"Uma Longa Queda", de Nick Hornby
por Randall Neto
Blog
17/03/2006

"Eu queria escrever um livro que chocasse, sobre algo extremamente para baixo, e queria ver se conseguiria tirar esses personagens do fundo do poço sem ser sentimental ou irrealista. Se eu escrevesse um livro sobre depressão completamente depressivo, por que alguém o leria?". Nick Hornby

Desde Alta Fidelidade que cada livro lançado por Nick Hornby é precedido pela enorme expectativa de uma espécie de sucessor da chamada "Bíblia" da Literatura Pop, o que ainda não ocorreu. E nem ocorrerá, pois parece que o universo de um "loser" dono de uma loja de discos foi esgotado ao máximo; sem dizer que esperar um reenquadramento desse tipo de um escritor como Hornby seria reducionismo, e também, caso ele cedesse à tentação Sidney Sheldoniana, um imenso desperdício de talento.

A essa altura, muita gente já deve estar sabendo do que se trata Uma Longa Queda (A Long Way Down), que foi lançado na gringa em 2005, e acaba de ganhar tradução nacional pela Rocco (assim como todos os livros anteriores do escritor britânico). A história gira em torno de quatro desconhecidos que se encontram casualmente no "suicidódromo" mais notório de Londres, na noite de ano novo e iniciam uma espécie de relacionamento, tão inusitado em sua formação quanto improvável em sua duração.

O romance é todo narrado em primeira pessoa pelos quatro aspirantes a suicidas: Martin, um apresentador de televisão que viu a carreira desabar depois de se envolver em um escândalo; Maureen, uma senhora solitária cuja vida se resume a cuidar do filho que há quase duas décadas se encontra em estado vegetativo; JJ, um músico americano fracassado que sobrevive entregando pizzas; e Jess, uma desequilibrada e passional filha de um ministro.

Algumas tentativas de diálogos terminam de forma desastrosa, outras acabam se tornando lições, e a maioria segue a lógica própria que Nick Hornby sempre apresenta nos seus livros, ainda que politicamente incorretíssimas - e talvez por isso, extremamente divertidas. O título nacional não traduz fielmente seu conteúdo. É melhor que Ladeira Abaixo, que foi o primeiro título cogitado pela editora, mas A Long Way Down pode até ser traduzido como Uma Longa Queda, mas seu significado real deveria ser O Caminho Mais Longo, ou algo assim. Por que não é de "queda" que trata o livro, e sim de "caminho", ou "opções". Trata de conviver com a idéia de ter escolhido o caminho mais longo e mais difícil.

Hornby não escreve sobre losers - verdadeiros ou potenciais -, apesar deles comumente frequentarem suas histórias; ele escreve sobre a angústia. E na prateleira da angústia, o escritor escolhe a forma mais leve, insípida e indolor de se lidar com o tema, mas ainda assim é angústia que pontua seus livros, não importando se a verdadeira preocupação gira em torno de um recente pé na bunda (Alta Fidelidade), as dúvidas de um casal (Como Ser Legal) ou o clássico "vale mesmo a pena viver essa vida?".

Dividido em três partes, o livro incomoda muito mais que diverte, mesmo com as doses cavalares de ironia e o costumeiro sarcasmo. Não é o melhor livro do autor, não é o sucessor de nada, nem tampouco representa alguma espécie de guinada em sua carreira. Mas, até pra não fugir à regra, integraria com honras um Top 5 do que já li esse ano!

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