Premonição 2
por Marcelo Miranda
miranda@areaweb.com.br
19/06/2003

Quando Wes Craven revitalizou o terror adolescente com "Pânico" (1996), o público recebeu muito bem esse ressurgimento, assim como os próprios cineastas, que imediatamente engatilharam milhares de produções seguindo a mesma linha do 'assassino misterioso que trucida bando de jovens desocupados e sexualmente ativos'. São razoáveis exemplos "Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado" e "Lenda Urbana", além de mais dois outros exemplares de "Pânico". Entretanto, nenhum deles trouxe algo de diferente ou sequer um pingo de criatividade, com exceção de "Premonição", lançado em 2000. Dirigido por James Wong (que cuidava de alguns episódios da extinta série de TV "Arquivo X"), oferecia um roteiro bastante curioso e promissor: um grupo de jovens (claro!) escapa de um acidente de avião graças a uma visão premonitória de um dos passageiros. Semanas depois, começam a sofrer mortais acidentes, como se a morte ainda quisesse levá-los com ela. Isso dava margem para os mais absurdos e divertidos acontecimentos, sem que fosse necessário um criminoso de carne e osso. Bastava um fio elétrico, uma árvore, uma banheira, uma tomada para que o serviço sujo fosse feito – e dá-lhe mortes violentas! 

Com o sucesso da fita, uma continuação era inevitável. E não deu outra: "Premonição 2" chega aos cinemas três anos depois do original, contando a história de uma garota que, ao salvar da morte um grupo de pessoas (desta vez, nem todos adolescentes), condena-os à sina de morrerem de outra forma. Para ajudá-los, surge em cena a única sobrevivente do caso anterior. Está feito o cenário para mais um festival de desastres, incluindo tombos, fios soltos, escorregões, empalamentos, placas de vidros traiçoeiras, air bags malvados, troncos e tudo mais que a doentia mente humana (em especial a dos diretores do cinema americano) é capaz de vislumbrar para matar um personagem. 

Se o primeiro filme tinha um atrativo, estava na brincadeira de se criar interessantes acidentes para eliminar cada pessoa. Fora isso, era cheio de furos e incoerências. Ou seja, o grande trunfo para o público era a diversão de ver gente morrendo de maneiras que mesmo Jason ou Freddy Krueger (vale citá-los devido ao seu retorno aos cinemas em breve) jamais pensariam, sempre sem uma pessoa física responsável pelo ato. Já nesta segunda empreitada, até existem curiosas ocorrências, mas desta vez os produtores exageraram e transformaram tudo numa grande piada. O roteiro faz questão de abusar ao máximo para tentar explicar o porquê dos fatos, coisa absolutamente desnecessária (já que isso não vem ao caso numa produção que não tem o que dizer e serve apenas como entretenimento passageiro). Inventam-se explicações mirabolantes para os eventos a cada dez minutos, confundindo a cabeça do pobre espectador. A coisa chega a tal ponto que mesmo um personagem questiona: ‘isso é forçar demais, não acham?'. 

Não é condenável que uma fita desse estilo exagere. Mas no princípio do filme, a sensação que temos é de que veremos uma trama de suspense com alguns exageros obrigatórios do gênero. Quando as coisas saem do controle, não dá mais para distinguir se a intenção era fazer-nos ter medo ou gargalhar, tamanho os absurdos aos quais testemunhamos (a cena final pode ser considerada hilária ou de extremo mau gosto, dependendo do ponto de vista – eu fico com a primeira opção). Algumas seqüências são até bem feitas, como o engavetamento de veículos e a morte pelo macarrão (só vendo para entender), mas todas acabam sendo previsíveis e óbvias, sem o resquício de originalidade que existia no filme anterior. O diretor David Ellis pelo menos não piora a situação, evitando as irritantes cenas de susto por meio do aumento da trilha sonora. Em compensação, deixa tudo fluir no piloto automático, seguindo a cartilha de direção do gênero (câmera frenética e cortes rápidos). O elenco nem vale um parágrafo deste texto, pois todos estão na mesma categoria: a dos atores ‘Malhação’, cuja única maneira de expressar preocupação é torcendo a boca para o lado. Sem contar a inconcebível forma como eles recebem a morte dos outros (com um grito esganiçado ou simplesmente ignorando e fugindo para algum lugar). 

"Premonição 2" está a um passo do terror trash, só se salvando pelo orçamento razoavelmente polpudo para o estilo (U$ 26 milhões). Uma típica continuação desnecessária, feita exclusivamente para ganhar dinheiro em cima de um sucesso interessante. E pensar que nem mesmo sátiras como "Todo Mundo em Pânico" acabaram com a praga das produções de terror adolescente – ainda que elas próprias não estejam mais se levando a sério. 

PS: a falta de originalidade e a ganância de "Premonição 2" é tamanha que seu cartaz é IDÊNTICO ao do filme original, mudando apenas os atores. Lamentável...