'Vinícius'
por Marcelo Costa
Fotos - Divulgação
Email
29/11/2005

Já faz 25 anos que o Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo perderam Vinícius de Moraes. Bem, 25 anos são uma vida, mas por mais que Vinícius tenha partido desta para uma melhor, e não esteja presente em carne e osso entre nós, fica difícil não esbarrar nele aqui e ali. Seus poemas, suas músicas e suas histórias cruzam sempre o nosso caminho, o meu ao menos, e ganham desta vez nova oportunidade de "reencontro" no documentário Vinícius, co-produzido pela filha do poeta, Susana de Moraes, e dirigido por Miguel Faria Jr.

A rigor, Vinícius não parece ser um documentário definitivo, e talvez nem queira mesmo ser. Em suas duas horas, compila depoimentos de gente como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Carlos Lyra, Ferreira Gular, Tônia Carrero e Toquinho, entre outros, que relembram fatos marcantes da vida do "poetinha", na tentativa vã de entender o grande mito: boêmio, conquistador, sedutor, poeta, amigo, mulherengo, diplomata, sambista - Vinícius era tudo isso é um pouco mais.

O documentário reconstrói a história do poeta desde sua infância, passando pela sua descoberta da poesia (com forte tom religioso no começo), por seus vários casamentos (foram nove, no total), pelo seu encontro com a música (e com seus vários parceiros), e pela sua talvez maior paixão: o uísque. "Eu estava chegando em casa, e minha mulher estava virando as garrafas de uísque na pia", conta Tom Jobim, em uma gravação de arquivo ao lado do parceiro. "Não adianta. A gente vai e compra mais", completa o maestro, rindo. O uísque foi responsável por várias internações de Vinícius, que sempre saia da cama do hospital para dar um esticadinha no bar e ainda dava um jeito de transformar um palco de show em um cantinho de botequim.

Para amarrar os depoimentos, Miguel Faria Jr. utilizou três recursos: declamações de poemas clássicos de Vinícius ora por Camila Morgado ora por Ricardo Blat (que acabam, por fim, na ânsia de encontrar o tom certo da interpretação, esvaziando alguns textos sublimes, como o Soneto da Separação), novas interpretações de canções do poeta (o grande acerto do filme) e imagens de arquivo (algumas nunca exibidas). O resultado convence, emociona, conquista, mas deixa um gostinho de "falta alguma coisa".

Se nas declamações a dupla de atores deixa a desejar, no quesito música o filme surpreende. Apenas voz e violão, Chico Buarque interpreta Medo de Amar ("A primeira música que ouvi dele", diz Chico), Gilberto Gil apresenta Formosa enquanto Edu Lobo mostra Berimbau, parceria de Vinícius com Baden Powell. Entre os momentos sublimes registrados no palco de um teatro estão interpretações magníficas de Adriana Calcanhoto (Eu Sei Que Vou Te Amar), Zeca Pagodinho (Pra Que Chorar), Mônica Salmaso (Insensatez, Canto Triste), Mariana Moraes (Coisa Mais Linda) e Mart'Nalia (Sei Lá, A Vida Tem Sempre Razão), entre outras. A trilha sonora já foi lançada pela gravadora Biscoito Fino, e reúne todas canções contidas no filme além de algumas declamações e dos depoimentos de Chico Buarque e Caetano Veloso.

A rigor, Vinícius não traz nada de novo para quem é fã do escritor ou sabe um pouquinho daquele que é um dos poetas românticos mais famosos do País, mas é uma obra tão cheia de lirismo que merece ser vista várias vezes além de ser um belo cartão de visitas à obra do mestre. O filme redimensiona o mito Vinícius de Moraes, se distancia de um elogio eloqüente que só visa resgatar o lado bom do biografado (a irresponsabilidade do poeta em relação ao dinheiro é um dos pontos analisados no documentário) e o apresenta para as novas gerações como ele sempre foi: um homem exageradamente apaixonado pelas mulheres, pela música, pela poesia e, sobretudo, pela vida; e que versava:
"Quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores?".

Links
Site Oficial de Vinícius de Moraes
Site Oficial da gravadora Biscoito Fino