Vida Bandita
E sua mãe também
por Marcelo Silva Costa

Ok, ok, ok, como diria Roger Rocha Moreira: "Eu não vivo sem mulher". Mas é fato de que desde que o mundo é mundo, elas estão ai para bagunçar a vida dos homens. É fato. De Eva a Dalila, passando por Alisons, Nancys, Virnas e Nicos até as inevitáveis Yoko Ono e Courtney Love (sem contar os fantasmas pessoais), um rastro de homens que se perderam quando envolvidos com mulheres fatais demarca a estrada do... tsc tsc tsc... amor. 

Dois filmes que chegam as telas nesta semana corroboram tudo isso que está escrito acima. Um é totalmente diferente do outro. Num você verá as típicas filmagens de Hollywood, enquando no outro você presenciará o lado tosco do cinema independente. Um traz dois moleques e uma princesa. O outro traz dois principes e uma ex-rainha. E ambos se completam, mesmo que só tenham paralelo em um quesito: pobres homens. 

"Vida Bandida" (Bandits) conta a história de dois amigos, ladrões, que, após uma fuga da prisão, iniciam uma série de roubos a bancos. A estratégia, maluca, é sensacional. Ao invés de chegar nos bancos com um arma e gritar "isso é um assalto", porque não dormir na casa do gerente na noite anterior e ir com o cara fazer uma retirada na manhã seguinte? Bacana!

A estratégia de roubar bancos desse jeito começa a funcionar e logo eles estão em todos os noticiários do país. Passam a ser conhecidos como "os bandidos hospédes" e as cenas de chegada nas casas dos gerentes são sempre hilárias.

Tudo vai bem até que... até que... até que... aparece uma mulher na vida dos dois. 

A garota se chama Kate, vive um casamento fracassado e acaba se envolvendo com os bandidos, após atropelar um deles. Na convivência com os pobres moços ela encontra muito daquilo que não tem em sua vida de dona de casa rica. Aqui, a velha máxima beleza x inteligência será testada. 

Kate é Cate Blanchett e seus primeiros olhares caem sobre o brutamontes Joe Blake. Joe é Bruce Willis e Bruce Willis é Bruce Willis, oras. O sorriso mais cínico do cinema. A cena de sedução dos dois é impagável (depois de "All by myself" em Bridget Jones, agora temos "Total Eclipse of My Heart" de Bonny Tyler sendo resgatada). 

Mas, em uma brincadeira do destino, Kate acaba descobrindo toda delicadeza de Terry Collis (Billy Bob Thorton simplesmente arrassador). Uma mulher entre dois amigos... 

Os três atores dão show de interpretação. Mas é impossível não elogiar (mais) Billy Bob Thorton. Seu Terry é hiponcondríaco e irressistível. 

O filme segue e quando eu já imaginava que pelo menos o final seria ruim, a surpresa: sensacional (com um tiquinho de óbvio, claro). Ainda me me soa necessário dizer que Barry Levinson, o diretor, tem em seu currículo "Bom Dia Vietnã". Excelente.

Após caminharmos do Oregon à California, chegamos ao México. A Cidade do México, propriamente dita. 

"E sua mãe também" conta a história de dois amigos, estudantes, que, após a partida de suas namoradas para passar férias na Italia, iniciam uma viagem em busca de uma praia inventada. 

Do começo, claro. Alías, "E sua mãe também", que tem censura 18 anos (yep, você vai ter que pegar o documento de sua irmã (o) ou dar um jeito de convencer o bilheteiro), carrega as tintas no sexo quase pornografico. Nos primeiros segundos temos Julio e sua namorada divertindo-se com orgasmos. Pouco tempo depois é a vez de Tenoch e sua namorada mostrarem o prazer do sexo juvenil. Baseados e punhetas preencheram a tela logo em seguida. E tanto o sexo quanto as drogas não aparecerem a toa no filme. Eles estão ali como estão em todo lugar. Só não enxerga quem não quer.

Julio e Tenoch são tipo melhores amigos, daqueles de se saber a vida toda um do outro e criar até regras para um Clube do Bolinha maconheiro e punheteiro. A amizade dos dois vai bem até que... até que... até que... aparece uma mulher na vida dos dois. 

Ela se chama Luísa, é espanhola, casada com um primo de Tenoch. Os dois amigos tentam se aproximar da bela mulher, embalados pela sedução, mas só conseguem deixar um convite: uma viagem para a praia. 

Luísa, tempos depois, aceita. E decide seguir sozinha numa viagem pelo México com os dois garotos em um carro. Luísa parte ao encontro de seu destino. Julio e Tenoch deixam a inocência em casa e partem ao encontro da vida adulta. O final é soberbo. 

Nesse excelente "road movie" chama a atenção um México muito parecido com a terra-brasilis. As ruas, as paisagens e mesmo a alegria das pessoas faz parecer que estamos viajando por qualquer inteiror desse grande Brasil. 

Gael García Bernal (Julio) e Diego Luna (Tenoch) foram premiados como atores revelação em Veneza, que também premiou o excelente roteiro. E o México, depois do soco no estomâgo que é "Amores Brutos", coloca outro filme na minha listinha dos melhores de 2001. 

Ok, ok, ok, eu sei que muita gente não encontrará motivos para comparação entre os dois filmes. Tem gente que vai amar um e nem vai se atrever a ver o outro. Paciência. O fato é que, desde Eva, as mulheres bagunçam a vida dos homens. Aqui, neste texto, temos quatro homens e duas mulheres envolvendo-se com amor, sexo e amizade. Ingredientes perigosos para eu e você que lê esse texto, mas geniais para quem sabe usar no cinema.