"Nicotina"
por Marcelo Costa
Fotos - Divulgação
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08/07/2005

Em tempos de comportamento politicamente correto, Nicotina diverte, provoca e faz pensar com uma generosa dose de humor negro, bons cortes de cenas e uma história divertida que entretem enquanto filosofa: fumar é prejudicial a saúde, mas existem muitas outras coisas que podem ser mais prejudiciais a saúde do que um simples bastonete nicotinoso. Se apaixonar pela mulher errada, por exemplo.

Na trama circular de Nicotina convivem um hacker (Lolo/Diego Luna), uma bela violoncelista (Andréa/Marta Belaustegui), um rapaz metido a malandro que vive teorizando sobre os prazeres do cigarro (Nenê/Lucas Crespi), um coroa com cara de chileno que passa o tempo todo defendendo que quem fuma pode morrer de "blá blá blá" (Thomson/Jesús Ochoa), e um farmacêutico, um barbeiro, um cachorro, um russo...

O roteiro é ultrabásico: nossos amigos entregam o CD errado para um russo mafioso e, em questão de segundos, o que era para ser uma simples negociata acaba se transformando em um banho de catchup ao gosto do freguês. Tudo começa quando Andréa percebe que seu vizinho Lolo a estava vigiando por telefone, câmeras escondidas e o escambau. Basta a bela adentrar o apartamento do rapaz para que a confusão esteja armada.

Lolo estava "queimando" o CD com dados secretos de várias contas de um banco na Suíça a pedido de mafiosos russos. Após a saída da vizinha, com a casa devastada pela mulher, o rapaz confunde o CD que deveria entregar aos mafiosos e transforma o a troca do CD por um punhado de diamantes em uma comédia de erros. Parece uma fileira de dominós caindo um a um. E tudo isso acontece entre baforadas de nicotina.

O diretor Hugo Rodriguez conseguiu dar bastante consistência a trama, e contou com uma ajuda enorme do diretor de fotografia Marcelo Iaccarino, que brinca com as imagens na tela. Os diálogos também são bastante divertidos e o filme como um todo traz um acabamento magnífico. Porém, apesar de ser um filme "redondo", Nicotina é óbvio e deja vu. Parece querer trafegar na mesma linha que alguns dos filmes de Quentin Tarantino, mas o máximo que consegue é se igualar à Vamos Nessa (Go, de 1999).

Vamos Nessa partia da idéia de contar a história de 24 horas na vida de um grupo de jovens amigos, a partir do ponto de vista de três deles. Em Nicotina, o argumento é parecido. A história começa pontualmente às 21h17 em algum canto da cidade do México e termina exatamente 93 minutos depois (tempo de duração do filme), às 22h50. Em ambos os filmes os personagens se cruzam em determinadas situações. O humor negro também passeia pelas duas histórias. Há pouco de novo em Nicotina. Quantas vezes você mesmo pensou que é mais fácil morrer de assalto do que de cigarro?

É claro que inovação e personalidade são elementos discutíveis quando o assunto é apenas diversão. Nesse último quesito, Nicotina é uma boa pedida. A atuação dos atores é ótima, a trama é bem conduzida e tudo se amarra de forma perfeita. Ao final, até dá vontade de dar um trago. E faz lembrar que existem coisas muito mais perigosas a saúde do que fumar um cigarrinho. Ser ganancioso, por exemplo. Anote.


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Site Oficial do filme "Nicotina"