Um tremendo
"filmãozinho".
por
hugo
Juro
que eu queria gostar deste filme ... É sério, queria mesmo
... Mas não dá! Quero dizer: é legal ver alguém
(um ator, banda, ou escritor) que você "descobriu" quando era desconhecido
(que foi o caso de Russell Crowe em L.A. - A Cidade Proibida), ser levado
a sério.
É legal você ver caras
como Ridley Scott e Oliver Reed, que têm mais passado do que presente,
tentarem dar a volta por cima (infelizmente este último não
conseguiu sobreviver ao alcoolismo e acabou morrendo durante as filmagens).
É legal você ver alguém que não precisa se arriscar
em mais nada (que é o caso do Spielberg), se arriscar a investir
o seu dinheiro e prestígio em algo tão fora de moda quanto
um filme de gladiadores.
Sim, e é legal você ver
a imprensa elogiar o resultado de tudo isso. Você até chega
a pensar que está diante de um filmão, não é?
Mas não ... Gladiador é apenas um "filmãozinho". É
Joaquin Phoenix cercado de nada por todos os lados! É verdade que
a sua tarefa foi facilitada por ser Commodus o único personagem
mais complexo (exceto por Lucilla, uma "mocinha" mesquinha e covarde, todos
os outros são tão profundos quanto um pires de chá),
mas é verdade também que a sua interpretação
está longe de ser comum.
Será possível sentir
alguma compaixão e compreensão por alguém que assassina
o próprio pai e ameaça de morte o resto de sua família;
que mente e trapaceia da forma mais mesquinha; que assedia sexualmente
a própria irmã e o sobrinho e que chacina (às vezes,
pessoalmente) inocentes? Sim ... por alguns momentos, graças à
Mr. Phoenix, sim. Sim, da mesma forma que quando o Agente Smith, de Matrix,
expõe todo o seu ódio (bem humano, aliás) pela raça
humana e o explica, você se surpreende concordando com ele; aqui
é possível entender Commodus.
Ok, mas não quero ser injusto.
Há um momento em que Maximus mostra a sua força e chega a
impressionar. É na seqüência da sua estréia na
arena do Coliseum, na reconstituição da batalha contra os
cartageneses. Ali, a forma com que ele consegue organizar um bando de gladiadores
desconhecidos, desesperados e descrentes em segundos, e a forma como ele
impõe a sua autoridade a eles, levando-os a uma vitória impossível,
é realmente empolgante. Se toda a força e dramaticidade desta
seqüência fosse mantida durante todo o resto do filme, teríamos
realmente um épico. Mas, não ... parece que tiveram medo
de dar ênfase a um sentimento tão pouco nobre para um herói,
quanto a vingança, não é? Será por acaso que
ele só consegue o seu objetivo na absurda seqüência final,
contando com o "álibi" de legítima defesa?
E quanto aos efeitos especiais (outro
"destaque" do filme) ... Bem, a reconstituição de Roma e
do Coliseum são ok, mas nada mais do que se poderia esperar quando
falamos em orçamentos de dezenas de milhões de dólares,
não é? Aliás, um conselho: se alguém lhe recomendar
um filme devido às suas belas imagens, prefira rever o álbum
de fotos da sua família, pois com certeza você se divertirá
mais ... Ah, e a seqüência dos tigres não funcionou,
sinto muito. Talvez fosse melhor usarem só "animais" gerados por
computador (já deu certo - e muito - em Jumanji), pois a mistura
de tigres reais com os "virtuais" ficou constrangedora. Os reais eram todos
velhos e gordos, tanto que em contraste com os "virtuais" de pelagem mais
viçosa e mais selvagens, estes pareciam mais "reais" do que os reais
...
E a batalha inicial, contra os bárbaros,
dá o que pensar ... Se aquela foi uma batalha típica dos
Romanos contra eles, como será que os bárbaros chegaram a
ser uma ameaça real ao Império Romano? Hilárias, aquelas
"flechas flamejantes cortando os céus". Lembraram-me os mísseis
"Patriots" atacando os iraquianos em um noticiário qualquer da CNN.
Tá, tudo bem, talvez eu esteja
ficando chato e ranzinza, mas como será que Hollywood vai retratar
a guerra do Vietnã, por exemplo, daqui a alguns anos?
hugo
( hugolt@hotmail.com ) colabora
com este zine e morre de dó, mas nem liga. |