Insônia

por Marcelo Costa
24/08/2002

Caro leitor, começo esta resenha sem ter a mínima idéia do que escrever. Sério. Geralmente quando sinto desejo de expressar opinião sobre um determinado filme é porque algo ali me chamou a atenção e eu já tenho uma pequena noção do que quero escrever.

Com Insônia (Insomnia – 2002), porém, foi diferente. A emoção por estar diante de um filmaço misturou-se com alguns detalhes bastante perceptíveis a primeira vista, mas que ficam em segundo plano frente ao majestoso roteiro. Contam a favor, também, as excelentes atuações de Al Pacino e Hilary Swank e o clima claustrofobico que toma o espectador assim que o filme começa e nos vemos sobrevoando as montanhas gélidas do Alaska, local onde se desenrola a história.

Ah, a história, sensacional. Um crime brutal é cometido em uma pequena cidade do Alaska e Will Dormer (Al Pacino), um excelente policial de Los Angeles, é enviado para auxiliar nas investigações. A indicação de Dormer para o caso, porém, não é só pela qualidade inegável do investigador, mas para, também, retirá-lo da mira da Corregedoria da Policia de Los Angeles que começa a vasculhar a carreira de Dormer e de seu parceiro Hap Eckhart (Martin Donovan), encontrando algumas sujeiras.

Duas coisas incomodam Dormer quando chega ao Alaska. A primeira: seu parceiro quer se entregar a Corregedoria. A segunda: é verão no Alaska e o sol nunca se põe. Para a primeira, um triste acaso surgirá como solução. A segunda, porém, resulturá no inevitável para os desacostumados com a situação: insônia. Com esses dois problemas em cheque, o diretor Christopher Nolan filma a perfeição procurando apenas contar uma história. E é aqui, no apenas contar uma história, que o inevitável surge.

Como história, Insônia é linear, sem surpresas e até óbvio. É um filmaço? Sim. A história é magnífica, todas as peças se encaixam, todas as situações são reais e Al Pacino merece desde já uma indicação ao Oscar de Melhor Ator por sua atuação, um q de bêbado, outro de desespero e outro de loucura por não conseguir fechar os olhos sob um céu que não escurece. Hilary Swank também está magnífica. Swank é Elli Burr, uma policial que tem como espelho Will Dormer. A reverência com que trata o parceiro e todas as dúvidas que surgem com o tempo brilham na atuação da ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 2000, por Meninos não choram. E tem também Robin Williams em papel atípico, mas só essa linha já basta pra ele, apenas básico.

O roteiro, também, merece destaque e talvez corrija o equivoco da não premiação de Amnésia no Oscar 2002 (preterido pelo fato dos roteiristas do filme não fazerem parte da Associação dos Roteiristas dos EUA). Ah, Amnésia. Insônia é o terceiro longa de Nollan, que estreou de verdade no cinema com Amnésia, seu segundo filme, que deu nós no cérebro dos espectadores em 2001 (escolhido como filme do ano no Melhores de 2001 S&Y) merecendo até uma versão especial, em DVD, em que a história é contada da forma que acontece, ao invés da seqüência absurda e genial do original.

Sei que é injusto, mas em comparação com Amnésia, Insônia perde feio. E você deve estar se perguntando porque mesmo com um roteiro excelente, atuações dignas de Oscar e mão certeira na direção, Insônia não agrade por completo. Porque é "apenas" uma bela história contada com começo, meio e fim nos lugares de começo, meio e fim. Nenhuma surpresa, nenhuma novidade, nenhum truque. Só cinema dos bons. A dúvida se ser apenas cinema dos bons é algo relevante nos dias de hoje eu deixo para você, caro leitor, após uma sessão (obrigatória) de Insônia.

Só não vá perder o sono pensando em tudo isso. Eu perdi.


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