Entrevista - Iris Bahr
por Danilo Corci
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03/12/2007

"Aventuras de uma Pseudovirgem - Minhas viagens pela Ásia em busca de sexo". Título categórico, não? Pois é. A norte-americana Iris Bahr não hesita em escancarar suas memórias e produzir um livro de título forte ("Dork Whore", em inglês). Lançado pela Conrad, o livro parece engatar naquele tipo de literatura desenvolvida por autoras como Lolita Pille ou Melissa P. já que o título parece entregar tudo o que vem pela frente.

Mas Bahr é diferente delas. Suas origens judaícas falam mais alto. Trancada por dois anos na base militar do Exército de Israel, Iris se vê finalmente livre e com o assunto sexo permeando sua mente - sua pequena experiência havia sido um fracasso retumbante. Resolve, então, dar um basta na situação e ir para o Extremo Oriente resolver sua questão sexual. Então a partir daí temos uma história pornográfica de cabo a rabo. Errou. Nada disso. Iris Bahr fala muito de sexo, mas não o pratica. O livro narra mais as frustrações de uma jovem contemporânea perdida entre o que deve aparentar, como deve agir e sem a menor noção de como conseguir fazer as coisas que deseja fazer.

Por se tratar de uma comediante, a autora sabe muito bem brincar com deboche no seu livro. Mas, ao mesmo tempo, as falhas de uma neófita literária são bem evidentes, uma vez que o livro oscila demais entre a narrativa fluente e a cumplicidade do leitor, com passagens enfadonhas e dispensáveis. Mas o saldo geral é positivo. "Aventuras de uma Pseudovirgem" só atesta as vantagens das diferenças e como fazer estupidez também pode ser uma grande maneira de se aprender hoje em dia, onde os limites parecem ter se alogando senão desaparecido.

De fato, a diferença entre Bahr e as duas autoras citadas está muito mais no fato dela não se levar a sério, não fingir uma impostação na escrita para se posicionar com uma escritora dona da verdade ou que está fazendo o mapeamento de uma geração. Porém, Iris parte de sua própria experiência e coloca o livro como um "depoimento", ou seja, foge da ficção pura - talvez essa falta de um cinismo distante seja o que falta para as Aventuras de uma Pseudovirgem decolar de vez.

Sobre estas questões e um pouco mais, o Scream & Yell conversou, via e-mail, com a autora durante sua viagem à Alemanha para a Feira de Frankfurt. Confira abaixo a entrevista exclusiva.

O escritor argentino Julio Cortázar uma vez disse que todos têm boas histórias para contar, mas poucos conseguem fazer isso direito. Como você se deu conta de que sua história era boa para um livro? Quando você decidiu escrevê-lo?
Tenho contado essas histórias para as pessoas por anos já que sou uma performer e escritora. Contar histórias é o que eu faço, então tive a idéia de escrever um show sobre minhas viagens, mas quando comecei a escrever, descobri que tinha mais a dizer do que caberiam em uma performance de duas horas. Comecei a escrever o livro e continuei escrevendo, escrevendo...

Algumas pessoas podem compará-la à Lolita Pille e à Melissa P no jeito de contar histórias. Porém, a falta de humor nas duas as distanciam de você. Como foi seu processo de escrita para esse livro? Sua intenção foi usar o humor uma vez que você é comediante ou colocou para diferenciá-la um pouco mais das outras?
Tudo o que faço nas minhas performances e escritas tem humor. Olho para minha vida, erros e decisões com muito humor, ninguém pode se levar a sério demais nessa vida e, claro, eu queria entreter as pessoas e acredito que uma boa risada é a melhor resposta para isso.

Aqui no Brasil, a tal Questão Judaica como as piadas sobre ser um judeu não tem tanta relevância como nos EUA. Como você diria para o leitor brasileiro captar as inúmeras brincadeiras que você coloca no livro?
O Judaísmo é parte de minha identidade e eu debocho de muitos aspectos de minha identidade. Só posso alertar meus leitores brasileiros para imaginarem uma pessoas que não se encaixa em qualquer tipo de grupo que ela tenta fazer parte. Não imagino que peguem todas as piadas, afinal nem todas são internacionais, mas tento participado do lançamento do meu livro na Alemanha e na Escócia, percebi que todos gostaram das piadas, não importa de onde sejam.

Seu livro parece ter sido feito para virar filme ou uma série de TV. Já pensou nisso? Recebeu alguma oferta?
Sim! Já estou conversado sobre isso, aliás de maneira bem adiantada.

Ler o seu livro é bem fácil. Mas, em alguns momentos, a relação entre o leitor e a personagem principal é bem ambígua. É fácil gostar dela, mas destestá-la não é tarefa difícil. Como você é sua relação com ela, uma vez que é baseada em você mesma?
Bem simples. Como se trata de mim mesma, como na vida real, fico frustrada com meu comportamento algumas vezes, como todo mundo.

Livros favoritos e escritores?
Gosto dos mais variados autores, de David Sedarisa a Philip Roth. Kurt Vonnegut foi meu favorito na adolescência. Ah, e Will Self.

E como você lida com o sexo hoje em dia?
Bom, eu deixei esse meu passado para trás, por assim dizer.

E o futuro? Outro livro?
Agora volto para Nova York para fazer DAI (enough), meu show solo que é bem diferente do livro, tem um olhar mais profundo sobre o espectro da ideologia e sociedade israelense e como o mundo vê Israel. Vai ser Off Broadway até março, num teatro da 47th Street. Também tenho alguns roteiros de cinema, um deles em avançado estágio de desenvolvimento.

Texto cedido pelo site Speculum