"Piratas do Caribe - O Baú da Morte"
por Marcelo Costa
Email
28/07/2006

Johnny Depp conseguiu uma dualidade rara na vida de qualquer mortal: ser desejado pelas mulheres e admirado pelos homens. E, vamos combinar, o mérito é todo dele. De uma parceria produtiva com o maluco e genial Tim Burton - que rendeu cinco ótimos filmes: Edward Mãos-de-Tesoura, Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolate e Noiva Cadáver - passando por peliculas indies (Medo e Delírio, adaptação do badalado livro de Hunter Thompson, e Dead Man, de Jim Jarmusch, em que encarnava um personagem chamado William Blake) até obras de sucesso como Platoon, Em Busca da Terra do Nunca e, por que não, Don Juan deMarco, Johnny Depp construiu sozinho a sua persona no cinema, e agora colhe todos os frutos com seu personagem de maior sucesso: o Capitão Jack Sparrow, da excelente franquia Piratas do Caribe.

O sucesso de Piratas impressiona. O filme deixou para trás o recorde de Homem Aranha 2 e assinalou um histórico novo recorde de bilheteria ao recolher 132 milhões de dólares em seu primeiro fim de semana nos Estados Unidos. Piratas tornou-se o primeiro filme a recolher mais de 100 milhões de dólares de bilheteria em apenas dois dias e também o único a obter 55,5 milhões de dólares num dia, segundo dados da Exhibitor Relations. Em dez dias o filme já somava US$ 258,2 milhões caminhando para outro recorde: o do filme que mais rapidamente chegou aos 300 milhões de dólares (16 dias, contra os 17 do último Star Wars). Tudo isso fez com que Piratas do Caribe: O Baú da Morte aparecesse no topo das bilheterias nas últimas três semanas. Quer saber: 90% do mérito do sucesso do filme é de Johnny Depp. É sério.

Piratas do Caribe - O Baú da Morte começa exatamente de onde Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra terminava: o romance dos personagens de Orlando Bloom (Will Turner) com Keira Knightley (Elizabeth Swann). O casal, que finaliza o primeiro longa com um beijo, agora está prestes a se casar, quando através de uma ordem judicial é decretada a sentença: Will e Elizabeth são condenados a morte por ter ajudado o perigoso Capitão Jack Sparrow a fugir. Com 20 minutos de filme já é possível perceber algumas mudanças: enquanto A Maldição do Pérola Negra privilegiava a história, com um roteiro bem mais cuidadoso, este O Baú da Morte privilegia a ação e as piadas pastelão. Indo por um rumo diferente, este segundo filme arriscou ao deixar mais vácuo na história em privilégio das piadas, e o risco valeu a pena: O Baú da Morte é tão bom (e às vezes até melhor) que A Maldição do Pérola Negra.

Porém, apesar do imenso sucesso, uma coisa é preciso ser dita: quando Johnny Depp não está na tela, o filme se torna quase enfadonho. É latente a forma que a história depende não só de seu personagem, mas de seu carisma. Isso já podia ser observado no primeiro longa, que demorava a engrenar, já que o Capitão Jack Sparrow só surgia em cena quase com meia hora de projeção. Agora, Johnny Depp parece carregar todo o oceano nas costas. Os três oceanos. Cada aparição sua é festejada pela platéia. Sua nova encarnação de Jack é muito mais cômica, divertida e ousada que a do primeiro filme. Depp brilha tanto que, quando sai de cena, ofusca as boas atuações de Orlando Bloom (bastante convincente) e Keira Knightley (o nariz mais lindo da Bretanha). É uma equação simples: com Jack em cena o filme fica excelente. Sem ele, o filme fica apenas bom.

Como é centrado na ação, a história deste segundo filme é bastante banal, e muito mais sobrenatural que a do filme de estréia. Desta vez, Jack Sparrow têm uma dívida de sangue para saldar com Davy Jones (Bill Nighy), o capitão morto-vivo do assombrado navio Flying Dutchman. Caso não cumpra sua parte no tratado, a alma de Sparrow será condenada a trabalhar para Davy Jones pela eternidade. Temendo ser amaldiçoado a uma vida após a morte como escravo, Sparrow precisa encontrar o misterioso baú da morte para escapar da ameaça. Bobagem, não? Muita, mas quer saber: Depp faz milagres com seu personagem e merece ser visto. O único ponto negativo do filme é não se fechar em si mesmo. A cena final já abre caminho para o terceiro episódio da franquia, que chegará aos cinemas apenas no ano que vem. Defeito mínimo, que não atrapalha a diversão, mas a deixa incompleta. Porém, Johnny Depp vale a pipoca, a coca-cola e as risadas.


Leia Também
"Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra", por Diogo Mattos
"A Noiva Cadáver", por Marcelo Costa
"A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça", por Marcelo Costa

Links
Site Oficial