Maratona
Divertida
por
Marcelo Silva Costa
O cinema, assim como o mundo, é
cheio de frases feitas que acabam tornando-se regras não escritas.
Existem muitas por aí, e uma delas diz que enquanto o cinema americano
é divertido e despretensioso, o europeu é sério e
artístico. Num exemplo direto, o cinema americano é
Cidade dos Anjos e o europeu é Asas do Desejo.
Existe muita verdade aqui, como também
existe muita balela. Mas o mais interessante nessa discussão de
regras são suas exceções. Nesse item, Corra, Lola,
Corra (Lola Rennt), do alemão Tom Tykwer, é o filme mais
americano que um europeu fez nos últimos anos, e que agora ganha
edição em vídeo/dvd. É, sobretudo, uma sublime
exceção.
Tá, não tão americano
assim. Apenas divertido e desencanado. E faz pensar, uau. A história
é inverossímil. Lola – a maratonista de cabelos vermelhos,
tatuagens e insegurança no coração – tem 20 minutos
para arrumar 100.000 marcos, fortuna que seu namorado, Mani, perdeu e que,
lógico, não era dele e sim de uma turma barra pesada.
Do momento em que desliga o telefone
e inicia sua corrida em busca do dinheiro, Lola também inicia uma
corrida em direção ao destino. E o destino, mostra o filme,
tem várias faces. Na prática, a teoria pode mudar, o que
é totalmente defensável. Mas é só isso ? Não,
não é. Movido a uma trilha sonora encharcada de tecno (que
faz o filme parecer um longo clip), inserções de trechos
em animação e muitas passagens geniais, "Corra, Lola, Corra"
é prova de que a simplicidade é um dos melhores caminhos
para um grande filme. E traz de volta aquela maldita obsessão pelo
detalhe.
São esses detalhes que deixam
sorriso no rosto de quem assiste e vê o destino em formas variadas,
não só para Lola, mas também para algumas pessoas
que cruzam seu caminho. É uma pequena aula de como usar a inteligência
e fazer de um argumento idiota, um grande filme. Franka Potente,
como Lola, e Moritz Bleibreu, como Mani, formam um belíssimo
casal de fim dos anos 90, cheios de dúvidas, mas apaixonados.
No fim, fica o prazer de se presenciar
um filme genial. Isso nos faz feliz. Triste são aqueles que se prendem
as regras e, mesmo sem ver o filme (como ouvi na locadora), dizem: "O que?
Cinema alemão? É chato!".
"Corra, Lola, Corra" não tem
um segundo chato. São oitenta e um minutos que passam voando...
como uma garota de cabelos vermelhos cruzando o seu caminho a 100 por hora,
às 11h50 da manhã. E, citando o início do filme: "A
bola é redonda. O jogo dura 90 minutos. Isso é um fato. O
resto é teoria".
Na prática, "Corra, Lola, Corra"
é um filmão. Dos bons. O resto é regra para ser quebrada.
Aproveite a oportunidade.
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