"O Chamado 2"
por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
07/04/2005

Dizer que uma dita continuação de um filme não supera o original em 98% dos casos é altamente dispensável hoje em dia, tamanha a quantidade de exemplos práticos que lotam as prateleiras de locadoras. Dizer que a versão americana de um filme de outro país também fica aquém do original é chover no molhado. O Chamado 2 honra apenas um dos clichês, que o de não superar o bom primeiro filme, mas é bem melhor que o original japonês, se isso lá importa realmente alguma coisa.

A primeira grande diferença deste O Chamado 2 para o antecessor está na direção. Hideo Nakata, que dirigiu os dois filmes da franquia oriental, assume o posto em Hollywood nesta refilmagem, o que não mudou muita coisa em conceito cinematográfico, mas reconhecimento é bom, sempre. Mesmo assim, Nakata só conseguiu imprimir ritmo ao filme transformando O Chamado 2 em um grande pastiche do primeiro. E, pior: o que parecia sério em O Chamado virou terrir nesta continuação.

A história começa seis meses após Rachel Keller (Naomi Watts) desvendar o enigma do primeiro filme, que, a lembrar, contava sobre uma fita de vídeo que leva seu espectador à morte sete dias após tê-la assistido. Não bastasse ter data para subir para o andar de cima, a pessoa ainda é assombrada por Samara Morgan, uma menina que foi morta pela mãe adotiva, tendo sido jogada em um poço. Samara desfigura o rosto das pessoas enquanto sua mãe se penteia no tal vídeo.

Acompanhada de seu filho Aidan (David Dorfman), Rachel se muda da grande Seattle para a pequena comunidade litorânea de Astoria, no estado de Oregon, onde pretende recomeçar a vida trabalhando em um jornal local. Porém, é apenas Rachel pisar na cidade para que Samara retorne das trevas (ops, do fundo do poço) para iniciar um ciclo de mortes, que faria inveja ao Jason e ao Freddy (a morte de uma psicóloga, no hospital, é uma das coisas mais toscas que o cinema recente pode nos proporcionar).

A grande questão de O Chamado 2 é que Samara não quer passar o resto de seus dias no fundo de um poço (convenhamos, não tem televisão, não tem geladeira, o sol está lá em cima em uma fresta e, sobretudo, não tem videocassete!!!). Ela quer viver e, para isso, invade o corpo do filho de Rachel. A idéia, por mais absurda que seja, é uma das poucas boas sacadas do filme, ao colocar nas telonas um misto de candomblé, umbanda e paranormalidade, como se um espírito assumisse o corpo de uma pessoa, mas não quisesse deixa-lo depois de incorporado. Em uma das raras passagens boas de O Chamado 2, Rachel diz aos médicos que o problema de seu filho não tem cura na medicina.

Porém, isso é muito pouco para os 107 minutos de filme. Hideo conseguiu manter a aura sombria do primeiro O Chamado (que, é preciso salientar, é bom, mas não é nenhum Silêncio dos Inocentes), e até assustar incautos em várias passagens nesta segunda fita, mas a falta de um roteiro, os assassinatos em série, a hilária atuação do pequeno David Dorfman e o desperdício de Sissi Spacek (e de todos os outros atores) tornam O Chamado 2 um grande embaraço. Se você quer rir um pouco, O Chamado 2 traz bons momentos de comédia, como o impagável ataque dos alces (isso mesmo!). Pena que o fizeram para ser um suspense...


Site Oficial do filme