O Filho
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
07/07/2003
Fazer um filme é, invariavelmente,
contar uma história. Desse modo, cada diretor tem a seu dispor uma
série de recursos para fazer dessa história que tem na cabeça,
algo visual. O modo como usa o roteiro, a câmera, o modo como dirige
os atores, quase tudo em um filme bem dirigido busca tornar real aquilo
que o diretor traz como imaginação em sua cabeça.
Comecei a pensar nisto após
assistir um sessão do filme "O Filho" (Le Fils – 2002 co-produção
Bélgica/França), em uma sala aparentemente cheia, mas que,
com o decorrer da película, começou a ter lugares abandonados,
pessoas que iam embora sem ao menos ter a curiosidade de como a dupla belga
de irmãos diretores, Jean Pierre e Luc Dardenne, iria terminar de
contar a história de Olivier.
Olivier é um professor de marcenaria
em um centro de educação profissional para jovens desajustados
que, acaso dos acasos, reencontra um jovem rapaz cujo ato, anos antes,
resultou em uma tragédia. E a tragédia tem a ver com a antiga
família de Olivier.
Partindo desse ponto, temos pouco
mais de hora e meia frente a frente com imagens projetadas em uma tela
cujo som de fundo é apenas o som do dia a dia. Não há
trilha sonora em "O Filho", músicas mesmo. É o som do martelo,
da madeira sendo cortada, do motor de um carro, de portas se abrindo que
dá brilho a obra.
Os irmãos belgas testam a paciência
do espectador em longas passagens cujo objeto de foco é, quase sempre,
Olivier. Não à toa, o ator que o interpreta, Olivier Gourmet,
levou o Grande Prêmio por Atuação masculina em Cannes,
2002. A interpretação de Gourmet é densa, tensa, um
tanto atabalhoada e, por antagonismo, quase muda. É uma papel defensivo,
que pouco cobra do espectador além da visão, e isso, sim,
deve
incomodar a aqueles que vão ao cinema em busca de emoção.
"O Filho" não é emocionante.
É daqueles filmes que se prendem em seu próprio universo,
refém de uma realidade que julgamos muito familiar e, por isso,
nos faz atentar para nossos próprios atos. Por sua vez, se é
difícil adentrar o mundo de Olivier, a história, principalmente
do meio para o final, fisga o espectador mais turrão, aquele que
se recusou a levantar e sair da sala. E esse interesse resulta do fato
de "O Filho" tratar de uma velha questão milenar na história
da humanidade: o perdão.
Se o leitor não tiver esbarrado
em nenhuma resenha que tenha entregado o sublime e metafórico final,
a sensação de se estar prostrado frente a este filme será
de divagações acerca dos pensamentos próprios de cada
ser, de como cada um lida com o perdão e com a vingança,
do quanto conseguimos aceitar e, mais, enfrentar os traumas passados. Se
conseguirmos...
É claro que este desenrolar
acontece na meia hora final e, desculpe lhe desapontar, não adianta
você assistir somente esse trecho do filme. Para se entender a opção
que Olivier irá tomar, é preciso conhecer sua rotina. E para
se conhecer a rotina deste chefe de marcenaria, um homem separado da mulher,
sem filhos e dedicado ao seu trabalho, será preciso bastante paciência.
O exercício vale a pena.
Porém, se ao final de ler esta
resenha, você desejar ver o filme e após vê-lo odiar,
você me perdoa, caro leitor? É um bom teste para todo nós.
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