Brilhante?
Não para mim
por
Alexandre Petillo
Eu não entendo de cinema. Quer
dizer, não entendo como, por exemplo, um cineasta entende. Tenho
ojeriza a críticas "técnicas" e "especializadas" de uma arte
que é puro entretenimento – críticos de cinema são
craques nisso, os caras se levam a sério. Eu, por exemplo, não
consigo analisar um filme, assim como analiso uma partida de futebol. Não
vejo as falhas na defesa ou os erros sutis na distribuição
das jogadas, numa película. Sendo assim, não sei afirmar,
com total certeza, se um filme é realmente bom ou grandioso.
Poderia partir dos princípios
básicos e óbvios. Um grande filme é composto por boas
interpretações, um roteiro objetivo capaz de prender a atenção
do espectador durante toda a sessão, além de uma boa fotografia,
cortes, tomadas...
Seguindo esses preceitos, "Uma Mente
Brilhante" deveria ser um excelente filme. Ótimas atuações
(Russel Crowe está perfeito, no que talvez seja a sua melhor atuação;
Jennifer Connelly, espetacular), um bom roteiro (baseado na vida do matemático
John Forbes Nash, esquizofrênico ganhador do prêmio Nobel)
e boas tomadas, a cargo do diretor Ron Howard (Apollo 13).
Mas então, por que diabos eu
não gostei desse filme? Talvez porque assim como com a música,
só consigo gostar daquilo que me pega pelo estômago e me instigue
a conversar sobre na mesa de jantar. O meu termômetro ainda é
o frio na barriga – para desespero dos sisudos críticos de cinema.
Por exemplo, achei "Vanilla Sky" sensacional.
Apesar do seu final espalhafatoso, o filme me pegou, e não me preocupei
em procurar os erros técnicos do filme somente para me sentir em
paz com o "meu dever intelectual de formador de opinião".
"Uma Mente Brilhante" promete ser
o bicho-papão do Oscar desse ano. O filme é sob medida para
os critérios (?) da Academia. É piegas, apela para emoções
fáceis e narra a luta de um homem para vencer os obstáculos
impostos pela sua própria mente. Vida e obra dignas de inspiração
para nossas vidas rotineiras. John Nash (Crowe) é o dono da mente
brilhante. Aluno de Princeton, Nash é um gênio que decide
abandonar as aulas para se dedicar a busca obsessiva de uma idéia
original.
Depois de sofrer pressões por
parte de seus colegas e professores, Nash, numa mesa de bar, consegue chegar
a uma idéia original, contrariando os preceitos do mestre Adam Smith
e 150 anos de estudos matemáticos. Com isso, Nash começa
a trabalhar para o governo norte-americano, ajudando a decifrar padrões
numéricos que indiquem posições de bombas, supostamente
plantadas nos EUA pela União Soviética, durante a Guerra
Fria.
Ótimo com os números,
mas péssimo nas relações humanas (consequentemente,
o torna um péssimo professor), Nash acaba se envolvendo com Alicia
(a bela Jennifer Connelly), muito mais por vontade dela. Logo no início
do relacionamento, Nash envolve-se numa missão confidencial e começa
a exigir demais de seu cérebro, apesar de genial, ainda humano.
O matemático já não sabe o que é real e imaginário.
Começa a viver, simultaneamente, com pessoas e situações
que só existem na sua mente, mas seus olhos o enganam.
Nash rui, junto com seu casamento
e emprego. A partir daí, o filme mostra a difícil luta de
um homem brilhante para ter de volta a sua mente, com a ajuda de Alicia,
que só quer recuperar o seu amor. Embora não tenha vencido
completamente a batalha, Nash conseguiu sobreviver com o problema ("basta
ignorar os fantasmas. Assim como fazemos com nossos sonhos e pesadelos.
É só ignorá-los que esquecemos"), estando apto para
receber o prêmio Nobel em 97, graças à sua idéia
original, que mudou os rumos da economia moderna.
Edificante, o filme, a história
(mas ainda prefiro "Forrest Gump"). Mas, no final da sessão, não
consegui achar uma nota maior do que 6. Para mim, apenas um filme comum
com uma lição de vida. Não achei nada digno de um
Oscar (apesar que esse prêmio não é traz prerrogativa
nenhuma de qualidade). No máximo, bom para ser exibido no Super
Cine, afinal, é baseado em fatos reais.
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