Snatch
não vai passar no Unibancool
por
Alexandre Petillo
Guy Ritchie é um dos
caras mais legais da cultura pop hoje em dia. Definitivamente, Ritchie
é cool ( para um usar um ressuscitado termo recorrente). Veja só:
o cara estreou no cinema com Jogos, Trapaças e Dois Canos
Fumegantes, um dos filmes mais legais da década passada. Sem
contar que o cara conquistou a Madonna. Não que a material
girl seja o poder supremo em beleza, mas Madonna é o símbolo
maior da garota farrista. Da garota “one night only”. Que vai te dar uma
noite intensa de loucuras e nem vai querer anotar o seu telefone na manhã
seguinte. Coração de pedra... E, de repente, de um dia para
o outro, ela aparece dizendo para o mundo todo que Ritchie é espetacular,
é o homem da sua vida, é maravilhoso, está perdidamente
apaixonada, nunca se sentiu assim e ... Jesus, ainda chamam o homem de
machista!
Snatch é a segunda paulada
de Ritchie, que costuma ser chamado de “Tarantino inglês” pelos críticos
cabeçudos, e traz boa parte do elenco de “Jogos, Trapaças...”.
Alçado ao primeiro time do cinema mundial, Ritchie também
pode se dar ao luxo de adicionar ao time vencedor dois nomes de peso:
Brad Pitt e Benício Del Toro (o Brad Pitt dos anos 00).
E Ritchie repete a fórmula,
sem, no entanto, desgastá-la. A trama é complicadamente emaranhada,
a linguagem, “pulpfictioniana” está lá e as situações
hilariantes dos gângsters modernos dão o sabor especial à
história. Diferente de Tarantino, Ritchie carrega seus filmes daquele
bom, negro e sutil humor inglês, que, obviamente, só os ingleses
têm. E isso faz a diferença. Brad Pitt, espetacular, faz um
cigano lutador de boxe sem luvas, que fala enrolado e ninguém entende
– além dos outros ciganos - , e protagoniza as cenas mais geniais
e engraçadas da película.
O filme tem quatro histórias
que, de alguma forma e em algum ponto, se imbricam. Benício Del
Toro é “Franky Quatro-Dedos”, um ladrão viciado em jogo que
precisa levar para os Estados Unidos um diamante roubado. Jason Statham
(Turco) e Stephen Graham (Tommy) são dois pés-rapados
que se lançam no mercado de apostas em lutas de boxe ilegais. Rede
Serbedzija é Boris “Dribla-balas”, um ex-agente da KGB praticamente
imortal, que pretende roubar o diamante antes que este chegue à
América. Dennis Farina, perfeito, é Avi, o receptador
do diamante que parte para Londres em busca de Franky Quatro-Dedos. Para
isso, Avi contrata Tony “Seis Balas”, feito pelo gênio Vinnie
Jones.
Ah, Vinnie Jones! Canastrão
até a medula, Jones faz o segundo filme de sua carreira e o segundo
com Guy Ritchie. Afinal, somente um cara cool como Ritchie poderia dar
uma chance no cinema para alguém como Vinnie Jones. Para quem não
sabe, Jones foi um dos mais famosos jogadores de futebol da Inglaterra
nos anos 80. Volante destruidor, perna-de-pau irremediável, Jones
conquistou a torcida inglesa graças às suas apresentações
vigorosas e cheia de raça. Uma espécie de Dunga inglês.
Jones chegou até a disputar duas Copas do Mundo pelo seu país
e era adorado pelos hooligans. Incrivelmente, Jones convence com ator.
Uma das cenas mais legais de Snatch é quando Jones (Tony)
enforca um boyzinho no vidro do seu carro, com ele em marcha. Enquanto
não consegue o que quer do almofadinha, Tony ouve no rádio
Lucky
Star, com a Madonna. “Eu adoro essa música”, diz.
Ritchie é um craque no trato
das imagens. O modo como acelera e congela os personagens acaba extremando
as expressões, beirando o cinema pastelão. Ritchie manipula
as imagens como quer e o espectador tem que rebolar para acompanhar o ritmo
rápido da informação.
Como bom bad boy inglês, Ritchie
sabe rechear seus filmes com bons rock e souls bem sacanas. A cena final,
da última luta de Brad Pitt, ao som de “Fuckin' In The Bushes”,
do
Oasis, é arrepiante. “Snatch” é cinema de verdade,
carregado de entretenimento. É diversão para sábado
a noite. É cinema que vale o seu ingresso. Enquanto Quentin Tarantino
e Danny Boyle hibernam, Guy Ritchie é o “cara” do atual cinema pop.
E tenho dito.
Ah, e não faço a menor
idéia do porque do título da matéria.
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