Teoria
de Alison
por
Miguel F. Luna 28/09/00
"Oh,
it’s so funny to be seeing you after so long, girl.
And with
the way you look
I understand
that you are not impressed."
Essas
são as três primeiras frases de Alison, canção
de Elvis Costelo, clássico absoluto. E é a canção
que empresta som, palavras e sentimento para esse texto, ou melhor,
teoria. Essas frases já são uma pista mas o que vem
a ser a Teoria de Alison? Bem, a teoria de Alison é uma equação
muito simples:
{É só juntar um cara legal, uma garota bacana, platonismo à vontade,
alguns itens da Lei de Murphy, e, às vezes, um relacionamento
quase perfeito acontece. Quase perfeito. Aí é só bater
no liqüidificador e beber o resto da vida entre silêncios
e sonhos}
Alisons são aquelas garotas que marcam a vida da gente e que a
gente não consegue esquecer com o tempo, ao contrário,
elas nos tomam cada vez mais, como se só existissem elas no mundo.
Sei que não existem apenas elas, mas isso é inexplicável,
acontece. E acontece a ponto de as tornarem as maiores adversárias
de novos relacionamentos, embora nem estejam mais ali, talvez apenas
como fantasmas, mas nós acabamos sempre as querendo. É diferente
de flertes corriqueiros e inconseqüentes e é sacrifício
até manter a amizade depois que a história chega ao fim,
ou melhor, quase início.
Ela pode ser qualquer garota, como a vizinha, uma colega de classe, a
amiga de um conhecido, a irmã de uma amiga, a namorada do melhor
amigo, uma prima, qualquer uma. Parece piada, mas acredite, não é.
Acontece. Quem tem uma Alison tem também uma porção
de histórias tragicômicas para contar. Eu mesmo tenho um
monte e daria para escrever um livro só contando minhas mancadas.
Cada um deve ter a sua Alison. Eu tenho a minha, bonita, inteligente,
frases iniciadas por um e finalizada por outro, quase beijos, e por fim,
silêncios. Tá, ela me envia emails vez em quando. Mas já não
está sozinha, o que a torna ainda mais impossível. Mas é a
minha Alison, vou fazer o que? Não escolhi. Ela me apareceu do
nada, numa tarde de julho a quase 800 km da minha casa (acho que
fui eu que apareci) e, bem, ela vai se casar em setembro e eu não
quero ser muito sentimental (como canta Costelo) mas a vida segue, cada
um na sua, e geralmente Alisons nos trazem tristeza. É a sina.
Eu só sei que ela não é minha.
Isso é o fim ? Não, como eu disse, a vida segue. Apenas
segue mais arrastada. Isso tudo não impede da gente encontrar
alguém e se apaixonar e tal. Eu já me apaixonei mas não
foi lá grande coisa, nem por culpa da paixão mas por culpa
da Alison. Mesmo assim acredito que a minha garota está andando
por aí e qualquer dia eu a encontro. Acredito. Mas Alison é
Alison, a gente bebe a vida inteira dessa chuva. E desde então
parece que tem chovido sempre. Sempre.
"Alison,
my aim is true. My aim is true."
Miguel
F. Luna, 25, é cercado por fantasmas e escreve
sobre silêncios.
Leia
também:
Reflexões Alisônicas,
por Miguel F. Luna
Nota do Editor: a Teoria de Alison foi publicada pela primeira
vez na versão
on paper do Scream & Yell, em março de 2000. Foi um dos textos
mais comentados da edição, rendendo muitas cartas
e comentários ao autor, que ainda preparou um segundo texto, que
estaria no número
7 do Scream & Yell On Paper,
mas acabou sendo publicado na versão on line, na estréia
do site, chamado "Reflexões Alisônicas".
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