"Diamante de Sangue"
por
Marcelo Miranda
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19/01/2007
Existe um fator-África em recentes superproduções do cinema. Nos últimos dois anos, ao menos quatro filmes surgiram com formato de denúncia contra a exploração do Ocidente em cima dos africanos. O Jardineiro Fiel, do brasileiro Fernando Meirelles, de produção inglesa, retratava o uso de cobaias humanas para testes da indústria farmacêutica; O Senhor das Armas, de Andrew Niccol, tinha a venda de armas como vilãs de conflitos intermináveis; Hotel Ruanda, de Terry George, registrava o massacre étnico entre tutsis e utus e a negligência das nações desenvolvidas.
E agora vem Diamante de Sangue, a cargo de Edward Zwick,
apontar a câmera para a guerra de diamantes que se desenrolou
em Serra Leoa no final dos 90 e os interesses nebulosos da Inglaterra
e outros países para manter o banho de sangue. O que se percebe
em cada um desses filmes é o olhar de várias formas estranho
para com as realidades que buscam mostrar. São cineastas que
parecem se sentir mal ao assistir à destruição de um continente
e tentam usar o cinema como forma de expiação, de fazer a sua
parte.
O resultado quase sempre descamba para o vitimismo, e numa tentativa
desesperada de colocar os ocidentais como inimigos e os africanos
como coitadinhos - mesmo quando surgem as famigeradas milícias
locais, o tom é de tragédia ou grandiloquência ante o poder
de fogo dessa gente. O Senhor das Armas, num tom satírico
e irônico, é o que se sai melhor no quarteto citado, porque
Niccol sabe que não adianta tentar entender os acontecimentos
da África e, sim, problematizá- los, ainda que pela via do deboche.
Diamante de Sangue, numa escala, é o que se sai pior. Zwick novamente se insere numa cultura desconhecida a ele (antes dirigira O Último Samurai) e parece querer dissecá-la. Só que, em vez de apenas expô-la (como bem faz Meirelles em O Jardineiro Fiel), o diretor tenta superá-la, dar-lhe grandiosidade épica e, quem sabe, achar a solução para terminar com ela.
A forma como enxerga a briga pelos chamados diamantes de conflito
é a mais típica possível de Hollywood: com a pompa de quem está
afastado daquilo tudo e quer entrar e ajudar, ainda que por
vias tortas. Intenção nobre, resultado pífio. O que há em Diamante
de Sangue é um filme de ação em que o protagonista (Leonardo
DiCaprio) é o anti-herói que vai achar a redenção, e seu companheiro
de cena (Djimon Hounson) é o africano puro e ausente da selvageria
de seu próprio mundo. Uma jornalista (Jennifer Connelly) será
a presença ocidental nesse jogo. Ela parece encarnar o próprio
Zwick, com suas lamentações do quanto não consegue fazer pelo
povo africano, para depois ter movimentação em prol da "causa".
Zwick não filma mal - há pelo menos uma grande sequência, quando DiCaprio e Hounsou fogem de uma aldeia. Porém, a ingenuidade do cineasta e a estética espetaculosa não conseguem dar a Diamante de Sangue a relevância que o filme parece a todo tempo buscar.
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