"Como Fazer Um Filme de Amor", de José Roberto
Torero
por
Marcelo Costa
Fotos - Divulgação
maccosta@hotmail.com
12/11/2004
A
maioria das resenhas sobre Como Fazer um Filme de Amor,
estréia na direção de longas do escritor e roteirista José Roberto
Torero, qualifica a obra como uma desconstrução do cinema romântico.
Para isso precisamos acreditar que a média do público comum
que lota salas de cinema todas as semanas não entenda bulhufas
de roteiros e nem saiba que um filminho romântico (assim como
qualquer bom exemplar de Sabrina, Bianca ou coisa que o valha)
segue a mesma ordem de fatores: um casal se encontra, se odeia,
acaba sendo obrigado - pelas circunstâncias do destino - a conviver
juntos e, por fim, se apaixona e vive feliz para sempre.
Vou ser bastante sincero, caro leitor: eu não acredito que existam
pessoas que não saibam as regras das chamadas comédias românticas.
Mesmo a minha tia, que prefere ver filmes leves e docinhos (comédias
românticas) do que violentos e assustadores (aventura e terror),
e provavelmente não saiba explicar a ordem exata dos fatos que
vão acontecer na tela assim que ela sentar na sala escura, entende
que um bom romance precisa de um encontro, drama e um belo final
feliz, necessariamente nessa ordem e recheado de frases clichês
(poucos romances ficam para sempre... como Casablanca,
que não teve final feliz).
Na história de Torero, a mocinha (Denise Fraga, como sempre,
excelente) é fotógrafa de casamentos, solteira, bondosa, nem
gorda, nem magra, nem muito feia, nem muito bonita. Sua mãe
não enxerga (o que rende ótimas piadas, por sinal) e é sua conselheira.
O mocinho é Allan, ricaço dono de uma agência de modelos. Tudo
que acontece após essa apresentação segue a máxima dos clichês
da história romântica no cinema. Torero brinca com os vícios
da história externando todos os clichês com um narrador em off,
incorporado brilhantemente por Paulo José. Ao contrário de Charlie
Kaufman em Adaptação, que usa a metalinguagem de forma
cifrada, Torero expõe tudo que acontece na tela, chegando a
retomar algumas cenas para adapta-las ao formato do cinema romântico.
Esse disfarce metalingüístico é a grande sacada de Como Fazer
Um Filme de Amor, e é o que mais rende risadas na sala de
cinema, evitando que o filme embarque na onda obvia daquilo
que ironiza. Desta forma, o texto afiado e delicioso de Torero
(que pode ser conferido também no divertido e excelente Truco,
Xadrez e Outras Guerras, que assume o tema IRA na coleção
Os Pecados Capitais, da editora Objetiva) encontra voz e gestos
na espivitada Denise Fraga, reeditando o sucesso de quadros
como Retrato Falado e Contando Uma História, ambos destaque
no Fantástico, da Rede Globo. Denise parece tomar conta
da tela. A atriz se porta tão bem frente às câmeras que até
parece que encenar seja a arte mais fácil do mundo.
Como Fazer Um Filme de Amor ainda conta com participações
reluzentes de Cássio Gabus Mendes (como o mocinho), Marisa Orth
(como a vilã Lilith), André Abujamra (como Adolph, assistente
da vilã) e Ana Lúcia Torres, Abrão Farc, José Rubens Chachá
(em, ao menos, três papeis secundários) Ilana Kaplan, Carlos
Mariano e Maria Manuela. Com um orçamento de pouco mais de R$
1 milhão e rápidos 84 minutos de duração, Como Fazer Um Filme
de Amor brinca de ser critico, mas é apenas um delicioso
filme de amor, bonitinho e com final feliz. Ao invés de desconstruir
o estilo, Torero brinca com seus clichês e diverte enquanto
conta uma melosa história de amor, que ao final dá vontade de
ver outras. Expostos todos os seus truques, as comédias românticas
saem fortificadas após Como Fazer Um Filme de Amor. Alias,
fortes não: bonitinhas, suaves, inteligentes e pretensamente
sonhadoras. Palmas para José Roberto Torero.
Ps. Torero também é responsável pelo roteiro do delicioso curta
Uma História de Futebol, que concorreu ao Oscar em 2001.
Assista, e se divirta.
Uma História de Futebol
O curta conta histórias da infância do Rei do futebol. Zuza,
companheiro de pelada, relembra as façanhas do menino Pelé nos
campos de terra de Bauru. Dirigido por Paulo Machline.
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