A Bela do Palco
por Danilo Corci
Fotos: Divulgação
Speculum
17/09/2005

Em 1999, Shakespeare Apaixonado, de John Madden, sobrepujou todas as expectativas e ficou com o Oscar de Melhor Filme. Merecido ou não, o fato é que a fita desenvolvia uma interessante história sobre a proibição de mulheres atuarem no teatro à época do dramaturgo mais importante da língua inglesa.

A Bela do Palco (Stage Beauty), de Richard Eyre, também aposta na mesma linha. Ainda que tenha feito menos sucesso que seu predecessor, o filme é inúmeras vezes superior a Shakespeare Apaixonado.

As semelhanças entre eles são grandes. Enquanto Madden recrutou os atores de então segunda linha Joseph Fiennes e Gwyneth Paltrow, Eyre fez algo semelhante: Billy Crudup e Claire Danes. Tom Wilkinson, por sua vez, está presente nos dois. E enquanto Geoffrey Rush prestava credibilidade ao primeiro, Rupert Everett faz isto para o segundo. Porém, as diferenças são cruciais. A Bela do Palco além de ter uma história mais consistente, também é melhor dirigido e com interpretações mais sólidas.

1660. No reinado de Charles II (Everett), Edward Ned Kynaston (Crudup) é a tal bela do palco, ou seja, o maior e melhor ator que representa uma mulher. Sua Desdêmona é aclamada pelo público todas as noites. Sua ajudante, Maria (Danes), além de ser obviamente apaixonada pelo astro, também almeja ser uma atriz.

Porém, Ned mantém um relacionamento com o duque de Buckingham (Ben Chaplin). Este é o estopim para que Maria corra atrás de seu desejo em tornar-se também uma estrela. Com o sucesso de uma apresentação pirata que realiza, ela consegue que o rei autorize a atuação feminina. Pior para Ned. Não só o rei libera como também proíbe que homens representem mulheres nas peças. É o começo da ruína da bela do palco, afinal ele não consegue representar um homem. Sua tarimba está justamente nas garatujas homossexuais.

Há muita ambigüidade no filme, além de um excelente tempo teatral. Nem mesmo seu final água com açúcar e capaz de destruir a serenidade da trama - ainda que chegue muito perto disto. A Bela do Palco ainda que não tente se aprofundar em nenhum tipo de discussão sobre sexualidade ou fazer uma amostra da condição feminina naquela época, consegue segurar as pontas. Às vezes, o cinema precisa somente de coisas simples: bom roteiro, atuações convincentes, fotografia e figurinos sobre medida. O resto, o público acompanha. É assim com a obra de Richard Eyre.

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Texto cedido pelo site Speculum