O Último Suspeito
por
Marcelo Silva Costa
maccosta@hotmail.com
08/05/2003
O povo brasileiro (principalmente
os apaixonados por futebol) sabe, melhor do que ninguém, que reunir
um monte de craques não é garantia de um bom time. A figura
do técnico é, e sempre será, importante. Dessa forma,
"O Último Suspeito" ("City By The Sea", 2002, EUA) lembra muito
uma seleção sem técnico. Deixados sozinhos, Robert
De Niro e Frances McDormand são capazes de atuações
espetaculares, mas o gostinho de 'falta algo' sempre azeda a boca.
"O Último Suspeito" conta a
história (verídica) de um dedicado policial (yep, De Niro,
excelente) de Nova York, Vincent Lamarca, incomodado por fantasmas do passado
que o visitam constantemente e o inevitável traço cruel do
destino que parece seguir os passos de sua família.
Sobre o passado, uma tragédia.
Seu pai (também um policial), em momento de desespero por problemas
financeiros, tem a 'genial e infeliz idéia' (nas palavras de Vincent)
de seqüestrar um bebê de uma família rica e pedir um
resgate. Na hora da troca, o pai percebe que a criança solta no
banco de trás do carro foi enforcada pelo cobertor e... cadeira
elétrica.
Vincent cresce com esse fantasma lhe
visitando. Ajudou muito ter sido adotado por um policial que o colocou
na carreira e lhe mostrou o caminho, mas não impediu que, como pai,
cometesse uma porção de erros. O maior: o abandono de seu
filho após uma conturbada separação. Joey, o ex-garoto
do papai, (James Franco) está atolado no vício em drogas,
o que não demora para lhe fazer cometer bobagens. A maior: um assassinato.
Assim, temos toda uma história para ser filmada. E qual a verossimilhança
dessa história?
Baseado em um artigo publicado na
revista norte-americana Esquire, "O Último Suspeito" tem mais buracos
que um campo de golfe (e eu nem sei quantos buracos tem um campo de golfe).
Em primeiro plano, a relação pai e filho é o mote
que funciona (e bem) permitindo sérias análises sobre como
criamos e somos criados. Já em segundo, o descuido com a produção
faz com que várias perguntas não sejam respondidas, principalmente
após algumas mudanças circunstanciais da trama em relação
ao verídico.
O que fica para o espectador é
a idéia de que a produção gastou todo o dinheiro no
cachê das estrelas (e olha que a participação de Frances
não tem peso na trama e nem diz a que veio, tanto que nem vou falar
dela nesta resenha, apesar dos méritos da atriz) e ficou sem grana
para gastar com rolos de filmes. Assim, parece que a obra foi filmada muito
rapidamente, em poucas tomadas, com pouco cuidado na edição/produção.
É claro que não tem como criticar a excelente atuação
de De Niro (até dormindo ele deve atuar bem), mas só isso
não segura o filme (time), embora até valha a pipoca.
Por fim, a tradução
nacional novamente deixa a desejar. Um dos atrativos da película
é a decadência de Long Beach, a tal cidade a beira mar. As
tomadas, quase sempre nubladas, funcionam bem em um cenário desolador
de riqueza perdida. Mas é muito pouco. Não tem jeito, entre
o asfalto e a água, "O Último Suspeito" morre mesmo é
na praia.
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