Austin
Powers em O Homem do Membro de Ouro
por Ronaldo
Gazolla
www.areaweb.com.br/cinefilia
O primeiro Austin Powers ('000 Um
Agente Nada Discreto', de 1997) fez relativo sucesso nos cinemas, apresentando
os personagens do próprio Powers, o melhor agente secreto britânico
no final dos anos 60, e seu maior inimigo, o Dr. Evil, ambos vividos por
Mike Myers. Era um filme de baixo orçamento, sem grandes pretensões,
feito exclusivamente para permitir que os espectadores (e os atores) se
divertissem. Estourou pra valer em vídeo. Daí veio a continuação
('Um Agente Bond Cama', de 1999), um grande sucesso nas bilheterias que
aumentou a popularidade dos personagens principais, além de apresentar
alguns outros. Na trama o Dr. Evil roubava o mojo (o que lhe garante o
charme e o sex appeal) de Austin Powers. Com o sucesso obtido garantiu
que fosse produzido um terceiro filme. Mas parece que Austin Powers perdeu
seu mojo definitivamente.
Na trama (que sempre foi o menos importante
em todos os filmes da série) o Dr. Evil e seu clone ‘de bolso’ Mini-Mim
(Verne Troyer) fogem da prisão e voltam no tempo até 1975
seqüestrando o pai de Austin Powers, Nigel Powers (Michael Caine)
e se aliam ao vilão Goldmember, um holandês bastante esquisito
que sofre de sérios problemas de pele, para juntos dominarem o mundo.
O segundo filme já era um pouco
repetitivo. Mas agora esse se tornou um problema crônico, como é
possível notar já pela sinopse do filme. A trama utiliza
novamente o tema das viagens no tempo, um dos pontos altos do filme anterior
e que aqui não tem nenhuma serventia ou justificativa para sua utilização.
Além disso novamente são feitas piadas com projeções
de ‘sombras de duplo sentido’, personagens com má dicção
ou nomes que proporcionem dupla interpretação, entre outras
piadas já usadas exaustivamente. O próprio filme parece admitir
isso em uma cena na qual um dos vários convidados especiais reclama
que a série usa sempre as mesmas piadas.
O principal atrativo deste filme é
mesmo essa sucessão de participações especiais. É
mais interessante ver o filme sem saber previamente quais são os
nomes envolvidos, mas dá para adiantar que são alguns dos
maiores da atualidade. Aliás, não deixa de ser sintomático.
O primeiro filme era muito engraçado e ia além da simples
paródia a 007 usando um ponto de partida que tinha tudo para dar
errado, o da necessidade de se adaptar a novos tempos. Apesar disso fez
pouco sucesso, principalmente no Brasil, mas a idéia de ter Mike
Myers interpretando o herói e também o vilão foi muito
bem aproveitada.
O segundo apelava para mais piadas
de baixíssimo nível, mas introduziu novos personagens como
o divertido Mini-Mim e a agente Felicity Shagwell (qual foi mesmo a tradução
estúpida para esse nome?), com seu figurino espetacular. Tivemos
que aturar o péssimo Igor Dão (Fat Bastard no original –
tradução tão estúpida que é impossível
esquecê-la), também interpretado por Myers enquanto seu ego
começava a aumentar, mas no saldo geral ficava acima da média
e alguma piada sempre permanecia na memória após o filme.
Neste terceiro são poucas piadas dignas de serem lembradas e o destaque
são os convidados. E Myers ainda interpreta um quarto personagem:
o chatíssimo vilão Goldmember, que não acrescenta
nada a um filme que já possuía um vilão muito mais
legal, o próprio Dr. Evil. Parece existir apenas para Mike Myers
poder aparecer um pouco mais. Se não abrir o olho, Myers continuará
no mesmo caminho de Eddie Murphy e seu insuportável ‘O Professor
Aloprado’. No lugar de Heather Graham agora temos, como Foxxy Cleopatra
– o novo par de Austin Powers – Beyoncé Knowles. Quem lhe deu o
papel deve levar jeito para a comédia. O único personagem
novo que, se não chega a ser ótimo, provoca boas piadas,
é o Número 3 (Fred Savage, o protagonista da série
‘Anos Incríveis’), dono de uma desagradável pinta abaixo
de seu nariz, o que se torna fonte de obsessão de Austin Powers
e do Dr. Evil.
Como já foi mencionado, a série
sempre se destacou no Brasil por algumas de suas traduções.
Para realizar a adaptação das piadas de "O Homem do Membro
de Ouro" chamaram então o pessoal do Casseta e Planeta. Eles realmente
deixam a sua assinatura, afinal quem mais traduziria Foxxy Cleopatra como
Fiofoxy Cleopatra? Fora isso, eles se esforçam para traduzir algumas
piadas que são, na verdade, intraduzíveis. Às vezes
fazem um bom trabalho, outras se distanciam um pouco do sentido original.
Felizmente optaram por não fazer qualquer adaptação
e traduzir literalmente uma das melhores piadas do filme, a confusão
com as legendas que Austin Powers lê quando está no Japão.
Há sempre algum objeto branco onde elas aparecem, o que causa uma
interpretação errada por parte do espião (e da platéia),
mas quando o cenário é modificado torna-se possível
entender o sentido real do que foi dito. Uma divertida brincadeira com
o próprio filme.
Infelizmente, para cada um destes
poucos acertos existe uma quantidade muito maior de erros e desperdícios,
como são os casos das cenas parodiando "O Silêncio dos Inocentes"
com o Dr. Evil preso em uma cela como a de Hannibal Lecter e "007 Contra
Goldfinger" onde Michael Caine está preso em um aparelho semelhante
ao usado naquele filme. É triste ver que nem mesmo as frases de
efeito criadas por Mike Myers surtem tanto efeito assim. Mas como o filme
fez sucesso nos Estados Unidos é muito provável que haja
um quarto episódio. O que é um erro. Claramente está
na hora dessa série ser encerrada.
Texto cedido pelo site
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