"Dia
de Treinamento"
Por
Marcelo Silva Costa
Nada substitui um bom ator. Você
pode fazer um filme maravilhoso, de roteiro sensacional e idéias
geniais, mas se não tiver alguém que represente bem, ali,
em frente a câmera, a margem de erro é enorme. O contrario
também pode acontecer. É quando você pega atores sensacionais
e os joga em uma história pífia, e eles salvam a obra.
Jack Nicholson e Helen Hunt transformaram
"Melhor é Impossível", uma banal comédia romântica,
em um filme imperdível (não a toa, ambos levaram Oscar pela
atuação). Isabelle Huppert e Benoit Magimel desenvolvem de
maneira sensacional seus papeis no dispensável "A professora de
piano".
E para se juntar a estes citados,
e outros, temos a dupla Ethan Hawke e Denzel Washington, neste fraco "Dia
de treinamento". Ambos foram indicados ao Oscar pela atuação
(Ethan como coadjuvante e Denzel como principal). Há um q de merecimento
nas indicações, mas nada que estes atores não fizeram
ou venham a fazer melhor.
Ethan é Jake Hyot, um policial
novato que irá enfrentar um dia de treinamento com um dos detetives
mais condecorados do Departamento de Polícia de Los Angeles. Jake
é inocente e sonhador. Não conhece nada das ruas e acredita
na ética policial. Pai de uma menina recém-nascida, Jake
é o estereotipo perfeito do bom moço. Você o vê
na tela e já sabe que a família em casa pesará em
sua consciência durante o serviço. Básico.
Alonzo Harris (Denzel), por sua vez,
conhece toda malandragem das ruas. Dita regras que não estão
nos manuais de conduta da policia, mas, sim, nos manuais de conduta de
sobrevivência nos becos. Oficial veterano da divisão de narcóticos,
com várias condecorações por atos de bravura, Alonzo
trafega na linha tênue que separa a legalidade da corrupção.
Ok, temos dois personagens contraditórios.
O jovem é inocente e acredita em seu distintivo. O "professor" é
experiente e acredita em porradas, tiros e porcentagem de grana apreendida
em serviço. O choque dos dois personagens tenta dar brilho ao filme
e, por vezes, consegue. Mas no geral descamba para a briga eterna do bem
contra o mal, cheia de clichês, chavões e redundâncias.
E claro, você já sabe como acaba.
O que acaba sendo mais interessante
no filme são as participações especiais de "descolados".
Assim, Macy Gray de esposa de traficante com unhas rosas enormes, Snoop
Dogg de cadeira de rodas vendendo papelotes e Dr. Dre de policial especial,
acabam sendo um atrativo curioso em um filme que de especial só
tem os atores.
|