O Vingador
por
Diogo Mattos
diogo@areaweb.com.br
01/09/2003
O gênero policial está
para os homens assim como as comédias românticas estão
para as mulheres. Salvo raríssimas excessões, os enredos
se repetem, passando aquela sensação de "eu já vi
isso antes". Nas comédias românticas, todo mundo sabe que
a mocinha e o galã passarão por desencontros e se envolverão
em trapalhadas até o final feliz. E, mesmo assim, a mulherada adora.
Os homens só agüentam para não desapontar a namorada
que está ao lado. Com os policiais, acontece algo semelhante. O
herói é um sujeito sério, com cara de mal, destemido
e respeitado pelos colegas. Até que surge um vilão rico e
poderoso (geralmente ele aparece no início do filme em alguma cena
com uma mulher gostosa e semi-nua). O vilão costuma seqüestrar
ou matar alguém muito querido de nosso herói (a esposa ou
o filho são os alvos preferidos). Aí, então ele irá
desafiar a própria polícia, jogar seu distintivo fora (que
cena mais batida!) e partir atrás de vingança por conta própria.
Não sem antes dizer a famosa frase que não pode faltar neste
tipo de produção: "Agora isso é pessoal". No fim,
este único homem irá derrotar um exército inteiro.
A história de todos eles estão aí, bastando apenas
ajustar um detalhezinho aqui e outro acolá. E o pior é que,
embora há duas décadas atrás o gênero fosse
bem mais popular, ainda tem marmanjo que adora. Para os machões
cheios de testosterona, "O Vingador" (A Man Apart - EUA, 2003) pode até
ser um bom programa. Dá até para deixar o cérebro
descansando por duas horas, poupando-o para assuntos mais importantes,
como mulher e futebol. Às mulheres, eu recomendo distância
absoluta do filme.
O titulo já entrega grande
parte da história. "O Vingador" que o título anuncia, com
era de se esperar, é o próprio Vin Diesel. Ele faz Sean Vetter,
um policial da divisão de narcóticos que acaba de prender
Memo Lucero, um grande traficante que atuava na fronteira entre México
e Estados Unidos. Epa, mas o que isto tem a ver com "vingador"? Calma,
ainda não terminei. Uma bela noite, homens encapuzados invadem a
casa de Sean e tentam matá-lo. Ele não morre, mas sua esposa...
ih, esqueci de dizer que o sujeito era casado. Mas, também, se dissesse
antes, daria no mesmo, pois vocês logo sacariam que ela iria morrer
e o Diesel passaria o filme inteiro buscando vingança, com a ajuda
de seu fiel parceiro, que no caso é o também policial Demetrius
Hicks.
Mais clichê, impossível!
Mesmo assim, "O Vingador" até que não é perda de tempo.
É um pouquinho melhor que a maioria dos filmes do gênero.
Querem ver? As cenas de ação são um pouquinho mais
bem acabadas, chegando a ser quase dignas de um filme "A". O roteiro tem
furos, mas eles são um pouquinho menores que os da maioria (é
engraçado quando o chefe de Sean diz que sua falecida esposa era
como uma filha para ele sem ter dividido nenhuma cena com a moça).
O drama é um pouquinho mais desenvolvido, com Sean tendo que unir
forças a Lucero para conseguir pegar El Diablo, que tomou os negócios
do traficante e é o principal suspeito de matar a esposa do policial.
E Vin Diesel mostra que tem um pouquinho - mas só um pouquinho mesmo
– de talento a mais que os brucutus mais conhecidos. Pode não parecer
nada, mas tente imaginar Stallone ou Van Damme fazendo o mesmo papel sem
cair no ridículo. De pouquinho em pouquinho, "O Vingador" vai subindo,
subindo... e logo ele está fora da sua lista de piores filmes do
ano. O que já é alguma coisa para um filme onde não
há nenhum momento em que você não preveja o que irá
acontecer em seguida. Méritos todos para F. Gary Gray, um diretor
competente, que vem mostrando merecer um orçamento mais folgado
para suas próximas produções. Ele dirigiu o pequeno
e eficiente "Até as Últimas Conseqüências" e o
excelente e subestimado "Negociação" (com Kevin Spacey e
Samuel L. Jackson). Vamos ver como ele se saiu em "Uma Saída de
Mestre", seu último trabalho, que ainda não foi lançado
no Brasil.
Vin Diesel vem trilhando direitinho
o caminho que seus sucessores abriram. Em tudo que faz na carreira, parece
estar se espelhando em Arnold Schwarzenegger. O austríaco estrelou
"Exterminador do Futuro", "True Lies" e "Vingador do Futuro". Grandes sucessos,
mas todos eles esperados, já que arrasa-quarteirões costumam
ter grande público de qualquer jeito. Mas Arnold também fez
"Inferno Vermelho", "Jogo Bruto" e "O Sobrevivente". Filmes mais modestos,
mas que fazem o cara ganhar fãs fiéis, aqueles que assistem
ao ídolo no cinema, em vídeo e nas inúmeras reprises
na TV. A gente mal se lembra destes filmes (se é que se lembra),
mas, devido à sua natureza de filme "B", acabam ocupando aqueles
horários menos nobres da TV, em que geralmente só os cuecas
estão com disposição de assistir – e sem pensar muito.
A sessão Domingo Maior, da Rede Globo, é o mais clássico
exemplo disso. Antigamente, Clint Eastwood e Charle Bronson imperavam no
horário. Hoje, Schwarzenegger e Van Damme é que são
os reis. Daqui há uns dez anos, pode ter certeza: depois do Fantástico,
só vai dar Vin Diesel. E não com seus maiores sucessos, como
"Triplo X" ou "Velozes e Furiosos", mas com sues filmes menores – "O Vingador"
entre eles.
E, assim, Vin Diesel vai trilhando
seu caminho em direção ao trono de grande astro-brucutu do
cinema de ação, cujo último ocupante foi Arnold Schwarzenegger.
Só desejamos que, para o bem da humanidade, Diesel não planeje
futuramente se tornar governador da Califórnia...
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