'A Noiva-Cadáver'
por Marcelo Costa
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30/10/2005

A Noiva-Cadáver, mais do que um "desenho" filmado de forma singular, é uma obra de autor. Esta fábula macabra-gótica-apaixonada-divertida que conta a história de uma noiva morta que acaba se casando com um rapaz vivinho da silva é perfeitamente inserida na filmografia do cineasta Tim Burton, que conta, entre outros, com histórias de fantasmas inexperientes tentando assustar novos moradores de uma casa (Os Fantasmas Se Divertem, 1988), um rapaz que vive sozinho com tesouras no lugar das mãos (Edward Mãos de Tesoura, 1990), uma divertida invasão marciana (Marte Ataca!, 1996), cavaleiros sem cabeça e peixes grandes. O além-túmulo não surpreende no caso de Burton, apenas realça sua genialidade em trabalhar exuberantemente em território conhecido.

A Noiva-Cadáver é um conto de fadas de tom macabro inspirado no folclore russo, com roteiro (delicioso) assinado por Caroline Thompson, baseado em um pré-roteiro de John August e Pamela Pettler. Conta a história de Victor Van Dorst (na versão original, dublado por Johnny Depp), que em um casamento arranjado, terá de pedir a mão da jovem Victoria Everglot (Emily Watson). Os Van Dorst são peixeiros, toscos e não têm classe, mas têm dinheiro. Os Everglot são aristocratas que, em outros tempos, ostentavam uma grande fortuna, mas agora estão com os cofres vazios, à beira da falência. A saída: um casamento arranjado que "injete" dinheiro na família de um, e fama na família do outro. Bom para os dois lados, não?

Porém, tudo ameaça dar errado quando o jovem Victor, encantado com a beleza de Victoria, e totalmente nervoso, não consegue cumprir o ritual de ensaio do casamento, que acaba sendo adiado até que ele aprenda a dizer os votos sem gaguejar, esquecer as palavras e queimar alguém da família com as velas acesas. Decepcionado, o rapaz sai perambulando sem direção e decide ensair os votos em uma floresta, colocando o belo anel dourado em um galho retorcido, que, entretanto, em outros tempos foi o dedo de uma noiva, assassinada brutalmente, e que esperou por anos e anos até que alguém concluísse o matrimônio: nosso amigo Victor. A confusão está armada.

Ligado à noiva-cadáver (Helena Bonham Carter) pelos laços do matrimônio, Victor acaba descendo ao mundo dos mortos, em passagens aterrorizantemente divertidas. Na cabeça de Tim Burton, o mundo dos vivos é chato e monótono, entre o azulado e o cinza, e com pessoas se movimentando como zumbis. Enquanto isso, o mundo dos mortos é fartamente colorido e divertido, com caveiras chacoalhando o esqueleto (hehehe) ao som do rock and roll, mortos exibindo seus membros (ou a falta deles) mutilados e deliciosas piadas macabras, como caveiras que bebem líquidos (e você vê o líquido atravessando o corpo dela), olhos que saltam do rosto (principalmente da bela noiva-cadáver), aranhas viúva-negra costureiras (Jane Horrocks), vermes falantes que agem como conselheiros (Enn Reitel) e lindos cachorrinhos que reencontram seus donos.

Mais do que qualquer coisa, A Noiva-Cadáver é um filme irmão separado no berço do já clássico O Estranho Mundo de Jack (1993), em que Jack Skellington, o rei das abóboras em Halloweentown, planejava seqüestrar Papai Noel para fazer um natal diferente. Os dois filmes foram criados através da técnica "stop motion", que nada mais é do que bonecos fotografados milhares de vezes em cenas quadro a quadro. Jack demorou dois anos para sair do papel. A Noiva precisou esperar dez anos para ver a luz da lua. Entre um e outro, o mundo absurdo, macabro, gótico e divertido de Tim Burton entretendo o público com uma encantadora história de amor... e morte.

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