"Carros"
por
Marcelo Costa Email
18/07/2006
Não demorou nem dez anos para a Pixar se tornar gigante e ser
coaptada pelo sistema. Do longa de estréia, o já clássico Toy
Story, até este Carros se passaram apenas nove anos
e filmes mágicos como Monstros S.A. e Procurando Nemo.
De lá pra cá, o que era uma parceria Pixar/Disney se transformou
em uma compra da primeira pela segunda por nada mais nada menos
que US$ 7,4 bilhões. Carros é o primeiro lançamento da
Pixar como empresa da Disney, e tudo aquilo que andam pegando
no pé do filme diz mais respeito sobre a criação de John Lasseter
do que sobre uma provável gerência Disney sobre o projeto. Mesmo
assim, há muito o que se ver e se emocionar com a animação.
A primeira grande diferença que se nota deste Carros
para produções anteriores da companhia é que o politicamente
correto marca presença em dose maciça no novo filme. Outro diferencial
é que o mundo fantasioso da Disney parece ter tomado de assalto
a Pixar, que realizou uma obra sonhadora de realismo fantástico
(quer coisa mais maluca que carros falantes que namoram e têm
personalidade própria?), que abarca em seus 114 minutos muito
da filosofia que tornou a Disney a gigante que é: um roteiro
cujo cerne gira em torno da amizade tendo como base as famosas
lições de moral do cinema infantil.
Carros conta a história de Relâmpago McQueen, um carro
de corrida jovem, ambicioso e bastante convencido, que está
prestes a vencer o campeonato em seu ano de estréia, um feito
até então inédito na competição. No entanto, após uma manobra
arriscada de retardar a troca de pneus, McQueen vê seu titulo
escorrer pelos dedos com dois pneus furados, mas mesmo consegue
cruzar a linha de chegada no mesmo instante que seus dois desafiantes,
protagonizando um empate triplo, que obriga a realização de
uma nova corrida, apenas com os três favoritos ao título da
Copa Pistão.
McQueen é genioso e acredita que não precisa da ajuda de ninguém,
sendo a "equipe de um carro só". No entanto, numa dessas passagens
que o destino vive aprontando com todos nós, McQueen se vê perdido
no meio da Rota 66 (a famosa Route 66), e acaba por fim encarcerado
em uma cidadezinha "quase fantasma". Radiator Springs é uma
cidade do interior que já viu dias melhores, e que agora vive
apenas das lembranças do passado com seus poucos moradores.
McQueen causou uma bagunça na cidade, e se vê obrigado a consertar
tudo que fez de errado. Enquanto seus adversários treinam na
Califórnia para a corrida final, McQueen está cumprindo pena
em Radiator Springs.
Agora fica fácil para desvendar a história toda, não? Nosso
herói genioso e convencido acaba sendo apresentado a amizade,
e começa a perceber que dinheiro não traz felicidade, que a
fama pode lhe dar o mundo, como também pode lhe virar as costas
em seu momento de maior necessidade, e que o progresso não significa
totalmente coisas boas. A convivência com as pessoas comuns
(ops, os carros comuns) de Radiator Springs revela para o carro
de corridas uma bela história que ele desconhecia completamente,
e muda sua vida. O final, piegas, marca presença.
No entanto, por mais batida que seja a temática, por mais infantil
que seja sua abordagem de lição de moral, e por mais inferior
que seja a outros filmes da Pixar, este Carros chega
a emocionar por algumas vezes, da mesma forma que causa risos
em algumas passagens inocentemente fofas. John Lasseter, o dono
da Pixar que assina a direção, deixou de lado o tom adulto que
marca outros filmes de animação da companhia para centrar foco
nas crianças. Carros é semelhante a qualquer boa história
da Disney, e se isso demonstra um retrocesso no método de criação
Pixar, as próximas produções da parceria é que vão realmente
mostrar qual o caminho que a empresa seguirá daqui por diante.
Se vale como consolo, Carros é aberto com o excelente
curta A Banda de Um Homem Só, extremamente inteligente
e inspirado. No entanto, apesar do passo atrás, Relâmpago
McQueen vale sua pipoca, muitos sorrisos e algumas lágrimas.
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