"Herói"
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
07/04/2005
Assim como a literatura é feita, essencialmente, de palavras,
o cinema é feito de imagens. É interessante notar que muita
gente esquece disso. Herói, de Zhang Yimou, é uma declaração
de amor às imagens. Um belíssimo épico cinematográfico que usa
(e abusa) de um roteiro pra lá de batido para encantar o público
com dezenas de cenas arrebatadoras, e algumas lutas de visual
impressionante.
A história remonta à China ancestral, século 3
a.C., antes do surgimento do primeiro imperador. A nação divide-se
em sete reinos. Qin (Daoming Chen) é o soberano da província
do norte, e pretende unificar o país na base da espada e da
flecha. Por isso, ele sofre constantes ameaças e tentativas
de assassinato. O mais próximo que uma pessoa estranha consegue
chegar do soberano são 100 passos.
Três assassinos lendários desejam matar Qin, sendo que um deles já esteve frente a frente com o soberano. Porém, a vida de Qin (e seu desejo em unificar a China) consegue ganhar um respiro quando um sargento de uma das capitanias prova que conseguiu matar os três grandes assassinos. Como prêmio, este herói consegue chegar próximo ao soberano para contar como conseguiu aniquilar três dos mais importantes assassinos da China.
A simplicidade do roteiro brinca com o espectador. Nada é aquilo que se imagina, e o mote principal da história é a cor que predomina na paisagem e nas roupas em cena: cada tonalidade de cor traz um respectivo significado no momento em que a história é contada, sendo que o vermelho significa paixão, o azul exemplifica o amor, verde é juventude, branco é verdade, e o preto é a morte. Usando esse artifício, Zhang brinda o espectador com um espetáculo visual de extremo bom gosto.
Tudo em Herói, alias, é de extremo bom gosto. A fotografia, assinada por Christopher Doyle é acachapante. Os figurinos de Emi Wada, que já tem um Oscar em seu currículo (por Ran, de Kurosawa, em 1985), são magníficos e a trilha sonora composta por Tan Dun é extremamente funcional. O elenco, também, parece perfeito. Jet Li está excelente na pele do sargento. Maggie Cheung encanta como a assassina Neve Que Voa enquanto Tony Leung faz muitas mulheres suspirarem na pele de Espada Quebrada.
É impossível, em se tratando de cinema chinês recente, não traçar um paralelo de Herói com O Tigre e o Dragão, um dos maiores sucessos fora da China em todos os tempos. Ambos os filmes se apóiam nas artes marciais e numa fotografia belíssima para contar uma história baseada em honra, amizade, lealdade e justiça. Porém, Herói conseguiu gerar polêmica na China, acusado de defender o domínio totalitarista que reina há séculos no País, como se tudo estivesse na mais perfeita ordem. A critica não deixa soar verdadeira, mas não apaga a beleza do filme.
Herói marca a estréia de Zhang Yimou no gênero de histórias sobre os Wuxia, comuns na China. Wu significa artes marciais e Xia seria o equivalente a um cavaleiro errante. Existem dois estilos de histórias Wuxia: Wudan, que usa a força interior, e o Shaolin, que usa a força exterior. Ambos são retratados com beleza e maestria por Yimou, que deve ter gostado bastante do resultado final, visto que já lançou O Clã das Adagas Voadoras, que segue o mesmo espírito de Herói.
Lançado em 2002 na China, Herói só chegou aos cinemas americanos em agosto de 2004 (e em pouquíssimas salas brasileiras em março de 2005), divulgado por Quentin Tarantino, que convenceu a Miramax a lançar o filme comercialmente nos cinemas, com a frase "apresentado por Quentin Tarantino". É um filme que demonstra, sobretudo, que o que cada país (e cada pessoa) tem de melhor é sua própria cultura, sua própria história, sua própria beleza.
Leia também:
"O Tigre e o Dragão",
por Juliano Costa
Site Oficial do filme
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