"Star Wars III - A Vingança dos Sith"
por Ronaldo Gazolla
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25/05/2005

Lendo entrevistas com os fãs da saga criada por George Lucas antes que o terceiro episódio estreasse nos cinemas, o sentimento parecia ser praticamente o mesmo: os dois primeiros filmes decepcionaram, mas era preciso ver o terceiro para descobrir se algo mudava. Ou, mesmo que não mudasse, pelo menos para acompanhar o surgimento do vilão Darth Vader. A boa notícia é que algo de fato mudou.

Mostrando a queda do jovem Anakin Skywalker, que se torna Darth Vader, A Vingança dos Sith é um filme bem melhor que seus dois predecessores. Mais que isso, é um filme que não mancha a memória da trilogia clássica e talvez até se aproxime do nível de O Retorno de Jedi, mais fraco exemplar daquela série.

Porém, isso não o livra de possuir alguns defeitos. E muitas de suas qualidades derivam diretamente dos filmes antigos. As cenas nas quais acompanhamos a breve participação dos wookies na trama, para ficar apenas neste exemplo, não são especialmente relevantes por si só. Contudo, como sabemos da sua importância, em especial de Chewbacca, à frente na trama, as mesmas cenas despertam uma emoção extra. É importante ressaltar que esse fato em si não é um defeito – afinal a trilogia anterior já se tornou clássica no gênero. Mas em algumas dessas ocasiões dá a impressão que George Lucas está procurando a saída mais fácil para gerar interesse pelo desenvolvimento dos fatos.

Lucas é um visionário. Ele criou uma saga genial, com certeza. Mas depois desses anos todos, mesmo no melhor filme da nova trilogia, volta a se mostrar meio enferrujado, como seus robôs. Talvez os anos estejam pesando, suspeita que se torna mais forte ao se analisar decisões como a obrigatoriedade da manutenção do título Star Wars não só no Brasil como ao redor de todo o globo, eliminando o nosso velho Guerra nas Estrelas, e as alterações nos filmes anteriores para deixarem as tramas e personagens mais politicamente corretos... O fato é que há inúmeros sinais de sua incompetência como roteirista e diretor ao longo do filme.

O mais grave de tudo é o sentimento de falta de fluidez entre os capítulos. A história parece avançar aos pulos entre os filmes. A cada capítulo parece que temos uma nova versão dos personagens, algum tempo depois. Pior, mesmo apenas no episódio 3, a trama sofre alguns solavancos que deixam algumas reações e desenvolvimentos de personagens soando esquemáticos. A total transformação de caráter de Anakin Skywalker, por exemplo, parece abrupta demais. De um sujeito basicamente bom, ainda que arrogante e ambicioso, ele passa rápido demais a assassino impiedoso. É só Darth Sidious nomeá-lo Darth Vader para que Anakin aparentemente perceba que, afinal de contas, se ele é Vader então deve ser também o vilão da história e é melhor começar a matar um bando de criancinhas para justificar o novo posto.

Algumas interpretações também deixam a desejar, como a atuação desinteressada de Samuel L. Jackson como Mace Windu (assim como nos outros filmes anteriores, só que neste a falha é mais grave devido à maior importância do personagem) e ao desempenho insatisfatório de Hayden Christensen como Anakin/Vader. Quando as falhas de interpretação se juntam às de roteiro e direção temos a cena em que Padmé (Natalie Portman) tenta desesperadamente convencer Anakin a seguir outro caminho, passagem que chega a ser constrangedora.

Ainda assim, por mais defeitos que possa ter, A Vingança dos Sith se sobressai em relação aos capítulos anteriores e, analisado apenas em seus próprios termos, é um bom filme. Este não é o lugar para procurar por uma trama envolvente ou diálogos arrebatadores. A trama nos bastidores políticos (à qual vêm sendo feitas várias associações com o governo de George W. Bush, apesar de Lucas ter escrito o filme antes da crise do Iraque) é de fato interessante, mas é apenas uma parte do filme. A outra, envolvendo os personagens, tem seu desfecho quase que completamente conhecido por todos que viram os outros filmes, restando apenas poucos detalhes.

A força do episódio 3, como de todos os outros bons exemplares da série, reside primariamente no seu poder de entretenimento. Enquanto outros capítulos contavam com revelações importantes na trama, como as relações de parentesco dos personagens principais na trilogia clássica, aqui não há espaço para isso. E A Vingança dos Sith compensa essa impossibilidade com bastante ação, auxiliada pelo fato de ser o capítulo de encerramento da trilogia, para o qual George Lucas guardou os fatos mais relevantes. Como este também é um filme mais sombrio (embora estranhamente não haja uma gota de sangue mesmo após um braço ou uma perna serem decepados), sobram poucos espaços para as gracinhas que vinham se tornando mais habituais e a história se resolve mantendo um ritmo mais acelerado e com mais momentos-chave, evitando que o espectador perca o interesse.

Tecnicamente, o filme também é excelente. A Vingança dos Sith é o mais belo exemplar entre todos os filmes da saga. George Lucas finalmente conseguiu fazer um filme que se aproveita de todas as vantagens oferecidas pelos efeitos visuais de que dispõe. Os efeitos, aliás, se ainda não são completamente verossímeis por conta de um exagero ou outro, estão bem menos falsos que nos episódio 1 e 2. A música de John Williams continua espetacular, marcando com perfeição os momentos decisivos do filme. E até alguns atores dão uma mãozinha, com destaque para Ian McDiarmid em grande caraterização como Palpatine/Darth Sidious e Ewan McGregor, procurando se aproximar do Alec Guinness da trilogia original.

Com o fim da nova trilogia, resta um curioso sentimento de dúvida. A Vingança dos Sith é o filme que veio salvar a trilogia do fracasso e cumpriu seu papel muito bem. Mas com dois filmes que decepcionaram, um terceiro é o suficiente para redimir toda a nova série? Todos os fãs vão dizer que sim. Quem não for tão apreciador ou quem apesar de fã não tratar o assunto tão religiosamente pode ter suas dúvidas. Em suma, essa resposta estará melhor respondida por cada um, levando em consideração antes de tudo quais são suas próprias expectativas e sentimentos em relação a Guerra nas Estrelas.

P.S.: Em tempos de cartilha do governo, a tradução do filme também embarcou na onda politicamente correta. Chega a substituir o já amplamente conhecido "Lado Negro da Força" por "Lado Sombrio da Força". George Lucas, se ficou sabendo, deve ter aprovado.


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