Vou tentar falar de Rumo à
Estação Islândia sem dizer uma vez sequer "A terra
da Bjork" e nem chamar o autor de "Reverendo". Será que consigo?
Resultado de anotações
das viagens do verborrágico ex apresentador do Lado B ao pequeno
país do extremo norte, o livro é narrado no tradicional linguajar
"massariano", que chega ao requinte de tratar sua coleção
de discos na terceira pessoa, como uma entidade com vida própria.
Pequenos escorregões existem,
clichês como "trilha sonora do fim do milênio" ou "não
deixa pedra sobre pedra", mas que nem de longe compromentem o resultado
final.
O que surpreende é que o simpático
VJ, com a facilidade que tem para escrever,
não tenha publicado nada até
hoje.
Quem for esperar um "guia para turistas"
não vai achar muita coisa a não ser a indicação
de algumas casas noturnas, cafés e bares (um deles por curiosidade
pertencente a Damon Albarn do Blur).
Entre outras curiosidades, ficamos
sabendo que a Islândia tem apenas 280 mil habitantes, que o país
só conquistou sua independência da Dinamarca em 1944, e que
tem uma produção cultural absurdamente imensa, com músicos,
artistas, poetas e escritores em profusão. É o país
que publica mais livros 'per capita' no mundo. Relatos surpreendentes de
como a cerveja era proibida e só foi liberada em 1989 (!), isso
em um país onde o esporte nacional é o levantamento de copo...
A principal diversão do Islandês
é sair à noite para beber, mas beber mesmo,
até cair. Lá não
existe essa de "beber socialmente". Nas palavras do autor, lá
vai uma tradicional receita dos locais:
"O mítico brennivín
(vinho queimado), bebida para esôfagos forjados à ferro e
fogo, é um destilado de batatas que atende pelo simpático
apelido de 'morte negra'. É elemento quase obrigatório, recomendado.
Cai como uma luva na experiência de degustação do tradicional
(folclórico) hákarl, poderosos cubinhos de amônia,
ou melhor, cubinhos de carne de tubarão tratados na melhor tradição
da culinária vicking... carne do cão dos mares enterrada
na areia e curtida, por meses, até seu ponto de apodrecimento supremo.
É jogar um cubinho para dentro, mastigá-lo com brio, fumar
e tragar os vapores amoniacais, cobrir tudo com os gélidos véus
da tempestuosa morte negra e ... burp!"
A partir daí é que vem
o maior problema (ou a maior qualidade, dependendo do ponto de vista )
do livro: Se transforma numa história extremamente detalhada e comentada
da discografia islandesa, desde as garage-bands do anos 60, até
os dias de hoje.
Comentários sobre discos das
principais bandas e artistas, se foram lançados em cd ou não,
tudo acompanhado por entrevistas com alguns dos personagens mais importantes
dessa história.
O negócio é que essa
narrativa só é acompanhável para pessoas 'do meio',
ou seja, que acompanham música, colecionam discos, lêem revistas
especializadas, vão à shows, tudo isso e mais um pouco. Talvez,
ou com certeza, seja esse o público alvo de Massari. Uma pessoa
"normal" dificilmente vai acompanhar o desfile de dezenas e dezenas de
nomes absolutamente impronunciáveis e quase que totalmente desconhecidos.
Mesmo os mais antenados só
vão "pescar" Sigur Rós, Gus Gus, Emiliana Torrini, Bellatrix,
Magga Stina, e é claro, Sugarcubes (e suas pré-bandas Kukl
e Tappi Tikarrass, além dos ex integrantes Bjork, Einar Örn,
Siggi e Thór Eldon).
Deixando de lado essas considerações,
é inegável a curiosidade que dá. Como será
o som de Hljómar, Trúbrot, Icecross, Purrkur Pilnikk,
Q4u, Das Kapital, Theyr, Bogomil Font, Sjón, Unun, Ham, Lhooq ou
Örkuml
? Eu ia citar outras, mas algumas letras não exitiam no teclado...
Faltou talvez alguma indicação
de como as pessoas (que fatalmente irão se
interessar) podem conhecer algumas
dessas bandas. Sites na internet, essas coisas. Bem, prometo não
ser estraga-prazeres e contar o final do livro, mesmo porque o livro não
tem final...