"ABC do Amor"
por
Marcelo Costa E-mai
09/03/2006
Gabe Burton (Josh Hutscherson) é um garoto de 10 anos e meio,
cujas principais atividades diárias se compreendem em jogar
futebol com o pai, passear de patinete pelas ruas de Manhattan,
ir à aula (ele está na 5ª série) e jogar games com os amigos.
Rotina simples de um moleque que ainda não foi apresentado ao
amor. Meninas, para Gabe e seus 'comparsas', têm piolhos.
Ele nem pode chegar perto delas, e elas nunca chegam perto dele
e de sua turma de amigos. Isso tudo até Gabe ter a grande idéia
de ter aulas de caratê. E é neste ambiente prioritariamente
masculino que o menino encontra Rosemary Telesco (Charlie Ray),
uma amiga de infância que sempre esteve por perto, mas a distância
entre meninos e meninas os tinha afastado.
Rosemary Telesco têm 11 anos, seis meses mais velha que Gabe,
é filha de um casal que criou uma série de TV
de sucesso, e defende a (velha) teoria de que as meninas amadurecem
mais rápido do que os meninos. As aulas de caratê aproximam
os dois, e quando menos percebe, Gabe está vivendo o que muitos
de nós conhecemos como "o primeiro amor". O menino se apaixona
por Rosemary, mas não consegue entender os novos sentimentos
que agora possui. Em meio às confusões que sente, ele descobre
que Rosemary está prestes a partir para um acampamento de verão
e que pode ser transferida para outra escola. É quando Gabe
decide deixar a indecisão de lado e passa a lutar para ficar
próximo do seu primeiro amor.
A aparente inocência que a história faz vislumbrar é deixada
de lado pela direção esperta de Mark Levin e pelo bom roteiro
de Jennifer Flackett. Em um ano em que Woody Allen foi "obrigado"
a deixar Nova York de lado para filmar em Londres, ABC do
Amor cumpre a função de exibir o lado romântico da cidade
norte-americana para o mundo. Deixando de lado, inclusive, o
titulo piegas nacional, Little Manhattan não é só a história
do primeiro amor da vida de um menino, mas também uma declaração
de amor do diretor à cidade de Nova York. Mapas de ruas, pontos
turísticos, Greenwich Village, Central Park, Broadway, aquelas
casas que tantas vezes Woody Allen já mostrou são o pano de
fundo para esta fofa comédia romântica.
Alguns devem se preocupar com a temática adolescente, mas nada
como uma volta no tempo para valorizar o presente e nos preparar
o futuro. Neste ponto, Little Manhattan é certeiro ao
se dar conta de que o universo masculino e feminino não muda
tanto assim de acordo com os anos. O amor não irá diferir se
você tem 11, 21, 31, 41, 51, 101 e por ai em diante. Sem se
preocupar com datas comemorativas de aniversário, o amor vai
te pegar pelo lado esquerdo do peito, te ninar nos braços e
fazer cafuné, te levar às nuvens e te deixar cair de
lá de cima sem pára-quedas ou qualquer coisa que amacie o encontro
de sua alma com o chão. E mesmo assim você irá amar mais e mais
e mais e muitas vezes. É a lei natural das coisas, e Little
Manhattan as exibe com tanta clareza que às vezes até dá
vergonha não se dar conta de tudo isso.
Gabe, que narra o filme em primeira-pessoa, é um perfeito romântico
em inicio de carreira. Faz palhaçadas em nome do amor, comete
gafes, não percebe a regra dos cinco segundos (se estiver rolando
um clima entre você e alguém, e vocês se olharem olhos nos olhos,
não deixe passar de cinco segundos, porque é certo que após
o sexto ela irá abaixar a cabeça e entender que você não quer
beija-la. E cinco segundos, olhando para a pessoa que você está
desejando beijar são uma eternidade, acredite), atropela a recém-criada
história de amor e bate o telefone na cara da menina, mas acaba,
por fim, se rendendo ao sentimento que tanto o agoniza: ele
está perdidamente apaixonado por uma menina. O trecho
final é de um lirismo tocante e credencia Little Manhattan
como um filme doce, fofo e levemente inspirador.
Site Oficial de "ABC do Amor"
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