"King Kong"
por Ronaldo Gazolla
Fotos - Divulgação
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22/12/2005

Logo após a consagração pela trilogia O Senhor dos Anéis, Peter Jackson anunciou que iria se dedicar à realização de seu grande sonho como cineasta: uma nova versão do clássico de 1933, King Kong. O diretor já havia tentado levar o projeto adiante, mas não obteve apoio de nenhum estúdio. Agora, com uma trilogia de grande sucesso de público e crítica, além de alguns Oscars de bônus, as coisas deviam estar mais fáceis.

A nova versão segue a trama básica do filme de 33, com a descoberta do gorila gigante na Ilha da Caveira e seu encanto com a bela Ann Darrow, passando pela captura do Rei Kong e seu transporte para Nova York, onde é exibido aos curiosos, até a sua fuga e a cena final no topo do Empire State. Mas algumas diferenças são fundamentais.

A mais óbvia é, claro, a questão das grandiosas cenas com efeitos computadorizados, presentes em qualquer produção desse porte. E o filme tem várias, realizadas não apenas com o objetivo de aumentar a adrenalina, mas também para demonstrar sentimento, como na já bastante comentada seqüência em que Kong, segurando Ann Darrow, desliza no gelo do Central Park.

O segundo ponto de divergência em relação ao original é também sua maior qualidade além de sua maior vantagem na comparação com o King Kong antigo. Há agora uma relação entre a atriz, aqui interpretada pela bela e talentosa Naomi Watts, e o gorila, enquanto no original, Fay Wray, no papel que a deixou famosa, permanecia apenas assustada, temendo Kong durante todo o filme. De fato, Peter Jackson merece todos os elogios por realizar esta verdadeira façanha: ele narra com grande habilidade um relacionamento, com todos os seus desenvolvimentos, entre uma atriz de carne o osso e um gorila gigante e totalmente digital, evitando, é claro, cair no ridículo da versão de 76 com aquele relacionamento que chegava a ser sexual. Uma bela lição de narrativa cinematográfica, conduzida com maestria, usando apenas recursos puramente visuais e nenhuma palavra. Ajuda o fato do gorila ser um assombro de realismo, não apenas em seus movimentos, mas principalmente em suas expressões e olhares.

O filme ainda procura repetir a estratégia de Tubarão, ao reservar apenas para segunda hora de projeção a primeira aparição de King Kong. Embora não cause tanto suspense, pois grande parte desse tempo é gasto antes da chegada à Ilha da Caveira, o simples adiamento do primeiro contato do público com o gorila já causa uma certa ansiedade. Além disso, o conceito de que a Ilha da Caveira seria um mundo primitivo, perdido, é expandido de forma tal que a ilha torna-se um lugar habitado por várias criaturas gigantescas e primitivas, como dinossauros, vermes, aranhas e morcegos.

King Kong não é um filme perfeito, possuindo sim, alguns pontos fracos. Mas é tão bem realizado que consegue até mesmo converter seus erros a seu favor. Atores como Jack Black e Adrien Brody poderiam ser encarados como escolhas erradas, pois jamais poderiam personificar o típico herói hollywoodiano comum em épicos como este. Mas isso é uma boa coisa. Além de não forçar a barra para criar um tipo heróico desnecessário, fica mais claro que o verdadeiro (e trágico) herói do filme é o próprio King Kong.

Também alguns dos efeitos especiais não podem ser chamados exatamente de realistas. Caso, em especial, da cena da corrida da equipe de filmagem no meio dos dinossauros. Porém, essas cenas possuem um estilo que, abrindo mão do realismo, se aproxima mais do tipo de efeito usado em produções de outras épocas, como o próprio ‘King Kong’ original. Por isso mesmo carregam um sentimento de nostalgia que faz dessa uma cena eficaz em seu propósito de ressaltar a aventura. E Peter Jackson assume o teor escapista da história, motivo pelo qual ele também gosta tanto do original. Cenas como a fuga de dois personagens que se agarram a um dos morcegos gigantes não poderiam ser realizadas de outro modo. E quando acerta em cheio, surgem cenas memoráveis como a batalha de Kong contra os dinossauros enquanto tenta proteger Ann Darrow como pode ou o emocionante final no Empire State.

King Kong é um filme que obtém sucesso em vários aspectos. Suas cenas de ação, apesar de nem todas completamente realistas, provocam uma sensação de envolvimento que deve agradar ao público que prefere esse cinema mais comercial, sendo que as melhores dessas cenas devem permanecer na memória por um bom tempo.

E envolvendo tudo isso, vem a parte mais dramática do filme: a depressão, a dificuldade econômica, a descoberta de um mundo desconhecido e primitivo, o choque desse mundo com a ganância do mundo mais desenvolvido, a tragédia que resulta desse confronto. Mesmo que não chegue a ultrapassar a excelência da versão original (e esse nem era o objetivo mesmo, segundo o próprio diretor), King Kong já faz parte da seleta lista de boas refilmagens do Cinema.


Site Oficial do filme