Italiano
para Principiantes
por
Marcelo Silva Costa
Italiano para Principiantes
é o 12º filme do movimento "Dogma 95" e o quinto a chegar no
Brasil (a saber, os outros foram: "Os Idiotas", "Festa de Família",
"Mifune" e "O Rei Está Vivo"). O movimento Dogma 95 é um
decálogo em que, em dez mandamentos, alguns diretores (Lars Von
Trier, Thomas Vinterberg, entre outros) ditam algumas regras para se fazer
cinema. Ou para se voltar a fazer cinema. Uma olhadela no decálogo
(no fim do texto) e percebemos que, mais do que qualquer coisa, o Dogma
95 é uma volta a simplicidade cinematográfica.
É lógico que para funcionar
como manifesto, Dogma 95 teria de chamar a atenção do público/crítica
para uma nova/velha forma de se ver cinema. A atitude, claro, veio embalada
nos radicais primeiros filmes do movimento. Atitude aliada a marketing,
estamos no século XXI, baby.
A radicalização imposta
aos primeiros filmes não existe em "Italiano para Principiantes"
("Italienski for Begyndere" - 2000), e isso é totalmente positivo.
Lone Scherfig, a diretora, usa dos dez mandamentos do movimento para criar
uma comédia romântica leve, bem-humorada e de happy end.
Uma jovem cabelereira (Karen), um
grosseiro ex-jogador de futebol (Halvfinn), uma desastrada confeiteira
(Olympia), um pastor perdido espiritualmente (Andreas), um recepcionista
de hotel (Jorgen) e uma cozinheira italiana (Giulia) tem seus destinos
cruzados em uma aula de italiano promovida pela prefeitura da cidade. A
aula, gratuita, é uma saída que cada uma dessas pessoas comuns
encontraram para fugir do marasmo da vida solitária que levam. A
história se passa em Copenhague, na Dinarmaca, e a imagem de uma
Itália romântica (o desfecho acontece em Veneza) seduz o grupo
de alunos.
Cada personagem carrega, sobre os
ombros, uma série de problemas, totalmente humanos, desses que eu
ou você poderíamos ter. Essa fraqueza pessoal gera uma visível
insegurança. Assim, uma mãe alcoólatra, um homem impotente,
uma mulher desastrada, pessoas comuns sofrendo problemas comuns, acabam
tornando infeliz a vida de cada membro desse grupo.
E nessa simplicidade de roteiro, Scherfig
leva o espectador a passear com os personagens nessa história intimista,
entre o dolorido e o divertido. Funciona como conto de fadas moderno, onde
o bailar em Veneza é o toque da fada-madrinha sobre os ombros dos
personagens. Funciona como comédia romântica leve que envolve
o espectador ganhando sorrisos ao final. E, principalmente, mostra que
o movimento Dogma 95 não é tão cheio de arestas como
se pregava. E, é bom variar encontros românticos com socos
e pontátes, convenhamos.
Lone Scherfig foi a primeira mulher
a realizar uma filme seguindo o Dogma 95. Sua obra ganhou o Urso de Prata
em Berlin/2001. E, dos dez preceitos do movimento, só quebrou um,
talvez, o mais importante no quesito "punk" da história: o décimo.
Mas ela deve ser perdoada. O filme vale esse perdão.
Dogma 95
- Decálogo
1) Filmar em locações,
sem cenários artificiais
2) Utilizar somente som direto e
sem trilha sonora
3) Usar câmera na mão
ou ombro
4) Filmar em cores e sem iluminação
artificial
5) Trucagens e filtros são
proibidos
6) Não utilizar nenhuma ação
superficial (assassinatos, armas etc.)
7) Referências temporais e
geográficas ficam proibidas
8) Os filmes de gênero são
inaceitáveis
9) O formato deve ser 35mm
10) O diretor não deve ser
creditado.
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