"A Marcha dos Pingüins"
por André Azenha
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20/01/2006

Nós, seres humanos, animais racionais, costumamos ficar abismados quando presenciamos outras espécies do reino animal defendando sua prole, acasalando, vivendo em comunidade e em paz. Geralmente os comentários são do tipo: "que fofo" e/ou "que lindo". E não é de se esperar menos, em tempos que a individualidade cresce cada vez mais e conflitos tomam conta do planeta, tornando a relação entre nós, animais racionais, cada vez mais irracional.

A Marcha dos Pingüins, dirigido pelo francês Luc Jacquet, é deste tipo de filme em que o espectador deixa a sala falando "que fofo" e/ou "que lindo". Conta a trajetória do pingüin imperial, que inspirou o título original, La Marche de L'Empereur (traduzindo: A Marcha do Imperador, nome que chegou a ser anunciado nos trailers aqui no Brasil), que vai da marcha de milhares em fila indiana em busca do local ideal para a procriação, passa pela procura das fêmeas por comida para os filhotes, quando os pais se encarregam de tomar conta dos ovos, até o retorno e o nascimento da nova geração.

As cenas impressionam, mérito do trabalho dos diretores de fotografia Jérôme Maison e Laurent Chalet (esse com experiência em documentário e ficção), que ficaram um ano na Antártica, sem a presença do diretor, captando cerca de 1020 horas de imagens (sendo 70 destinadas a este filme). Em vários momentos esquecemos que se trata de um documentário, já que como em uma história, em sua viagem, os pingüins se deparam com desafios contra grandes tempestades de gêlo, animais que tentam (e conseguem) se alimentar dos próprios e de sua cria, e principalmente pelas vozes que interpretam o casal "protagonista" da narrativa e seu filhote. Aliás, esse é um ponto que vem sendo bastante criticado; porém, melhor assim (algumas vezes chega a ser engraçado escutar Antônio Fagundes e Patrícia Pillar como a dupla central. Ah, sim, o filme no Brasil é dublado!) do que aquelas narrações vagarosas dos National Geografic e programas da Discovery da vida.

Existem também momentos engraçados, como quando os filhotes ganham a liberdade de caminhar sozinhos e escorregam na superfície gelada ou quando duas fêmeas tentam passar ao mesmo tempo em um buraco no gêlo em direção à água e ficam entaladas. Com a intenção de Jacquet de tornar a saga do pingüim imperial uma lenda, grande parte de sua obra acaba por humanizar esse tipo de ave que não voa e sabe nadar. Mas nem sempre é assim. Quando presenciamos uma mãe que perdeu seu filhote tentar roubar o de outra, lembramos se tratar de um animal irracional e que acima de tudo, sua trajetória se dá não por amor (por mais que achemos "fofo" e "lindo" e tentemos acreditar no contrário), mas sim para manter viva a espécie em uma batalha incessante e também bonita, pela sobrevivência.

Em seus 85 minutos, A Marcha dos Pingüins (que teve orçamento de U$ 8 milhões) surge como favorito ao Oscar da categoria. Não dava para esperar menos da obra que desbancou O Fabuloso Destino de Amélie Poulin do posto de filme mais rentável da história do cinema francês e se tornou o segundo documentário mais visto nos Estados Unidos, perdendo apenas para Fahrenheit 11/09, de Michael Moore. Filmado em película, com imagens fantásticas (até das auroras boreais) e bela trilha sonora (de Emilie Simon), A Marcha dos Pingüins é um trabalho praticamente impecável e um belíssimo documentário.


Site Oficial - 'Marcha dos Pingüins'