Sinais
por
Marcelo Silva Costa
M. Night Shyamalan é um gênio.
Ok, ok, peguei pesado, né. Bem, vejamos. Shyamalan ganhou destaque
no cinema com seu terceiro filme, "O Sexto Sentido", fábula sobre
um menino que via pessoas mortas, responsável por um dos finais
de filme mais geniais dos últimos quinze anos, no mínimo
(tempo em que freqüento salas de cinema).
"O Sexto Sentido" foi indicado ao
Oscar de melhor filme, Shyamalan teve roteiro e direção citados,
Haley Joey Osment (o tal menininho) quase papou o Oscar de coadjuvante
e muita gente começou a levar Bruce Willis a sério. Shyamalan
conseguiu praticamente o impossível em seu filme.
Dois anos depois veio as telas "O
Corpo Fechado". Na linha suspense da estréia, o diretor criou
outra fábula, aqui, amparada em quadrinhos. A eterna luta entre
o bem e o mal, blá blá blá. Bruce Willis, novamente,
é o único sobrevivente de um descarilhamento de trem. O fato
de ter sobrevivido a tragédia faz nosso amigo questionar sua invulnerabilidade.
O argumento novamente cita o inacreditável, mas quem não
se liga muito no universo de quadrinhos acaba achando o filme menor, já
que a história funciona como adaptação de um herói
qualquer. Se "Sexto Sentido" era nota dez, este "Corpo Fechado" fica na
nota 7. Shyamalan sai devendo. Um filme excelente e um mediano. A prova
dos nove fica para o terceiro, "Sinais" (Sign – 2002), não a toa,
o filme que encerra o que a imprensa tem chamado de "Trilogia do Medo".
"Sinais" repete a formula Shyamalan
de cinema, o que já é um ponto e tanto para um diretor tão
novato. Pegue um tema sobrenatural, coloque uma pessoa perturbada no papel
principal e uma criança dócil e inocente para posar de filho
correlacionando em importância os dois papeis. Escreva uma história
com um q de possível, amarre tudo isso em um bom roteiro e, tchan
tchan tchan, temos um excelente filme.
Graham Hess (Mel Gibson) era padre
até perder a mulher em um acidente automobilístico. Com ela,
o padre também perde sua fé, abandona a igreja e decide tocar
sua fazenda, com um casal de filhos pequenos e seu irmão mais novo.
Tudo segue bem até que Graham nota algo estranho em sua plantação
de milho: um enorme círculo milimetricamente redondo e que, percebe-se,
não poderia ter sido feito por humanos. Olhando de cima, vemos uma
seqüência de sinais.
Desse ponto em diante somos apresentados
a família Hess: o menino Morgan (Rory Culkin) sofre de asma; a menina
Bo (Abigail Breslin) tem problemas com água, além de visões;
o irmão Merril (Joaquin Phoenix) é um ex-jogador de beisebol,
problemático. Estas poucas informações de cada personagem
tem tudo a ver com o desenrolar da trama, genial, quando nos veremos frente
a frente com seres de outros planetas. Anote.
Se em seus dois filmes anteriores,
Shyamalan amparava o inacreditável em seres humanos (um homem morto
em fase de transição em um, um homem "inquebrável"
em outro), em "Sinais" a fé é testada com alienígenas.
Mais do que discutir se a forma é esta, o diretor quer provar que
não existem coincidências, amarrando o filme todo de forma
detalhista e ultra-maxi-hiper genial. Assim, o que importa é se
você acredita ou não em purgatório ("Sexto Sentido"),
em pessoas iluminadas com um dom divino ("Corpo Fechado") tanto quanto
em seres extra-terrestres ("Sinais"). Os três objetos do diretor
são tão sobrenaturais um quanto os outros e se não
funcionam no mundo real (ok, ok, há controvérsias), na sala
de cinema angustiam, assustam e empolgam.
M. Night Shyamalan é gênio.
Vem sendo comparado a Steven Spielberg (revista "Time") e Alfred
Hitchcock (o jornal "The New York Times") não a toa. Se colocarmos
em questão que poucos diretores novos tem surgido com histórias
geniais para contar, Shyamalan se destaca. Quentin Tarantino parou no segundo
filme, "Pulp Fiction" ("Jackie Brown" é auto-cópia). Talvez,
no mesmo nível de Shyamalan esteja Paul Thomas Anderson que após
o bacana "Boogie Nights - Prazer Sem Limites" e o belo "Magnólia",
lançou "Punch-drunk love", ainda inédito no Brasil.
O fato é que Shyamalan lançou,
em cinco anos, três filmes arrebatadores, acima da média e,
principalmente, com estilo. Nas três obras em questão podemos
ver a mão do diretor, o traço do roteiro, a genialidade das
histórias. Em tempos de cinema feito para vender artistas, Shyamalan
vende histórias (ele não só dirige como escreve e
roteiriza seus filmes). E, melhor, histórias que ficam, não
só por serem contadas de forma genial, mas também por ampararem-se
tanto no sobrenatural quanto no possível.
Injetando inteligência em uma
arte cada vez mais preocupada com bilheterias, Shyamalan é o homem,
pois consegue, ainda, sucesso de crítica e público. Coincidência?
Não, caro leitor, não existem coincidências.
Numa palavra: filmaço.
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