Café & Cigarros
[a  a r t e  d e  v i v e r]
por Marcelo Träsel

Para a estréia da Café & Cigarros, coluna mensal (espera-se) de filosofia de botequim, um tema grandiloqüente. E ao mesmo tempo, um dos poucos temas realmente práticos de que a filosofia trata. Desde Sócrates  - no ocidente - há uma preocupação com a arte de viver. E se há algo que torna válida a filosofia, e no fim das contas qualquer outra atividade humana, é melhorar a qualidade de vida dos que a buscam.

Para os gregos da era clássica, viver bem era uma arte que se aprendia, assim como marcenaria ou retórica. Eles consideravam que para levar uma existência frutífera, era necessário aprender a evitar os males quando possível. Quando não, transformar estes males em bem, sob forma de aprendizado. Para isto, era preciso discernimento. O comedimento nas ações, na fala e nos prazeres era outro ponto importante da arte de viver. Grandes homens ouviam muito, falavam pouco, bebiam moderadamente. Mas a sensatez e o discernimento eram realmente as bases de uma vida alegre e sem sobressaltos. O próprio Zeus diz, pela boca de homero, em <a odisséia>: "Veja como os homens culpam os deuses. De nós, dizem eles, vem o mal. Mas através de sua própria insensatez, mais do que merecem, encontram a tristeza". Depois, o iluminismo retomou a educação - um caminho para se atingir o discernimento e a sensatez, agora chamado cultura - como forma de se viver bem.

O pensamento oriental não é filosofia, mas vai ser usado bastante nesta coluna, porque traz várias chaves para entender coisas de que a filosofia ocidental não dá conta. Na arte de viver bem, a chave é "se o chão tem espinhos, não queira cobrir o mundo inteiro com couro: faça botas e ande feliz". Os orientais, à sua maneira, recomendam, como os gregos, a sensatez e discernimento como meios para uma boa vida. Para eles, o estudo da mente, a meditação e o auto-conhecimento permitem aos homens vislumbrar a essência do mundo e, desta maneira, aprender a evitar os espinhos. Isto passa pela aceitação da vida como é e pela adaptação às situações. Os ensinamentos de Buda são resumidos desta maneira:

"Pratique a virtude
Não cause sofrimento
Seja senhor de sua mente"

Na última frase está contida a idéia de sensatez e discernimento. Note-se que o pensamento grego, iluminista e oriental convergem no que diz respeito a como viver bem. 

Viver bem é saber distinguir, no fim das contas, o bom do ruim. O resto é bobagem new age para tirar dinheiro dos incautos.
 
 

Marcelo Träsel
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