'Quase Um Segredo'
por Gabriela Froes
Fotos - Site Oficial
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09/01/2006

Existe um consenso sobre o que é a adolescência norte-americana, de acordo com Hollywood. Tem que envolver um grupo de amigos que não foi formado na classe da escola (visto que eles têm idades diferentes, entre 13 e 17 anos, geralmente), tem que ter um lugar bem deserto pra alguém morrer, ou pra que eles encontrem um corpo, ou algum acontecimento afim, e isso acontece sem que ninguém veja nada a não ser eles, e eles têm que imediatamente amadurecer e puf! E-pi-fa-ni-a. Suas vidas nunca mais serão as mesmas, e eles estarão, a partir dali, ligados através de um elo invisível de amizade.

Com Quase Um Segredo (Mean Creek), filme de Jacob Aaron Estes de 2004 e que só chegou aqui agora, não podia ser diferente. Tem os meninos, a floresta, o rio, o corpo, tem até pacto de sangue. Mas nem por isso a gente sai do cinema arrependido; tem histórias que merecem ser vistas mais uma vez e mais uma vez.

O filme conta com Rory Culkin, que finalmente aparece em um papel com mais de cinco falas, e outros meninos que você já viu em algum filme, mas não lembra qual. A verdade é que você nunca os viu, mas eles se parecem com meninos de filmes como esse, filmes de amigos descobrindo a adolescência e amadurecendo a partir de uma experiência "adulta". Filmes como Stand By Me, de Rob Reiner, da época em que River Phoenix era vivo e fazia filmes bonitinhos como este e se alguém contasse que ele usava drogas ninguém acreditava. Época de filmes como Running on Empty (lembram da cena da família na cozinha cantando Fire and Rain? Uma fofura), também um romancezinho de formação, também com Phoenix, mas com a presença dos pais e não dos amigos.

Mean Creek é uma história bobinha, mas que é uma graça de se ver. O menino Culkin apanha mais uma vez do grandalhão de sua turma da escola e seu irmão, junto com dois amigos, resolve que chegou a hora do gordinho abusado levar um susto para "ficar esperto". Partem então para um passeio de barco Culkin, sua pseudo-namorada, seu irmão e os dois amigos e, é claro, o desavisado batedor de colegas e sua câmera - porque ele adora registrar cada instante de sua vida. Dentro do barco a história acontece, medos são confessados, fraquezas delatadas, anseios resolvidos. Até que a morte os separa.

O filme é tenso mesmo quando a gente já sabe o que vai acontecer, assim como a clássica cena das sanguessugas em Stand by Me nos deixava roendo as unhas. Tem momentos bonitos e declarações de amizade profundas, mas são poucas as cenas alegres ou que fazem o espectador sorrir. O final deixa a desejar com seu tom redentor, mas é só no último minuto. Até lá, nos colocamos todos na pele de Culkin (ou fui só eu?), somos vingativos, nos arrependemos, sentimos culpa, medo, ansiedade, felicidade. Amadurecemos de novo.

Existe um consenso sobre o que sejam bons filmes sobre a adolescência. Eles não têm que ser grandes obras cinematográficas, não precisam de efeitos especiais e galãs não são essenciais. O amor tem que passar pela tangente, não sendo o tema central, e a palavra-chave é 'aventura'. Ainda que ele não faça lembrar da sua adolescência de forma específica, um bom filme sobre a adolescência faz você lembrar da sua adolescência, das descobertas, da inocência, das brincadeiras, dos amigos, daquela menina de rabo-de-cavalo que sentava na sua frente e jogava os cabelos sobre o seu caderno de propósito, ou o menino que adorava jogar bola e vinha suado lá da quadra de esportes só pra implicar com você. Quase um Segredo é exatamente assim. Não podia ser diferente.

Tem histórias que merecem ser vistas mais uma vez e mais uma vez. Tem histórias e temas que são universais, não importa onde-como-quando-por quê. Vale a pena ver, e ponto.


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Site Oficial do filme "Quase Um Segredo"