'A Feiticeira'
por Marcelo Costa
Fotos - Site Oficial
Email
08/10/2005

A Columbia Pictures tinha um bilhetão premiado nas mãos: uma diretora talentosa para comédias românticas sentimentais sem muito açúcar (Nora Ephron, roteirista do genial Harry & Sally e diretora de Sintonia de Amor), uma bela e talentosa atriz curtindo o que talvez seja o ápice de sua carreira (Nicole Kidman) , coadjuvantes de luxo (Shirley MacLaine e Michael Caine) e uma obra clássica que se tornou quase que de domínio público: a da feiticeira Samantha, série que foi exibida nos EUA e no Brasil entre 1964 e 1972.

Porém, mesmo com todos esses antecedentes "positivos", A Feiticeira (Bewitched - 2005) não honra a expectativa. Não que o filme seja ruim. Não é. O problema é que ele demora a deslanchar, e quando isso acontece, acaba como num passe de mágica: "Cadê o filme que estava aqui?", imagina o espectador. "Acabou!", diz o letreiro. O desfecho do filme não deve durar mais que dois minutos. Quando se percebe, as luzes da sala de cinema estão sendo acesas. Acabou a diversão. Bruxaria?

Esqueça o fim, no entanto, e vamos voltar ao início. Nicole Kidman, perfeita para o papel, é Isabel Bigelow, uma bruxinha que desistiu da vida boa de ter tudo num "estalar de dedos" (e não é metafórico), quer ser uma pessoa normal, arranjar um trabalho, abrir sua latinha de refrigerante sozinha, se apaixonar e, zuzu bem, ser feliz. De cara, o roteiro acerta em não fazer do filme um episódio de série de duas horas.

Paralelamente, Jack Wyatt (um Will Ferrel trapalhão demais) está numa pior. Foi abandonado por sua mulher, que o trocou por um modelo de cuecas, e seu último filme foi um desastre de bilheteria e de crítica. O último refúgio de Wyatt é a televisão, em que o ator assina um contrato para encarnar o personagem Darrin Stephens (marido de Samantha) numa recriação da famosa série A Feiticeira. Problema: como arranjar uma moça que mexa o nariz como fazia a protagonista na década de 60?

O acaso coloca nossos dois pombinhos numa livraria, e Wyatt se apaixona pelo jeito com que Isabel mexe o nariz. Aconvida para um teste e só o seu mexer de nariz lhe dá o emprego. Em um dos melhores trechos do filme, Wyatt e Isabel passam o texto da série diante da produção. "Vamos improvisar", diz ele. E o que é "improviso" para um (ele), para o outro é real. Os produtores se animam com a desenvoltura da moça, porém, ela não terá nenhum espaço na série, que apesar de se chamar A Feiticeira, é focada no personagem de Wyatt. Mesmo assim, ela está feliz demais em ser tratada como uma pessoa normal. Basta.

E tudo segue lindo e florido até a bruxinha descobrir que está sendo feita de boba. A raiva a faz quebrar a promessa de não fazer mais bruxarias e ela prepara algumas "pegadinhas" para o seu amado. "Papai, eu não sei o que acontece. Eu me sinto atraída por ele, mas neste momento eu o odeio", diz ela. O pai (Michael Caine, impagável), só resmunga: "É amor". A cena de reconciliação do casal, dançando e brincando no set de filmagem da série de TV, é plasticamente bela e remete aos anos de ouro do cinema.

Mesmo assim, apesar de ser uma boa história, ter piadas interessantes, boas atuações e não se prender totalmente à série original (o que é um mérito), A Feiticeira não fisga o espectador. É fofo ver Nicole Kidman dar a mexidinha de nariz mais famosa de todos os tempos, mas isso não sustenta um filme que parece ter sido feito e entregue às pressas. A verve de Nora Ephron acabou sendo atraída pelos clichês românticos, que ela tanta soube evitar em outros tempos, e A Feiticeira não honra a série original, que, aliás, acaba de ter sua primeira temporada lançado em DVD. Ao invés de ir ao cinema, que tal ir à locadora?

Links
Site Oficial do filme