Plata
Quemada
por Ana Cecília
Del Mônaco
Sangue e carga sexual estão
sempre presentes neste filme sobre um grande roubo ocorrido na Argentina
em 1965, baseado numa história real. O início do filme mostra
Nene e Angel como um casal de assaltantes que se une ao esquema desse crime.
Uma quadrilha é organizada
para realizar o assalto. O grupo é formado por Fontana, o líder,
Nando, o contato político, Cuervo, o condutor, Angel e Nene,
os homens de ação.
A operação é
realizada com resultados desastrosos, onde os responsáveis pelo
dinheiro são mortos e Angel é ferido. A quadrilha tem
de mudar o esconderijo, pois há uma suspeita de que foram traídos.
Viajam para o Uruguai.
O foco logo se fecha em Cuervo, Nene
e Angel, confinados em seu novo esconderijo, e as transações
ilegais se tornam mero pano de fundo. As relações e as reações
humanas são levadas ao limite quando envolvidos amor e dinheiro.
Angel passa por uma forte crise envolvendo
culpa, tanto pelo crime e pelo relacionamento homossexual. Nene dispersa,
acaba se envolvendo com uma prostituta que se apaixona e se diz disposta
a tudo por ele, que continua apaixonado por seu parceiro de cama e de delinqüência.
O filme tem fotografia um tanto escura
e bem amarelada, às vezes tendendo ao vermelho, fazendo alusão
aos filmes 'noir', mas um 'noir' latino, quente! No entanto a narrativa
foge não tenta ir pelo mesmo caminho pois parte de vários
pontos de vista.
Quando o assunto é continuidade
o filme dá algumas derrapadas bem visíveis:
1 - O penhoar de Cuervo aberto, escancarado
em um plano enquanto ele dança um 'twist' e no outro plano totalmente
fechado...
2 - Giselle serve uma bebida no copo
de Nene, ele leva o copo à boca, em seguida, no contra-plano, ela
está ainda colocando líquido no copo...
A direção de arte também
sofrerá com minha implicância: Cuervo, Nene e Angel,
tentam acalmar os ânimos depois de muito tempo trancafiados no esconderijo.
Vão à praia. Num plano geral a, está extensa e vazia,
e existe apenas um foco de 'agitação'. Quando eles se aproximam
desse foco, lá estão vários banhistas caracterizados
com exagero à lá anos 50 (o filme não se passa em
65?), dançando ‘twist’ num ‘quiosque’, fica muito inverossímil,
me incomodou e carga dramática da cena foi para o 'beleléu'!
O destaque do filme são as
atuações de Leonardo Sbaraglia (Nene), de Eduardo Noriega
(Angel) e de Letícia Brédice (Gisselle). Eduardo Noriega
também protagoniza Abre los Ojos, de Alejandro Amenábar (diretor
de Os Outros), que está sendo refilmado nos EUA, com direção
de Cameron Crowe, com Tom Cruise fazendo seu papel.
Uma seqüência de montagem
paralela chama muito a atenção: Enquanto Nene, em sua dispersão,
faz sexo oral em um outro homem, no banheiro de um parque de diversões,
Angel entra em uma igreja e se ajoelha diante de uma imagem do Cristo crucificado.
Expõe bem os ânimos dos dois personagens neste momento.
No ritmo
de um tango
por Angélica
Bito
É fato que os filmes de nossos
vizinhos argentinos são sucesso por aqui. O ótimo "Nove
Rainhas" só confirma a teoria: ficou em cartaz por quatro meses
em São Paulo e levou mais de 70 mil espectadores para o cinema.
E não é à toa: os filmes latinos em geral - também
inclua nessa leva os mexicanos "E Sua Mãe
Também" e "Amores Brutos" -
estão dando de dez a zero em muitos blockbusters americanos que,
como sempre, ocupam grande parte dos cinemas brasileiros. "Plata Quemada"
entrou em circuito muito restrito - apenas três salas, no máximo,
em São Paulo, o que é uma pena, pois é um filmaço.
Trata-se da história verídica
que aconteceu na Argentina em 1965. Angel (Eduardo Noriega) e Nene (Leonardo
Sbaraglia, de A Espinha do Diabo), também conhecidos como 'Os Gêmeos',
são parceiros no crime e na cama. Contratados para assaltar um carro-forte,
juntam-se a Cuervo (Pablo Echarri), mas a operação dá
errada. Deixam um rastro de sangue no caminho: dois guardas mortos e Angel
ferido. O bando é, então perseguido pela polícia argentina
e, para não ser preso, parte para o Uruguai, e é lá
que as coisas mudam. Angel, recuperado do tiro que levara na operação,
passa a ser mais atormentado pelas vozes dentro de sua cabeça, que
condenam o amor por Nene. Por isso, afasta-se cada vez mais do amante.
Nene, por sua vez, acaba envolvendo-se com uma prostituta (Letícia
Bredice, de "Nove Rainhas"), mas não esquece do amor quase que fraternal
que ainda nutre por Angel. Tudo vai bem até que o esconderijo deles
é descoberto pela polícia e capturá-los vira caso
de honra às autoridades argentinas.
"Plata Quemada" é muito
mais do que simplesmente uma versão gay da história de Bonnie
e Clyde. É, principalmente, a história de um amor forte entre
duas pessoas, ligadas profundamente por esse sentimento, e também
pelo crime. A
realização do amor
entre Nene e Angel não é simplesmente carnal. Tanto que Nene,
sentindo falta do sexo, negado por Angel temendo as vozes em sua cabeça,
sai à procura de outra pessoa - homem ou mulher, tanto faz, já
que,
neste caso, é só sexo.
Uma terceira pessoa, o narrador, ressalta as fraquezas e contradições
de cada personagem.
O filme é conduzido ao ritmo
do tango genuinamente argentino, da abertura à cena final - sensual,
forte e contundente.
Plata Quemada
(Argentina, 2000)
125 min.
Ø Vencedor
do Goya – Melhor Filme Estrangeiro em Língua espanhola
Ø Prêmio
de Melhor Fotografia – Festival Internacional de Havana 2000
Direção:
Marcelo Piñeyro
Roteiro: Marcelo
Figueras, Marcelo Piñeyro, Ricardo Piglia
Elenco: Eduardo
Noriega (II) (Angel), Leonardo Sbaraglia (El Nene), Pablo Echarri (El Cuervo),
Leticia Brédice (Giselle), Ricardo Bartis (Fontana), Dolores Fonzi
(Vivi), Carlos Roffé (Nando), Héctor Alterio (Losardo)
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