"Sr. e Sra. Smith"
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
10/06/2005

Angelina Jolie e Brad Pitt estampam capas de tablóides e revistas desde quando Sr. e Sra. Smith estava sendo filmado. Corre a boca pequena que os dois viveram um romance nas filmagens, e que esse affair custou o relacionamento de sete anos com a ex-Friends Jennifer Aniston. Quer saber: essa história é mais interessante que o filme. Mas, primeiro a obrigação, depois a diversão.

Sr. e Sra. Smith é a refilmagem de uma série televisiva em que dois assassinos de aluguel que são casados recebem missões para que um mate o outro. Por mais que o mote pareça chinfrim, a história até que é bacaninha, e resulta em um filme ótimo para se ver na Tela Quente, e isso não o desmerece.

Grande parte das cenas bacanas resultam das ótimas atuações e, principalmente, do entrosamento de Angelina Jolie e Brad Pitt. O casal passeia com desenvoltura e humor pelo roteiro que brinca com as personas secretas dos dois assassinos. Mais: é possível percebe a química no ar. Engraçado mesmo é quando o cinema cruza com a vida real.

O casamento de Jane e John Smith está em crise. Os dois não transam, não conversam na mesa do jantar e não conseguem conviver sobre o mesmo teto após cinco (ela diz que é seis) anos de relacionamento. Para tentar contornar a situação, eles decidem fazer terapia de casal, e o filme começa em uma destas sessões.

A trama segue e, aos poucos, vamos sendo apresentados às verdadeiras personas de nossos amigos, que eles mesmos desconhecem. As máscaras caem assim que ambos são enviados para a mesma missão, e acabam se sabotando. Quando partem para descobrir quem sabotou quem é que descobrem que ambos dormem com um assassino profissional em casa, e começam a se caçar, literalmente.

Dezenas de explosões, muitos tiroteios e várias perseguições depois, o que fica é um filme bacaninha, que só incomoda quando aposta na surrada saída de transformar pessoas comuns em seres indestrutíveis. É quando dez tiros dos Smith atingem dez inimigos e cem tiros dos inimigos não acertam o alvo (e quando acerta, pára no colete à prova de bala, que seus adversários, também assassinos, nunca estão usando).

No entanto, isto tudo é pequeno perto da grande sacada romântica que é o filme, que prova, de uma vez por todas, que relacionamento nenhum resiste a uma outra paixão. Juramos amor eterno, planejamos envelhecer juntos e sonhamos com um futuro comum sem saber que estamos decorando um quarto no último andar de um castelo de cartas. Tudo pode desmoronar a qualquer momento.

E é certo que vai desmoronar mesmo? Não. Pode durar a vida inteira. Em relacionamentos não existe verdade absoluta, além de que tudo realmente vai acabar um dia, por gosto, tiro ou velhice. Porém, assim como viver é acumular tristezas, se relacionar é viver a espera do fim. Claro que isso é algo que só descobrimos quando as coisas já estão indo de mal a pior, e nossa fé em continuar amando nossa metade (e acreditando que é pra sempre) é o exemplo de que o ser-humano é fielmente sincero a si mesmo, e aos seus sonhos. Amar é sonhar, sempre.

Por mais que Brad Pitt vivesse um casamento perfeito com Jennifer Aniston, como é que ele poderia resistir a uma Angelina Jolie pelo caminho. O que dizer de uma das mulheres mais bonitas do mundo, que nas horas vagas visita países pobres em nome da Unicef, e ainda por cima tem fama de bem humorada. Distante até que é possível agüentar, mas dançando juntos de rostinho colado (como em uma das primeiras cenas do filme), tem que se estar amando muito outra mulher para não jogar tudo para o alto.

Descrença na fidelidade? Mais ou menos. A fidelidade existe no grau em que existe amor. Como ser fiel a uma pessoa que não se ama? Parece desonesto, né. Reformulando: Você deixaria de “ficar” com alguém por quem está se apaixonando só porque vive um relacionamento com outra pessoa? Não? Tá, vou acreditar. Ainda tenho fé nas pessoas, mas o fato que este episódio destaca, muito mais interessante que o filme, é que o casamento como instituição morreu, obrigado.

E isso é bom. Mais do que qualquer coisa, o que acaba interessando não é a embalagem, e sim o que tem dentro dela: o amor. É o amor que mantém as coisas nos eixos. Alguém pode dizer que este texto enaltece a infidelidade enquanto obscurece o amor. Nananinanão. Somos fiéis quando amamos, e podemos amar a mesma pessoa a vida inteira (tem gente que tem essa sorte). Não há prazo de validade para o amor, para o bem e para o mal. Como escreveu sabiamente Vinicius de Moraes certa vez, é "eterno enquanto dure".

Se o casamento de Pitt e Aniston acabou por causa da Angelina é porque tinha realmente que acabar, algo não devia estar indo muito bem. Muitas vezes, precisamos de um pequeno empurrão para tomarmos certas decisões que tememos, ou senão estaríamos condenados a viver eternamente um situação de obrigação, como a do personagem de Daniel Day-Lewis no cortante A Época da Inocência, de Scorsese. Ele é um advogado que está prestes a se casar com a filha (Winona Ryder) de um aristocrata local, mas acaba se apaixonando pela prima (Michelle Pfeiffer) de sua noiva. Ano: 1870. Não se cancela casamentos. E não é costume dizer tudo que se está sentindo. O desenrolar da trama é uma aula de comodismo e sofrimento. É difícil chegar inteiro ao final da fita.

Partindo deste ponto de vista, Sr. e Sra. Smith é muito mais interessante como perfeita metáfora para a imperfeição do casamento do que como obra cinematográfica. Você se diverte com as cenas de ação e romance do filme, e pensa como é que um homem resistiria a uma mulher daquelas, e vice-versa, afinal, quem vai dizer que ela também não se apaixonou... Ao final, não deixa de soar engraçado ver os personagens de Pitt e Jolie fazendo terapia de casal. No entanto, não se engane logo aqui na última linha. Famosas sejam as últimas palavras. O casamento morreu, mas o amor permanece vivo. Reticências...


Site Oficial de "Sr. e Sra. Smith"