"Os Produtores"
por
Marcelo Costa maccosta@hotmail.com
05/01/2006
Eu detesto musicais. Detesto, detesto, detesto. É preciso dizer isso, desse jeitinho mesmo, para que você, caro leitor, entenda o quão bacana é Os Produtores, refilmagem de um filme original de 1968 (Primavera para Hitler) e adaptação do teatro para o cinema de uma peça da Broadway de 2001, todos sob a coordenação de Mel Brooks. O diretor - que já assinou obras incontestes do cinema cômico mundial como Banzé no Oeste e O Jovem Frankestein - revisita seu primeiro grande filme e diverte o espectador com uma história envolvente, satírica, bem escrita e bem interpretada.
A rigor, Os Produtores conta a história de um produtor teatral da Broadway que têm a fama de ser o diretor mais pé frio da cena local. Tudo que Max Bialystock toca vira lixo, um fracasso retumbante. Tudo muda na vida do produtor quando um contador lhe diz que, via de regra, um fracasso pode gerar muito mais lucros do que um sucesso. A estratégia é simples. Arrecada-se uma fortuna, monta-se o espetáculo com 10% desta fortuna, ele se transforma em fracasso, é retirado de cartaz, e os donos da peça ficam com os outros 90% do montante. Fácil, não?
Porém, o leitor se pergunta: como montar uma peça buscando que ela seja um fracasso retumbante de crítica e público? Muito simples, meu caro amigo, muito simples. Pega-se o pior roteiro já escrito, coloca-se o diretor de teatro mais fracassado da Broadway à frente do projeto, e destaca-se uma atriz sueca que têm pouca familiaridade com a língua inglesa para um dos papéis chaves da montagem. Depois disso tudo é só deixar eles se divertirem nos ensaios, que tudo irá seguir o planejado. Não tem erro. Ou tem?
Os Produtores é muito mais teatro do que cinema. A começar pela atuação da dupla Nathan Lane (o produtor Max Bialystock) e Matthew Broderick (o contador Leo Bloom), que encarnam na telona os mesmos papéis premiados na Broadway. Desde os primeiros minutos de exibição, a caricatura pesada dos personagens ambienta a história. Caras, bocas, gestos e situações tragicômicas fazem do começo do filme um território de adaptação para o público. Se você conseguir passar pelos 15 minutos iniciais, provavelmente irá adorar o que virá na seqüência. Mesmo assim, a ambientação não é fácil. Mel Brooks vai do chulo ao genial em questão de segundos.
Ultrapassada a fase de adaptação, Os Produtores se torna
um grande musical. As presenças estelares de Uma Thurman (com
a cantora/atriz sueca Ulla) e Will Ferrel (excelente como o
roteirista Franz Liebkind) engrandecem a história, assim como
Gary Beach (impágavel como o diretor de teatro Roger De Bris)
e Roger Bart (o atacado assessor Carmen Ghia) são responsáveis
por alguns momentos luminosos da fita, mas tudo gira em torno
de Nathan Lane e Matthew Broderick. A química da dupla é o que
movia a peça, e que faz do filme um grande achado. Exagerado,
histriônico e improvável, Os Produtores brinca com fama,
história, senhoras libidinosas e símbolos nazistas. O resultado
é um filme divertido, como uma boa piada pornográfica.
Site Oficial de "Os
Produtores"
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