"Dawson's Creek"
por Gabriela Froes
Foto: Sony / Divulgação
Blog
20/07/2005

My name is Dawson Leery
and I'm feeling kind of weary
Today is my birthday
and you all look a little bleary
The girl that I cared for
left me and ran away
straight into the arms of
a guy who turned out to be gay

I got the blues, yeah
Today I woke up feeling I was born to lose
I've got the blues
Some days you're born to lose

(Here’s my friend Andie, she’s going to sing a song cause she’s got the blues - GO!)
My name is Andie
and my brother's the one who's gay
My other brother died
and my daddy went away
But I'm still Andie
and my boyfriend makes me randy
His name is Pacey
and my mom's gone completely crazy

I've got the blues
Yeah, sometimes you swear you were born to lose
Oh, we got the blues
Now it’s time to
Put on my dancing shoes

I've been restless
hopeless and confused
This girl I told you about
she's been on the move
She's at my suprise party
where everyone I know is right now
When I show up late there
they're all gonna have a cow

Yeah I’ve got the blues
I swear sometimes we’re born to lose
Yeah, we’ve got the blues
Yeah, sometimes you know you were born to lose

(I've Got The Blues, Dawson e Andie)

Eu e meu marido alugamos a primeira temporada de Dawson's Creek algumas semanas atrás. Enquanto adolescente, eu sempre achei que Dawson era o epítome da chatice e me recusava a saber do que se tratava, cansada de ouvir o frisson causado pela série na época de escola, que se estendeu aos meus primeiros anos de faculdade. Todo mundo via e todo mundo comentava, e eu só conseguia pensar que não podia haver nada mais chato do que um bando de adolescentes filosofando sobre as dúvidas da idade, num excesso verborrágico de discussões existenciais.

Aos 24 as opiniões mudaram. Agora consigo ter uma certa distância da minha própria adolescência e perceber que os excessos da série, o que parecia inverossímil, são exatamente o que eu pensava sem dizer, as dúvidas, os medos, as estréias. Ansiosa após o primeiro beijo de Joey e Dawson, aluguei correndo a segunda temporada (já existem as outras?).

Jen ama Dawson que ama Joey que acha que ama Jack - que é gay e ainda não ama ninguém. Jen vai morar com a avó. Dawson sofre com o divórcio dos pais. Joey perde a mãe pro câncer. Pacey tem um pai que não acredita no próprio filho. Abby inferniza a vida de todos porque a própria vida não tem graça nenhuma. Andie perdeu o irmão mais velho, cuida da mãe (que tem sérios transtornos psicológicos) e carrega o mundo sobre os ombros. Não tem nada mais adolescente e mais verdadeiro do que tudo isso.

Lembro de ter 18 anos e de minhas amigas fazerem comentários extremamente magoados sobre como a malvada Joey maltratava o pobre Dawson, que é apenas um romântico incorrigível que só quer que a vida seja simples como num filme do Spielberg, com final feliz e beijo com trilha sonora ao fundo. Lembro de pensar em como era bobo alguém se ofender com um personagem, como era bobo se envolver.

Talvez fosse eu a menina dentro do armário (de Dawson). Talvez fosse eu a menina que não conseguia se encontrar, talvez achasse que Dawson era um chato e que eu faria o mesmo, procuraria as respostas em mim e não junto com ele. Eu não pensava em nada disso porque nem sabia do que se tratava a história até semana passada, mas é bem provável que aos 16 anos, diferente das amigas que tive, eu achasse que Joey era somente uma garota tentando se encontrar, e que Dawson era um menino que a amava demais para poder compreendê-la.

E eu? Aos 16 anos eu tinha o peso do mundo sobre meus ombros, como Andie, e por escolha própria, porque todo adolescente é um pouco esquisito e solitário e inseguro. Aos 17 eu tive as dúvidas de Joey: o que fazer? Como encontrar o que é *meu*? E, ao encontrar, como reconhecer? E como não soltar mais? E se eu soltar e me arrepender? Ou, pior, e se eu nunca encontrar? Aos 18 eu era Jen, morando com a avó em outra cidade, enfrentando a dificuldade de ter que fazer novos amigos e descobrindo os conflitos entre as gerações. Talvez eu tenha sido até um pouco Jack, descobrindo minha própria identidade. Sem dúvida alguma fui Pacey, a insegurança escondida atrás do sarcasmo. Talvez ainda seja um pouco disso tudo.

E durante esses anos todos eu também fui Dawson, idealizando um relacionamento como nos filmes que ele alega serem realistas, um filme onde o conflito está no início e no fim está o beijo. Na minha vida o conflito veio antes, durante e depois do beijo, o que para Dawson pode parecer nada realista (acho que até o fim da série ele deve entender). O beijo é o que faz valer a pena suportar todo o conflito.

Mas em uma coisa concordo com Dawson. Não há nada mais delicioso do que o cinema. E ainda que eu não seja uma grande fã de filmes hollywoodianos atualmente, reconheço que tudo começou ali, a explosão, o crescimento em "PG" da indústria cinematográfica. Não fossem os clássicos em preto-e-branco, talvez não tivéssemos hoje a pureza dos filmes iranianos, os silêncios doídos dos filmes japoneses, a rebeldia dos filmes alemães, a beleza dos filmes italianos, os diálogos franceses, sempre maravilhosos. E em todos eles eu acho paralelos com a minha vida, pois um filme é como um livro, eu vou sempre achar uma maneira de "reescrever" o que me é apresentado de forma única, minha. Nada se cria, tudo se transforma.

Eu sei como acaba a série. Dawson não fica com a garota. É aí que ele se dá mal, e é aí que eu ganho da ficção. Eu fico com o mocinho, caso com o mocinho tendo as pessoas que amo ao meu redor e, quando ele está longe (como nessa semana), ainda recebo mensagens via celular (as maravilhas do mundo moderno) dizendo "boa noite" e "eu te amo".

Quem sabe daqui a uns anos, Dawson.



A série teve seis temporadas e conta a história de três amigos (que viram quatro, que viram seis, isso porque ainda estou na segunda temporada) que moram na pequena Capeside, cidade vizinha de grandes centros como Providence e Boston, mas composta por aproximadamente 35 mil habitantes, em Massachussets, Estados Unidos. O personagem central é Dawson, um adolescente fascinado pelo mundo do cinema e fã de Steven Spielberg. Entre o divórcio de seus pais, as pitangas choradas por Pacey, as tentativas atiradas de Jen e o relacionamento de altos e baixos com Joey, sua melhor amiga, Dawson é o equilibrista das extremas alterações de humor de todos os personagens da série, fazendo paralelos entre sua vida (e da de seus amigos) e o cinema, sua única paixão bem-resolvida.

Um dos momentos mais memoráveis até agora foi no episódio Be Careful What You Wish For, em que Dawson faz 16 anos, toma seu primeiro porre num pub e acaba no palco com Andie (namorada de Pacey), também bêbada, cantando um blues improvisado (cuja letra abre este texto) com frases extremamente irônicas que resumem a situação dos personagens naquele momento.

Os DVDs da série Dawson's Creek já estão disponíveis em lojas e locadoras. E o canal Sony está reprisando todas as temporadas, nem sempre em ordem, mas no site é possível ver a programação.


Links
Site Oficial da série
Site Oficial do Canal Sony