'Os Criadores', de Paul Johnson
por Carlos Willian Leite
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21/09/2006


"Tanto um varredor de rua como um agricultor podem ser criativos." A frase é do respeitado historiador e jornalista Paul Johnson, no livro Os Criadores (328 págs., R$ 49), recém-lançado no Brasil pela editora Campus. O livro é uma coleção de ensaios sobre a historia da criatividade. Paul Johnson analisa de maneira divertida, provocativa e com certo humor negro os criadores que inspiraram e moldaram o mundo moderno.

O livro, segundo o próprio autor, foi escrito como resposta aos críticos do primeiro volume da série, Os Intelectuais, uma desconstrução nada simpática de gênios como Marx, Rousseau e Tolstói.

No segundo volume, Paul Johnson não recua ao misturar vícios privados e virtudes públicas dos grandes criadores da história ocidental - oferecendo uma série de retratos fascinantes de homens e mulheres que marcaram os acontecimentos da humanidade. Entre eles: Wagner, Walt Disney, Verdi, Victor Hugo, Charles Dickens, Bach, T. S. Eliot, Dior, Picasso, Balenciaga, Chaucer, Dante.

Dos 17 criadores, o que tem a vida mais escancarada é o poeta T. S. Eliot, autor do revolucionário poema A Terra Desolada. Johnson afirma que Eliot sempre foi reacionário e rabugento, e faz revelações embaraçosas, como a que diz que a ausência de sexo foi decisiva na elaboração da obra de Eliot e fez com que ele se voltasse para a vida acadêmica.

No mesmo tom, contrariando a crítica, afirma que Bach não revolucionou a música, tendo sido apenas um reformador, alguém que seguiu as regras e aperfeiçoou as formas musicais existentes. Também compara Picasso a Walt Disney - e dá a vitória ao criador do Mickey. Sobre o pai do cubismo, alfineta - dizendo que ele se tornará obsoleto à medida que a arte representativa voltar a ocupar o centro do palco.

Johnson também fala de outras formas menos óbvias de criação. Ter talento é também saber reconhecer o talento alheio. Cita o caso de Dior. Em 1946, Christian Dior não tinha o dinheiro necessário para montar a grife, que sobreviveria à sua morte, em 1985. Seu padrinho foi o magnata da indústria têxtil Marcel Boussac, que tinha dinheiro, mas não tinha o prestígio do estilista francês. A união dos dois permitiu a construção de um império.

Apesar do tom superlativo com todos o biografados, vale a pena ler. O leitor descobrirá que, mesmo com todas as agruras e percalços relacionados ao trabalho criativo, a vida de um criador apresenta aspectos peculiares e é repleta de formas estranhas de satisfação, o que faz sua existência ser mais do que privilegiada.

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