A nova literatura brasileira - Publicar é preciso!
por Leonardo Barbosa Rossato
Coquette
03/03/2005


O que se precisa para nascer uma geração literária? Foi essa pergunta que o escritor Nelson de Oliveria tentou responder ao organizar duas polêmicas antologias de contos dos novos escritores e escritoras brasileiros que começaram a publicar na década que acabou lhe dando o nome: Geração 90 - Manuscritos de Computador e Geração 90 - Os Transgressores.

Os dois livros trazem, em sua maioria, textos de escritores que começaram publicando na Internet, seja em sites, ou blogues e e-zines, tornando-se uma das características sócio-lingüísticas mais marcantes dessa geração - o que nos pode remeter, por exemplo, à Geração Mimeógrafo e seu modo de produção-publicação: o do-it-yourself literário.

Desta forma, já não é preciso que uma grande editora publique sua literatura: basta começar a publicar num blogue, ficar um pouco conhecido no meio, juntar os amigos, abrir uma editora nanica e publicar seus escritos em livro a ser julgado pelas estantes do tempo e do acaso. Em suma, a literatura está tão acessível hoje em dia no seu modo de produção para jovens escritores que é como montar uma banda, o que, assim como na música, não indica aumento de qualidade, mas apenas democratização dos meios de produção. Qualidade? Conceitos estéticos? Eternidade? Simplesmente quem é bom ficará, como sempre ficou.

Foi nessa geração 90 que surgiram tantas pequenas e interessantes editoras, como a Livros do Mal, a Ciência do Acidente, Edições K, Baleia, etcs. Editoras que surgiram para o escoamento dessa nova turma que não cabia nos moldes canônicos das grandes editoras, conjunto de forças poéticas sempre necessárias à renovação de linguagem de qualquer literatura de qualquer País.

É por isso que as antologias de Nelson de Oliveira foram tão importantes: para recortar, segundo sua lógica subjetiva, o que de melhor apareceu em nossa prosa nestes últimos tempos. Gente como Daniel Pellizari, Daniel Galera, Joca Reiners Terron, Marcelino Freire, Ronaldo Bressane, Marcelo Mirisola, Ivana Arruda Leite, Ademir Assunção, Simone Campos, Paulo Scott, Mara Coradello, dentroutros. Jovens escritores, transgressores a seu modo, descendentes de uma linhagem de pesquisa literária urbana-experimental, por vezes lírica, por vezes grotesca e surreal, inspirada de escritores vários, mas que no Brasil pode-se remeter a Oswald de Andrade, José Agrippino de Paula, Reinaldo Moraes, Hilda Hilst, Paulo Leminski, Campos de Carvalho, Sérgio Sant'anna, Márcia Denser, etceteras poéticas por favor.

Essa geração ainda sofre grande debate, com direito a páginas nos cadernos e revistas culturais de grandes jornais, principalmente por causa do termo 'transgressor', pela publicação em blogues - e sua validade como veículo de exposição/informação - e pelo conceito de geração literária. Em épocas donde o modernismo é a regra e a literatura de gabinete parnasiana parece estancada nos livros didáticos, então, transgredir o quê?

Parece que os escritores dessa geração não se importam muito com essa pergunta, e isso não enfraquece de forma alguma a criação literária individual, pois eles estão agrupados como geração devido à contemporaneidade e características literárias em comum: devem sobreviver à cadência de nossa história literária aqueles os quais as próximas gerações de transgressores ou não quiser e ou não puder assassinar.

Voltando a citar Nelson de Oliveira: quantos poetas foram esquecidos da Geração Mimeógrafo para serem celebrados hoje em dia: Cacaso, Chacal, Ana Cristina César? Ou a Geração de 45, que queria se desviar da rota modernista, hoje transpassada pela monumentalidade de João Cabral de Melo Neto?

Portanto, a Internet, ao mesmo tempo em que abriu espaço para este vale-tudo literário, foi - e é - importantíssima para o conhecimento de novas tendências. Sites como o Paralelos e Bestiário são interessantes portais de conhecimento para descobrir o que se está tramando antes da invasão em papel.

O que podemos dizer de tudo isso é que vivemos uma época de pesquisa literária, cuja liberdade é a regra para se invadir blogues de escritores desconhecidos, comprar livretos de contos de autores publicados por editoras que nunca se ouviu falar, acompanhar de perto as feiras literárias e conhecer aqueles que não são convidados para a Festa Literária Internacional de Paraty. Ler para entender a nossa época. Escrever para atrapalhar esse entendimento. Descobrir novos mundos, novas gerações, novas literaturas.

Links
Paralelos
Bestiario
Livros do Mal
Edições K
Daniel Pellizari
Daniel Galera
Joca Reiners Terron
Marcelino Freire
Ronaldo Bressane
Ademir Assunção
Simone Campos
Paulo Scott
Mara Coradello