas e
levando o foco do espectador para o meio do palco. Um casal de bailarinos caminha até o centro e ele amarra ela, tudo
muito devagar, com muita técnica de dança, movimentos precisos e beleza descomunal. Outros bailarinos (ao todo são
16, se alternando em momentos diferentes do espetáculo) começam a aparecer, pelos cantos. Com o foco de luz no
centro do palco, iluminando os dois (ele e ela), várias seqüências de movimentos começam a acontecer ao redor
enquanto uma cena extremamente bonita misturando dança e sexo de uma forma teatralizada surge no centro, com
olhares fixos um no outro, como se não houvesse dança ao redor, como se os dois estivessem a sós na execução do
sensualíssimo ritual.
A partir daí, as cordas são soltas e re-amarradas várias vezes, em outras posições, em outros bailarinos, em outras
cordas de outras cores, em seqüências paralelas onde o espectador tem que tomar a dificílima decisão de para onde
olhar. É impossível acompanhar tudo assistindo apenas uma vez ao espetáculo, tamanha a multiplicidade de cenas
isoladas, mas que se combinam, como em um bom filme - só que muito mais bonito.
A segunda metade, Vitrine, traz uma caixa de arestas vermelhas e faces transparentes. As cores mudam para o
vermelho, e o figurino também. Colker abre o ato com um solo lindíssimo, dançando ao redor da caixa. Logo depois, três
bailarinas com sapatilhas de ponta - pretas e presas com elástico, ao invés das clássicas fitas de cetim - dão um show
de técnica clássica, sempre misturada à contemporaneidade que é marca da coreógrafa, todas do lado de dentro da
caixa. E começam a surgir mais e mais bailarinos do lado de fora, iniciando-se a partir daí mais um jogo de sensualidade
com esta premissa do "untouchable", o impossível de se tocar, pegar.
Não vá esperando as seqüências de movimentos frenéticas e os saltos de risco. Nó é até um pouco romântico,
mantendo a leveza de sempre que esconde muita força e controle de cada músculo do corpo. É evidente a influência da
Ioga neste espetáculo, mais do que nos anteriores, e isso dá um tom novo à apresentação, deixando a platéia também
um pouco entorpecida; o palco é mágico, sensual. Para completar, a trilha é fantástica e varia do Jazz à música
eletrônica, mas nada dançante demais que faça o espectador querer dançar junto. Todos ali sabem exatamente o seu
lugar.
Em Nó, o espectador pensa duas vezes antes de cada piscar de olhos, com medo de perder alguma coisa. Deborah Colker mais uma vez se supera, com um espetáculo que mistura o contemporâneo com o clássico, as técnicas de dança com as de consciência corporal, mas com um fundo que respira dor e desejo. Os bailarinos são atores, a música é poesia e o palco é a nossa catarse.
Site Oficial de
Cia Deborah Colker
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