Punk– Anarquia
Planetária
e a Cena Brasileira
de Silvio
Essinger (Editora 34)
por
Marcelo Costa 16/12/2000
Obrigatório,
simplesmente obrigatório. Punk– Anarquia Planetária
e a Cena Brasileira, do jornalista Silvio Essinger, lançado
dentro da série livros sobre música da Editora 34, é
um pequeno compêndio sobre o tema, alias, bastante escasso em nossas
prateleiras.
O roteiro do livro é básico,
o que, de certa forma, o direciona a um público mais jovem. Mesmo
assim não deixa de ser gostoso ler mais uma vez sobre MC5, Velvet
Underground e New York Dolls, astros da primeira parte do livro.
Didático ao extremo, Punk é perfeito por dar uma bela geral em todo o – chamado – movimento
punk, pré 77 até o fim dos anos 90, ou seja de Stooges a
Atari Teenage Riot, passando por Damned, Nirvana, Green Day e muitas outras.
O autor não procura ser genial
e, exatamente por isso, acaba sendo. O apenas contar uma história
soa sincero e ok. Assim como evita o exagero, Essinger também procura
não ser crítico, contando apenas os fatos e as conseqüências
dos mesmos.
O capitulo Sex Pistols/The Clash/Ramones
talvez traga pouca coisa de novo aos que curtem o gênero há
mais tempo, embora uma surpresa aqui e ali com certeza será encontrada
pelo leitor atento.
Mas o grande trunfo, sem dúvida,
é o resgate da cena punk brasileira e o passeio pelo rock nacional.
Os capítulos são divididos por Estados e há um breve
e interessante prefácio contando do surgimento do rock no Brasil.
Depois, o leitor será apresentado há uma dezena de grandes
bandas que fizeram história e a alegria de muitos jovens rebeldes
desse imenso Brasil.
O capitulo "Garotos do Subúrbio"
sacode o baú de São Paulo, onde em meio ao medo militar,
acotovelavam-se em quartinhos, bandas como Inocentes, Restos de Nada, Cólera,
AI-5, Garotos Podres, Ratos de Porão e Olho Seco, só para
ficar nas famosas.
Em "O Outro Lado da Cidade Maravilhosa",
o leitor irá descobrir o punk carioca do Coquetel Molotov, Força
Desarmada, Patrula 666 e lugares como o "Dancy" e o "Western".
"Tédio com um T (Bem Grande
Pra Você)" fala de Brasília, citando a canção
da Legião Urbana, que teve como embrião o Aborto Elétrico.
Histórias bacanas da Blitz 64 e fotos legais.
Já o capitulo "Longe Demais
Das Capitais" serve para dar um panorama no rock da Bahia e de Rio Grande
do Sul. Com isso, Camisa de Vênus e Replicantes ganham merecidos
destaques. Como não cansamos de dizer aqui no S&Y, cultura
pop deveria ser matéria de escola. Se fosse, um livro como esse
seria livro de professor.
Como cultura pop é algo desprezado,
Punk acaba tendo seu valor triplicado, por mostrar a uma nova geração
a verdadeira cerne do que é ser punk. Trata o assunto com ingenuidade
e inteligência, caracteristicas do próprio movimento. Com isso, caras uma geração
de idiotas movidos a inveja e grana tem como aprender a ter atitude, a
ser sincero, honesto, sem se preocupar com a vendagem do disco ou se amparar
na grana do papai.
E mais, Punk é retrato de
um período em que atitude era reclamar do governo (ou da realeza)
e não ficar fazendo piquete em frente aos McDonalds da vida. É
punk do tempo em que ninguém queria salvar vaquinhas, afinal, é
só ir aos cafundos da África e ver gente passando fome, ou
ir até o ABC para ver com quantas horas extras se consegue
um almoço razoável.
Isso tudo soa a quem é criado
com comidinha na boca, coisa bem classe média, filha da geração
neo-liberal que era algo em 1970 e hoje só conseguiu criar um monte
de paspalhos que acha que atitude é não comer carne, brigar
pelos direitos femininos e reclamar dos oligopólios quando o problema,
geralmente, está na esquina de sua própria casa, ou, no máximo,
na prefeitura de sua cidade. ONGs? Onde? O que são?
É claro que são coisas
que não se aprendem na escola, mas a gente sempre espera que o mundo
mude, para melhor. O punk está vivo. Viva o punk!
|